Caramba, como eu gostava desse “velhinho de suspensório”

Poucos homens públicos têm a sua grandeza. Poucos pais, maridos e avós têm a sua ternura. Poucos atleticanos têm a sua paixão
Fuad Noman (1947-2025) Reprodução/Redes Sociais

Era véspera do carnaval de 2023.

Poxa, Ricardo. Por que essa crítica tão pesada e injusta?

Prefeito, não é injusta. Posso detalhar para o senhor os meus motivos.

Sim. Gostaria. Você se incomoda em trabalhar na quarta-feira de cinzas? Podemos marcar um bate-papo no meu escritório.

Claro. Qual o endereço?

Eu conhecia superficialmente o prefeito Fuad Noman. Amigos em comum, eventos políticos e sociais, e sobretudo o Galo nos aproximavam. 

Quem me conhece e me acompanha já se acostumou com “meu jeito meio estúpido de ser” ao criticar o Poder Público. Mas quem me conhece pessoalmente sabe o tamanho do meu coração e a enormidade da minha boa fé nas relações pessoais.

Políticos se aproximarem de jornalistas a fim de estabelecer uma “política de boa vizinhança” é comum e legítimo. Mas não sou jornalista. Estou jornalista! Por isso escrevo de forma tão coloquial e em desacordo com os tradicionais manuais de redação.

O que escrevo sai das entranhas, é verdade. Mas sai também do coração. Quando “bati sem dó nem piedade” em Fuad, o fiz amparado em fatos. E quando ele me procurou – o diálogo acima -, não foi por estratégia política, por “boa vizinhança”, mas porque, como meu admirador, segundo ele mesmo, ficou realmente chateado com minhas palavras, que considerou injustas.

A partir deste dia, deste encontro, desta bendita quarta-feira de cinzas, nos tornamos, senão amigos íntimos, pois não éramos, duas pessoas que gostavam verdadeiramente uma da outra, se respeitavam e se ajudavam pessoal e profissionalmente, cada uma com suas habilidades, aconselhando carinhosamente – sem qualquer tipo de interesse político ou comercial – um ao outro.  

Poucos homens públicos têm a sua grandeza. Poucos pais, maridos e avós têm a sua ternura. Poucos atleticanos têm a sua paixão.

Estive com ele antes de sua última internação. Depois me ausentei do país por três meses. 

A força e a presença de espírito que vinham daquele sujeito sempre me foram inspiradoras. Quando descobriu a doença, o aconselhei: Largue isso (a campanha), vá para São Paulo e trate de se cuidar. Ele me respondeu: “Meu tratamento é trabalhar pela cidade, vencer a eleição e deixar minha marca pessoal na vida das pessoas mais humildes.

Com os olhos cheios de lágrimas – eu e ele – simplesmente respondi: Então vá a luta e ganhe essa porra! E ele ganhou.

Caramba, como eu gostava desse “velhinho de suspensório”.

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