Era véspera do carnaval de 2023.
– Poxa, Ricardo. Por que essa crítica tão pesada e injusta?
– Prefeito, não é injusta. Posso detalhar para o senhor os meus motivos.
– Sim. Gostaria. Você se incomoda em trabalhar na quarta-feira de cinzas? Podemos marcar um bate-papo no meu escritório.
– Claro. Qual o endereço?
Eu conhecia superficialmente o prefeito Fuad Noman. Amigos em comum, eventos políticos e sociais, e sobretudo o Galo nos aproximavam.
Quem me conhece e me acompanha já se acostumou com “meu jeito meio estúpido de ser” ao criticar o Poder Público. Mas quem me conhece pessoalmente sabe o tamanho do meu coração e a enormidade da minha boa fé nas relações pessoais.
Políticos se aproximarem de jornalistas a fim de estabelecer uma “política de boa vizinhança” é comum e legítimo. Mas não sou jornalista. Estou jornalista! Por isso escrevo de forma tão coloquial e em desacordo com os tradicionais manuais de redação.
O que escrevo sai das entranhas, é verdade. Mas sai também do coração. Quando “bati sem dó nem piedade” em Fuad, o fiz amparado em fatos. E quando ele me procurou – o diálogo acima -, não foi por estratégia política, por “boa vizinhança”, mas porque, como meu admirador, segundo ele mesmo, ficou realmente chateado com minhas palavras, que considerou injustas.
A partir deste dia, deste encontro, desta bendita quarta-feira de cinzas, nos tornamos, senão amigos íntimos, pois não éramos, duas pessoas que gostavam verdadeiramente uma da outra, se respeitavam e se ajudavam pessoal e profissionalmente, cada uma com suas habilidades, aconselhando carinhosamente – sem qualquer tipo de interesse político ou comercial – um ao outro.
Poucos homens públicos têm a sua grandeza. Poucos pais, maridos e avós têm a sua ternura. Poucos atleticanos têm a sua paixão.
Estive com ele antes de sua última internação. Depois me ausentei do país por três meses.
A força e a presença de espírito que vinham daquele sujeito sempre me foram inspiradoras. Quando descobriu a doença, o aconselhei: Largue isso (a campanha), vá para São Paulo e trate de se cuidar. Ele me respondeu: “Meu tratamento é trabalhar pela cidade, vencer a eleição e deixar minha marca pessoal na vida das pessoas mais humildes.”
Com os olhos cheios de lágrimas – eu e ele – simplesmente respondi: Então vá a luta e ganhe essa porra! E ele ganhou.
Caramba, como eu gostava desse “velhinho de suspensório”.