MPF instaura inquérito para investigar impactos de mineradora perto da Serra do Curral em comunidade quilombola

Fleurs Global teve permissão para voltar a operar após autorização de licenciamento
O novo decreto estabelece que o valor da garantia financeira será calculado com base no custo das medidas de reparação, restauração e recuperação do meio ambiente degradado. Foto: Adão de Souza/PBH
A comunidade quilombola, localizada no bairro Santa Efigênia, na capital mineira, alega não ter sido consultada sobre a implantação do projeto minerário. Foto: Adão de Souza/PBH

O Ministério Público Federal (MPF) instaurou, nesta terça-feira (3), um inquérito civil para apurar possíveis violações aos direitos da Comunidade Quilombola Manzo Nzungo Kaiango, em Belo Horizonte, relacionadas à implementação do empreendimento minerário da Fleurs Global Mineração, nas proximidades da Serra do Curral. A decisão foi tomada após a aprovação da Licença de Operação Corretiva da empresa pelo Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam) de Minas Gerais, em 26 de julho.

Na portaria de instauração do inquérito, o procurador da República Edmundo Antonio Dias Netto Junior, responsável pelo caso, destaca que o empreendimento é classificado como de grande porte e grande potencial poluidor, resultando em um empreendimento de classe 6, considerada a de maior impacto ambiental.

A comunidade quilombola, localizada no bairro Santa Efigênia, na capital mineira, alega não ter sido consultada sobre a implantação do projeto minerário. Makota Kidoiale, liderança do Quilombo Manzo, afirma que o empreendimento impacta diretamente as práticas religiosas e culturais da comunidade, alterando trajetos de acesso a espaços sagrados e a composição da vegetação local.

O MPF ressalta que a Convenção nº 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) prevê a obrigatoriedade de consulta prévia, livre e informada às comunidades tradicionais afetadas por empreendimentos. Além disso, a Constituição Federal garante a proteção das manifestações culturais afro-brasileiras e o patrimônio cultural imaterial.

Como parte da investigação, o procurador solicitou informações à Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Minas Gerais sobre o empreendimento da Fleurs Global Mineração e requisitou a elaboração de um estudo antropológico na comunidade quilombola.

O caso ganhou destaque após representação da deputada federal Célia Xacriabá (PSOL-MG), vice-presidente da Comissão da Amazônia e dos Povos Originários e Tradicionais da Câmara dos Deputados.

A Fleurs Global Mineração busca retomar suas atividades na região após um período de paralisação. A empresa, que atua na extração de minério de ferro, enfrentou problemas com licenciamentos anteriores e agora tenta regularizar sua situação por meio da Licença de Operação Corretiva.

O inquérito civil instaurado pelo MPF tem prazo inicial de um ano para conclusão e busca garantir o respeito aos direitos da comunidade quilombola, bem como avaliar os possíveis impactos ambientais e culturais do empreendimento minerário na região.

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