O Brasil saiu da reunião do BRICS de mãos abanando.
Os spin doctors no Itamaraty e no governo Lula conseguiram vender para a maior parte da imprensa a ideia de que o grande sucesso brasileiro no encontro foi algo que não aconteceu.
A Venezuela não foi admitida na nova categoria de países parceiros, então isso foi uma vitória para o Brasil.
É uma tremenda bobagem.
Publicamente, o Brasil não apoiava o nome de mais ninguém no clube. Em coletiva de imprensa no Itamaraty na segunda retrasada (14), o embaixador Eduardo Saboia disse que em vez disso o Brasil defendia “critérios” para a inclusão de nomes, como distribuição geográfica equitativa e boas relações com os demais membros do bloco. Também seria necessário o apoio a uma reforma no Conselho de Segurança da ONU.
A declaração final da cúpula de Kazan recicla um tipo de texto já muito usado em outras reuniões: os signatários apoiam “as aspirações legítimas” de países emergentes por um “papel maior” no Conselho de Segurança – sem citar especificamente o Brasil ou aquilo que ele quer, um assento permanente. Esse tipo de texto aparece em reuniões com a China, que até hoje nunca defendeu um nome específico para um assento extra no Conselho – ao contrário da Rússia (que apoia o Brasil e a Índia) e da Índia (que apoia e é apoiada mutuamente pelo Brasil no chamado G4).
Nisso, portanto, não houve novidade.
A declaração final defende “a soberania e integridade territorial da Síria”, mas obviamente não faz o mesmo pela Ucrânia. Como O Fator mostrou, o Brasil abandonou sua defesa da integridade da Ucrânia em favor de se juntar à China e normalizar a presença de tropas russas na Ucrânia.
Mesmo assim, essa proposta sino-brasileira não é citada na declaração de Kazan.
O Brasil é citado no documento sete vezes de forma protocolar, pela presidência de grupos como o G20 neste ano e do BRICS em 2025. A Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, iniciativa do governo Lula, também é citada, mas dentro do parágrafo sob a presidência brasileira do G20.
Outra agenda do governo Lula, a reforma do sistema financeiro internacional e a criação de instrumentos para os membros dos BRICS efetuarem mais comércio sem o dólar, é citada também, mas avançou pouco.
A verdade é que todo o papo de “Venezuela não entrou” é para disfarçar como o Brasil não levou nada.
O BRIC (que depois virou BRICS com a entrada da África do Sul) era inicialmente um clube dos emergentes grandes, com uma função diferente da do G20, da qual Lula também é um entusiasta desde a cúpula de 2008. A entrada de novos membros é vantajosa para a Rússia mostrar que tem amigos e para a China liderar um time, mas o Brasil está cada vez menos prestigiado.