A vida é um sopro frágil e poderoso ao mesmo tempo. Entrei no CTI Neonatal pela primeira vez sem imaginar que aquele ambiente, repleto de máquinas, alarmes e pequenos guerreiros lutando pela sobrevivência, me ensinaria tanto sobre humildade, fé e amor. Vi bebês que cabiam na palma da mão, prematuros que mal haviam chegado ao mundo e já enfrentavam batalhas inimagináveis. Pequenos corações que batiam em ritmos incertos, pulmões que precisavam de ajuda para se expandirem, vidas que desafiavam a lógica médica com uma força inacreditável.
Ao lado dessas pequenas vidas, estavam pais e mães, tão frágeis quanto os filhos, mas com um amor inabalável. Vi nos olhos deles o medo, a incerteza e a dor de não poder segurar seus bebês no colo como haviam sonhado. O choro silencioso nos corredores, as preces murmuradas, o olhar perdido diante de diagnósticos difíceis. Mas também testemunhei a fé se fortalecendo a cada batimento cardíaco estável, a cada respiração conquistada sem a ajuda dos aparelhos. O amor nesses corredores era palpável, transcendia o tempo e a ciência.
Entre incubadoras e monitores, havia um exército de profissionais que não mediam esforços para salvar aquelas vidas. Médicos, enfermeiros e técnicos que, com mãos firmes e corações gigantes, dedicavam dias e noites a cuidar dos pequenos pacientes. O CTI Neonatal não era apenas um campo de batalha contra a morte, mas um refúgio de esperança. Cada bebê que ganhava peso, que conseguia respirar sozinho, que finalmente ia para o colo da mãe, era uma vitória celebrada por todos.
Mas a vida e a morte caminham lado a lado nesses corredores. Um dia fui buscar um registro de nascimento e, na mesma fila, um pai aguardava o atestado de óbito do filho. A alegria e o luto se cruzando na burocracia fria de um papel, um choque de realidades que me fez entender o quanto somos pequenos diante do destino. Em outro momento, vi uma mãe que lutou tanto para ter sua filha, que nasceu prematura, frágil, vencendo todos os desafios em quase quatro meses de internação, e quando finalmente levou seu bebê para casa, ela própria faleceu dias depois. A ironia da vida, cruel e inexplicável, desafiava qualquer lógica emocional.
Saí daquele lugar transformado. Aprendi que a vida não se mede pelo tempo, mas pela intensidade do amor que colocamos nela. O CTI Neonatal me ensinou humildade, mostrou o valor de cada respiração e de cada batida do coração. Descobri que preservar a vida, lutar por ela, não é apenas um ato médico, mas um compromisso humano. E, acima de tudo, aprendi que, mesmo diante da incerteza, o amor sempre será a força mais poderosa que existe.