Inexperiência da Direção Nacional do Novo é problema para Zema

Episódio de segunda-feira, com governador recuando de evento, indica divergências na construção de perfil para 2026
Romeu Zema trabalha por imagem de direita moderada e liberal, mas membros do Novo nacional buscam proximidade com o bolsonarismo
Zema em busca de um partido unido / Foto: Agência Minas

A reunião interna do Governo de Minas, que deu aval à participação de Romeu Zema no evento Democracia Inabalada, ocorrido no Senado Federal pelo marco de um ano dos atos violentos de 8 de janeiro de 2023, aconteceu no dia 28 de dezembro, com a presença de secretários de Estado e assessores, mas não contou com o próprio governador.

A maioria dos presentes concordou que Zema deveria participar do ato, pois se tratava de evento institucional que, hoje, sabe-se polêmico, mas talvez, em futuro breve, terá importância histórica para os posicionamentos das direitas do País: liberal e moderada.

Ocorre que a decisão tomada naquele 28 de dezembro caiu como uma bomba dentro do Novo, principalmente quando chegou aos dirigentes do diretório nacional do partido a informação de que Zema se encontrava em Brasília para o ato. A partir dali, dezenas de ligações ao governador foram realizadas, que, sempre atento às orientações de seu círculo íntimo, seguia para o evento, mesmo desconfortável. Porém, diante das inúmeras mensagens de correligionários, o governador decidiu recuar de uma vez, pois não gostaria de gerar atrito com aliados que mantém boa convivência.

Importante registrar que Zema é presidenciável em 2026. Para especialistas, a ideia de participar de um evento organizado pelo Senado e o STF, em conjunto o Governo Federal, que, queiram ou não antagoniza com importante parcela do eleitorado do governador, seria essencial para moldar Romeu Zema como liderança nacional da direita moderada, ocupando um espaço que, hoje, encontra-se vago.

O governador de Minas – e isso é fato! – jamais será o “candidato bolsonarista”, pois com a imagem de gestor conciliador, em duas eleições, sempre permitirá o surgimento de um nome mais radical. Neste sentido, as ações de Zema soariam como uma espécie de “apêndice”, ou simulacro, de Bolsonaro. Pensando em uma imagem nacional, faria mais sentido o governador manter um tom de oposição dura a Lula e ao PT, porém, se diferenciando, em parte, da beligerância tradicional do bolsonarismo.

O cálculo se baseia em pesquisas que demonstraram que o movimento extremista de 8 de janeiro de 2023 foi amplamente rejeitado pela população, independentemente do lado político. E ainda que cerca de 40% do eleitorado não compactue, em totalidade, com os ditames nem da esquerda nem da direita, esperam por um político que entenda de gestão, com experiência pública e não radical. Ou seja, alguém que resolva os problemas sem necessariamente entrar em todos os conflitos (foi baseado nesse discurso que Zema venceu em 2018 e se reelegeu em primeiro turno em 2022, contra um adversário que usou e abusou da imagem do presidente Lula).

Entretanto, o diretório nacional do Partido Novo, até aqui, parece não compreender a leitura – o que pode ter relação direta com os maus desempenhos eleitorais do partido, Brasil afora. Nas disputas majoritárias de 2018 e 2022, apenas em MG o partido conseguiu vencer. Mas não só: com exceção de Zema, o melhor resultado alcançado foi do ex-deputado federal Paulo Ganime, no Rio, que obteve meros 7% dos votos.

Para especialistas, o fato está diretamente ligado à falta de estratégia do partido, que permanece com a maioria de seus quadros sem experiência política e em campanhas eleitorais. O caminho escolhido, de simples apêndice do bolsonarismo, já demonstrou seu esgotamento, e poderá ser o maior limitante para Zema em 2026, o que deverá pesar em uma possível troca partidária, caso realmente decida se candidatar à Presidência da República.

Fato é que há grande distância de pensamento entre os grupos estadual e nacional do Partido Novo. Para alguns, a legenda ainda não entendeu que Zema é seu maior ativo, e o único caminho para que o partido não encolha ainda mais. Neste contexto, qualquer outra agremiação estaria trabalhando com afinco para facilitar a trajetória do presidenciável, e não o contrário, como restou evidente no imbróglio desta semana.

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