A Polícia Federal publicou nesta quinta (21) a lista dos 37 indiciados em seu relatório final sobre uma tentativa de golpe no Brasil.
Cabe ao Ministério Público decidir se oferece ou não denúncias para cada indiciado. Além disso, cabe ao STF decidir se acolhe as denúncias, isso se elas vierem – vai depender se Paulo Gonet vai trabalhar ou não. Ao acolher a denúncia, a Justiça transforma o denunciado em réu – ele ainda pode ser absolvido.
Entre os 37 indiciados estão Valdemar Costa Neto, presidente do Partido Liberal; o blogueiro argentino Fernando Cerimedo; e o engenheiro Carlos Rocha, presidente do Instituto Voto Legal.
O relatório da PF com a descrição das condutas deles ainda não foi publicado. Mas é fato que esses três participaram do questionamento do resultado da eleição presidencial de 2022 com base na tese falsa segundo a qual apenas as urnas eletrônicas mais novas seriam auditáveis.
Como presidente do PL, Valdemar autorizou a petição assinada em 22 de novembro daquele ano e enviada ao TSE para cancelar mais de 67 milhões de votos, dando assim a vitória a Bolsonaro.
O TSE rechaçou a petição e aplicou multa de R$ 22,9 milhões ao PL por litigância de má-fé.
Além de apresentar petição sem provas do que alegava, o PL questionou apenas os votos na eleição presidencial, aceitando completamente os resultados da eleição para governadores, senadores, assembleias e o Congresso.
Essa petição do PL cita a famosa “auditoria” do Instituto Voto Legal, contratado pelo próprio partido.
A tese era completamente descabida desde o princípio.
As urnas eletrônicas, assim como os computadores, celulares e videogames, são produzidas em diferentes gerações. Em cada eleição, urnas de diferentes gerações convivem. Os lotes mais velhos são aposentados gradualmente, sendo substituídos por urnas mais novas. Por exemplo: as primeiras urnas não exibiam fotos coloridas dos candidatos.
No entendimento do PL, valeriam na eleição para presidente apenas as urnas mais novas, e não as velhas.
As urnas mais novas, modelo 2020, foram contratadas ainda na gestão de Luís Roberto Barroso, um dos maiores alvos do bolsonarismo de internet. Apesar do nome, a urna 2020 estreou na eleição de 2022. Ela é imediatamente reconhecível por seu formato diferente, com a tela acima do teclado em vez de ao lado dele.
Ou seja; na teoria da conspiração bolsonarista, Barroso comprou exatamente as urnas que funcionavam adequadamente e dariam vitória a Bolsonaro.
Um dos maiores propagandistas dessa tese foi o blogueiro argentino Fernando Cerimedo. Cerimedo, como O Fator relembrou, participou por videoconferência de audiência pública no Senado no fim de 2022 chamada para “discutir” a eleição, que já havia acabado.
“O que o Sr. Moraes quer esconder?”, disse Cerimedo aos parlamentares bolsonaristas reunidos.
“Acordem! O Brasil está adormecido. Vocês estão inertes diante da oportunidade de salvar o país ou jogá-lo em desgraça”, concluiu o argentino. “O único supremo é o povo”.
Nessa mesma audiência, a então deputada federal Aline Sleutjes (Pros-PR) disse que era preciso “agir rápido” para “as Forças Armadas fazerem a parte delas” a respeito da diplomação de Lula, que ocorreria dali a 11 dias.
A assessoria de imprensa do PL disse a O Fator que Valdemar não vai se pronunciar, e encaminhou nota do senador Rogério Marinho (PL-RN), líder da Oposição na casa e secretário-geral do partido.
Para Marinho, o indiciamento de Bolsonaro e dos outros “representa sequência a processo de incessante perseguição política”.
Fernando Cerimedo e Carlos Rocha não responderam aos nossos e-mails.