CGU estende sigilo sobre edital do ‘fracking’

Decisão impede recurso à Casa Civil, estendendo por mais dois meses segredo sobre proposta de empresa de BH para Morada Nova
Poço de gás natural em Minas
Poço em Morada Nova de Minas, em foto de 2010: 'fracking' debaixo do solo e dos panos. Foto: Wellington Pedro/Imprensa MG

A CGU prorrogou nesta terça (11) o prazo para julgamento de um pedido de informações de O Fator sobre o edital do ‘fracking’, na prática estendendo o sigilo do processo por mais dois meses.

No fim de 2022 o Ministério de Minas e Energia lançou o Edital Poço Transparente para receber propostas de ‘fracking’ no Brasil. O edital ficou aberto por dois anos e o prazo se encerrou em dezembro de 2024.

Como O Fator revelou na semana passada, o edital recebeu uma única proposta: a exploração de um poço em Morada Nova de Minas, no centro do estado, pela Cemes Petróleo, sediada em BH. A Cemes e a Codemig são sócias do bloco SF-T-132, na bacia do São Francisco, objeto da proposta.

A quantidade e a relação de propostas enviadas para o edital foram guardadas a sete chaves pelo ministério, que não respondeu a vários e-mails e mensagens de O Fator.

A reportagem recorreu à Lei de Acesso à Informação (LAI) no fim de dezembro para descobrir as propostas enviadas. O MME se recusou a responder duas vezes seguidas. Após o recurso em 3ª instância, à CGU, o ministério finalmente cedeu e informou na semana passada a quantidade de propostas enviadas (uma), sem identificar a autora.

Essa resposta foi enviada por e-mail, sem habilitar no sistema da LAI a oportunidade para a reportagem recorrer à 4ª e última instância: a Comissão Mista de Reavaliação de Informações (CMRI), chefiada pela Casa Civil.

Com a manobra da CGU realizada hoje, a reportagem fica impedida de recorrer à CMRI pelos próximos dois meses, até o prazo do julgamento do recurso se esgotar.

“Informamos que o prazo para julgamento do recurso apresentado à CGU (…) foi prorrogado até 13/03/2025, a fim de viabilizar a conclusão da análise diante da complexidade da matéria”, diz a mensagem da CGU.

Na quarta passada (5), por telefone, um representante da Cemes confirmou a O Fator que a empresa foi a autora da única proposta do edital.

Em e-mail enviado depois da publicação de nossa reportagem, a Cemes disse que “vamos aguardar até que o projeto seja validado e oficialmente habilitado pela MME, antes disso não haverá divulgação dos detalhes”.

Um artigo do Edital Poço Transparente deixa claro: “Todos os documentos referentes à participação neste processo são públicos”.

O ‘fracking’, que deixou um rastro de danos ambientais e à saúde nos Estados Unidos, é proibido por leis estaduais no Paraná e em Santa Catarina. Na Assembleia Legislativa de Minas Gerais existe um projeto de lei para fazer o mesmo, e na Câmara há um projeto para proibir a prática nacionalmente.

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