A escola de samba Canto da Alvorada, campeã da Primeira Divisão dos desfiles das escolas de samba de Belo Horizonte, apostou em um caminho incomum na folia da cidade: a agremiação optou por não produzir um samba de enredo inédito, depositando fichas na releitura de “Kizomba, festa da raça”, apresentado pela Vila Isabel, no Rio de Janeiro (RJ), em 1988. Na Marquês de Sapucaí, o tema também rendeu taça.
O argumento do enredo, de autoria de Martinho da Vila, rendeu um famoso samba composto por Luiz Carlos, Jonas e Rodolpho. A canção é conhecida pelos versos “Valeu, Zumbi!/ O grito forte dos Palmares/ Que correu terras, céus e mares/ Influenciando a abolição”.
O desfile do Canto da Alvorada, assim como o da Vila Isabel em 1988, faz um passeio pelo papel dos negros em diferentes aspectos da cultura mundo afora. A palavra “Kizomba” foi escolhida para intitular o enredo porque significa “encontro de pessoas que se identificam numa festa de confraternização”. O termo é oriundo do Kimbundo, uma das línguas originárias de Angola.
“A nossa Kizomba conclama uma meditação sobre a influência negra da cultura universal, a situação do negro no mundo, a abolição da escravatura, a reafirmação de ZUMBI DOS PALMARES como símbolo de liberdade do Brasil. Informa-se sobre líderes revolucionários e pacifistas de outros países, conduza-se a uma reflexão sobre a participação do negro na sociedade brasileira, suas ansiedades, sua religião e protesta-se contra a discriminação racial no Brasil e manifesta-se contra a apartheid na África do Sul, ao mesmo tempo que come-se, bebe-se, dança-se e reza-se, porque, acima de tudo Kizomba é uma festa, a festa da raça Negra”, escreveu Martinho da Vila em 1987, quando a Vila Isabel anunciou o enredo para o ano seguinte.
Na apuração do carnaval belo-horizontino, realizada nessa quinta-feira (6), o Canto da Alvorada ficou com 179,9 pontos. A Acadêmicos de Venda Nova, que somou 179,3 pontos e foi agraciada com o vice-campeonato, apresentou o enredo “Vozes do Navio Negreiro”. A medalha de bronze foi para a Estrela do Vale, do Barreiro, que homenageou a cantora Elis Regina.
Feita no Rio de Janeiro, a regravação mineira do samba de enredo de “Kizomba” teve a participação de Wantuir, um dos mais famosos intérpretes das escolas cariocas. Belo-horizontino de nascimento, ele é ídolo de torcidas de agremiações como Grande Rio, Unidos da Tijuca e Portela. Ele gravou a faixa ao lado de Nonato, que compõe o carro de som do Canto da Alvorada.