Eleitores americanos concluem nesta terça (5) o evento climático mais importante do mundo e a batalha mais importante da guerra da Ucrânia: a eleição presidencial, cujo resultado terá impacto decisivo nos dois assuntos.
Donald Trump deve novamente retirar os EUA do Acordo de Paris se eleito. Kamala Harris, embora tenha mudado de opinião sobre o fracking, deve continuar os esforços do governo Biden na chamada “transição energética”.
Amigo de Putin, Trump vai interromper a ajuda militar para a Ucrânia; Kamala deve continuar a apoiar Zelensky e a Otan.
Trump e Joe Biden não fizeram nenhuma visita ao Brasil como presidentes (Biden, como vice de Obama, veio ao Brasil três vezes). Mas o Brasil é muito importante para os Estados Unidos.
Confira as principais diferenças entre um novo governo Trump e um governo Kamala para Minas Gerais.
Comércio
Os Estados Unidos são o 2º principal destino das exportações de Minas. No primeiro semestre deste ano, receberam US$ 183,6 milhões em exportações mineiras, o equivalente a 9% do total – a China comprou muito mais, respondendo por 41%. Os dados são da secretaria estadual de Desenvolvimento Econômico.
Os produtos mineiros mais vendidos aos Estados Unidos foram café (US$ 664,5 milhões), ferro fundido bruto (US$ 428,7 milhões) e ferro-ligas (US$ 89,4 milhões).
As exportações mineiras no semestre passado para os EUA cresceram mais de 9% em relação aos primeiros seis meses de 2023.
Os EUA não aplicam tarifas na importação de café, mas o governo Trump impôs várias tarifas sobre aço e alumínio em 2018, e a promessa de Trump é elevar várias tarifas se eleito – especialmente sobre produtos chineses, mas não só. O governo de Joe Biden manteve várias das tarifas criadas por Trump.
Tarifas têm impactos complicados. Elas tornam o produto final mais caro para o consumidor americano. Por outro lado, elas aumentam a demanda por dólar e consequentemente contribuem para a apreciação dessa moeda, tornando as exportações americanas mais caras e portanto menos competitivas – uma oportunidade para mineiros que concorrem com os americanos em certos mercados.
Reportagem do Wall Street Journal da semana passada relembra como a guerra comercial de Trump com a China beneficiou o agro brasileiro. Com as tarifas impostas pela China em retaliação aos EUA, os chineses passaram a comprar mais soja brasileira no lugar da americana. Quanto mais Trump brigar com a China, mais a China vai buscar se aproximar de parceiros como o Brasil.
Democracia
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e Trump em tudo adotaram retóricas similares ao, sem provas, insinuarem eleições fraudadas em seus países. Na pandemia, ambos tentaram minimizar os efeitos da Covid-19. Boa parte da retórica da direita brasileira, e da mineira, imita a dos líderes e pundits da direita americana.
Se Trump voltar ao poder, aumentará a pressão para uma reabilitação de Bolsonaro e para a anistia dos golpistas do 8 de Janeiro. Trump já disse que um de seus primeiros atos se voltar à Casa Branca será perdoar os insurrecionistas do 6 de Janeiro. Kamala, por sua vez, deve adotar postura oposta.
Imigração
O governo Biden manteve a política de Trump de mandar voos de brasileiros deportados para Confins.
Nas contas do professor Gustavo Dias, da Unimontes, 7.639 brasileiros foram deportados por voos fretados dos Estados Unidos durante o governo Bolsonaro; e mais de 2.000 outros chegaram no atual governo Lula.
Esse número não inclui os que são deportados em voos comerciais, nem aqueles que voltam ao Brasil por outros estados.
Se Kamala não deve mudar fundamentalmente essa política, é certo que Trump fará de tudo para endurecê-la. Ele prometeu lançar “a maior operação de deportação na história americana”.
Comunidades mineiras que têm parentes nos EUA podem estar entre as afetadas, se Trump de fato conseguir aumentar as deportações de forma significativa, o que também não é certo que vá acontecer.
Mudanças climáticas
Um governo Trump vai acelerar a produção de combustíveis fósseis, como por meio do fracking, e remover restrições ambientais.
Um governo Kamala, embora não oposto ao fracking, vai manter os EUA no Acordo de Paris e continuar os investimentos em energia verde, a médio prazo reduzindo o custo das energias renováveis.
Independentemente do rumo a ser tomado, o tema vai gerar impactos em todo o mundo – inclusive no Brasil e em Minas Gerais.