Acompanho a política brasileira de perto desde 1990, especialmente após 1994, quando o Plano Real mudou definitivamente os péssimos rumos do País.
Em 1999, mudei-me de Belo Horizonte para São Paulo e, por dever profissional, passei a frequentar câmaras setoriais na FIESP (Federação das Indústrias de São Paulo). A partir de então, não me descolei mais do debate político nacional.
Por causa disso, longe de ser minimamente um especialista, muito pelo contrário, posso assegurar, com absoluta certeza, que jamais vi, ao menos nestas pouco mais de três décadas, um Presidente da República tão francamente nocivo ao País quanto Jair Bolsonaro, o ex-verdugo do Planalto.
PRESIDENTES
José Sarney – para mim, o pior político vivo do Brasil – foi o responsável direto por crises financeiras monumentais, além de pai, mãe, avô, tio e padrinho do que hoje conhecemos como Centrão. Este senhor poderia ser considerado o político mais fisiologista da história brasileira, mas ainda assim não faria jus a todo o mal que deixou como herança.
Fernando Collor, um aspirante a tirano, simplesmente confiscou o dinheiro da população e das empresas, imaginem as senhoras e os senhores. Corrupto como poucos, autoritário como muitos, ouso dizer: um verdadeiro psicopata! E apesar de condenado à prisão recentemente, continua transitando livre, leve e solto pelos palácios da capital.
LULOPETISMO
Lula dispensa comentários. Foi o precursor do odiento “nós x eles” que levou o País à cisão atual. Protagonista inconteste do mensalão e do petrolão, encontrou merecidamente as grades, sendo socorrido, oportunamente, por decisões absurdas no STF (Supremo Tribunal Federal), que anularam suas penas sem jamais, contudo, absolvê-lo de nada, como falsamente gosta de alardear. A despeito de ser, talvez, o “maior político da história da República” (não pelos méritos, mas pela trajetória), me merece o pior dos sentimentos.
Dilma Rousseff, nossa eterna estoquista de vento, conseguiu a proeza de afundar o Brasil no maior período recessivo da história, além, é claro, permitir que se instalasse, sob seus olhos e olhares, a maior quadrilha de assalto aos cofres de uma democracia ocidental em todos os tempos. Desastre ambulante, também sob o aspecto administrativo, conseguiu superar a mediocridade dos demais. Dilma é o retrato acabado da miséria política em Banânia.
MENOS PIORES
Michel Temer, a despeito dos “quase milagres” em pouco mais de dois anos, jamais deixou de pertencer à casta do que há de mais podre na política brasileira; não à toa ter sido flagrado em conversas nada republicanas com um dos maiores ladrões do País. Aliás, hoje, estes ladrões vêm colecionando vitórias na Suprema Corte que, em pouco tempo, os transformarão em credores da sociedade, o que vale dizer: terão direito a receber o dinheiro roubado, acrescido de indenizações por danos morais.
Deixei Fernando Henrique Cardoso por último porque, entre erros (grotescos) e acertos (gigantes), foi, a meu ver, o melhor chefe do executivo federal que já conheci. É uma pena que manchou sua história “comprando” a possibilidade de reeleição, este inferno que perdura até hoje e que ajuda – e muito! – a piorar o País. FHC montou a melhor equipe econômica da nossa história, criou o Plano Real, deu início às privatizações, abriu a economia, mas falhou miseravelmente em sua sucessão, boicotando a candidatura de José Serra, abrindo espaço para a primeira eleição de Lula.
JAIR BOLSONARO
Bem, chegamos a este subproduto da espécie humana! Sim. Isso mesmo, pois alguém que debochou dos enlutados durante a pandemia do novo coronavírus, que prefere um filho morto em acidente de carro a um filho gay, que qualifica quilombolas como gado de corte, que defende tortura e ditadura militar, que ataca a ciência e a medicina, que prega o fim da democracia, que incentiva violência física e extermínio de opositores políticos, que ameaça e agride jornalistas, que ataca mulheres e homossexuais, que faz propaganda falsa de remédios e tratamentos contra a covid, que contrabandeia joias, que usa dinheiro público em benefício próprio (inclusive para “comer gente”), dentre outros feitos selvagens que não me lembro no momento, não me merece melhor qualificação.
O patriarca do clã das rachadinhas começa, finalmente, a colher os resultados de sua sanha golpista. Aliás, espero vê-lo colher, também, os resultados da política homicida de seu governo durante a pandemia. Os amigos e familiares dos mais de 700 mil mortos pela covid-19 merecem um mínimo de justiça.
PF BATE À PORTA
Nesta manhã de quinta-feira (8/2), uma operação de busca e apreensão, autorizada pela Justiça, foi ao encontro do devoto da cloroquina. Combinada com mandados de prisões preventivas contra auxiliares próximos, a operação Tempus Veritatis colheu documentos e aparelhos celulares em endereços dos investigados. Bolsonaro, claro, se diz perseguido e pede para esquecerem dele, já que saiu há mais de um ano do Poder e “já tem outro governando o País em meu lugar”.
Nananinanão, caro maníaco do tratamento precoce! A Justiça não esquece ninguém, ou melhor, não deveria. A despeito da seletividade do nosso judiciário, e a Presidência da República atual não me deixa mentir, os crimes cometidos pelo senhor – antes que prescrevam – deverão ser devidamente investigados e julgados. E se o senhor for culpado, ainda que o histórico de impunidade lhe socorra, haverá de pagar pelos crimes que cometeu.
TOXICIDADE MÁXIMA
Como escrevi no início desta longa coluna, desconheço um presidente mais nocivo ao País. E olha que a concorrência, como relatado acima, é muito mais do que forte! Ocorre que Bolsonaro, como nenhum outro, é capaz de mobilizar multidões de lunáticos (que cantam hino nacional para pneus, que enviam sinais luminosos a ETs, que fazem saudações nazistas, que marcham catatônicos diante de quartéis, pedindo golpe de Estado, jurando que é em nome da liberdade!!) e gente violenta (dois assassinatos de petistas ocorreram durante as eleições de 2022, além de espancamentos).
Além disso, Bolsonaro conseguiu corroer núcleos familiares e relações pessoais antigas, transformando em ódio virulento o que deveria ser discussão – ainda que acalorada – política. Este sujeito pertence à categoria dos populistas extremistas, que investem constantemente na separação da sociedade e no “nacionalismo” em nome de Deus, Pátria e Família, tal qual os piores regimes fascistas da história.
ENCERRO
É uma pena que a presença de um ex-presidiário na Presidência da República – que jamais foi absolvido, repita-se! – reforce as teses bolsonaristas e obscureça a realidade dos fatos, trazendo uma quase relativização dos crimes cometidos por essa gente golpista, pois faria um bem danado ao Brasil a punição exemplar de quem ousou atentar contra o Estado Democrático de Direito.
É uma pena, também, que dificilmente vejamos Bolsonaro na cadeia – ao menos pelo tempo que mereceria estar. O Brasil acostumou-se a manter impunes os poderosos, independentemente dos crimes e ideologia política. Particularmente, sinto tristeza diante das notícias de hoje, ainda que um certo regozijo me apareça, pois mostra que toda a nossa história recente nada nos ensinou. E se ensinou, esquecemos bem rápido.