Os partidos de Gleisi e Valdemar querem roubar o mandato de Sergio Moro. A argumentação deles não se sustenta.
Os advogados do PT argumentaram ao TRE do Paraná que “há indícios de que o INVESTIGADO [Moro] utilizou de recursos” do fundo partidário e do fundão eleitoral “para construção e projeção de sua imagem enquanto pré-candidato de um cargo eletivo no pleito de 2022, independentemente do cargo em disputa”.
Já os do PL afirmaram que “houve desequilíbrio eleitoral causado pela irregular pré-campanha” de Moro, já que “[o]s investigados orquestraram conjunto de ações para usufruir de estrutura e exposição de pré-campanha presidencial para, num segundo momento, migrar para uma disputa de menor visibilidade, menor circunscrição”. O mesmo PL de Valdemar valeu-se de uma teoria da conspiração ventilada pelo blogueiro argentino Fernando Cerimedo para tentar literalmente roubar 67 milhões de votos na eleição presidencial de 2022 com aquele golpe das “urnas velhas”.
As alegações de PT e PL são comprovadamente falsas. É público e notório que Moro cometeu várias trapalhadas no caminho para a eleição de 2022, e eleger-se senador era o último dos seus planos. Foi um acidente, um plano C.
Em outubro de 2021, Alvaro Dias disse a O Antagonista ter desistido de se candidatar de novo à Presidência para facilitar a decisão de Sergio Moro.
O próprio Alvaro Dias concorreu à reeleição como senador em 2022. Ele foi o primeiro e maior prejudicado pela candidatura de Moro; ficou em 3º lugar e saiu do Senado.
Será que Alvaro Dias não percebeu o plano infalível de Moro? Ou será que Moro simplesmente foi mudando de ideia depois de sucessivas trapalhadas?
Com pompa e circunstância, Moro se filiou ao Podemos em novembro de 2021, com óbvia intenção de se candidatar a Presidente.
No fim de março de 2022, Moro saiu do Podemos e se filiou ao diretório paulista do União Brasil, uma decisão inexplicável se ele realmente quisesse tanto ser senador pelo Paraná. No Datafolha, poucos dias antes, Moro marcava 8% das intenções de voto para presidente; o que é mais do que Ciro e Simone Tebet tiveram somados na eleição real.
Em 14 de junho de 2022, com a pré-campanha já bem avançada, Moro participou de um evento do União Brasil em Curitiba, com Luciano Bivar e a senadora Soraya Thronicke.
O que disse Moro? Quase nada. “Eu sei que tem muitas dúvidas sobre o que eu irei fazer no Paraná (…) se vou ser candidato a deputado, a senador, eventualmente governador, mas no fundo o meu objetivo primário agora é circular o Paraná (…) e essa decisão vai ser tomada adiante”.
E ainda brincou: “A gente sempre gosta de um suspense, né?”
Essa live, que para minha grande irritação como repórter foi transmitida apenas no Instagram (e não no YouTube, muito mais fácil de usar para capturar as “aspas” de quem fala), está muito longe de constituir abuso da máquina. Pelo contrário, mostra como o União Brasil pouco fez por Moro.
Pelos números oferecidos ao TSE, a campanha de Moro gastou R$ 5,1 milhões, valor próximo dos R$ 4,6 milhões do 2º colocado, o bolsonarista Paulo Martins, que era deputado federal na época e foi presidente da Comissão do Voto Impresso. Já Moro não tinha cargo público; deixou o Ministério da Justiça em abril de 2020.
Moro não cometeu abuso de poder porque ele não queria ser senador, muito menos exercer um cargo no Paraná. Esse foi o último dos seus planos, e ele fez o que pôde para perseguir outros empregos antes.