As expectativas das diferentes alas da Câmara de BH para a gestão de Juliano Lopes

Base do governo deverá ter mais dificuldades para aprovar projetos de seu interesse em comparação aos dois últimos meses de 2024
Eleição da Mesa Diretora
Divisão dos vereadores em dois grupos durante as eleições terá desdobramentos no começo do segundo governo Fuad Noman (PSD). Foto: Dara Ribeiro/CMBH

As sessões plenárias da Câmara Municipal de Belo Horizonte (CMBH) serão retomadas apenas em fevereiro, mas, no dia seguinte à eleição do novo presidente, vereador Juliano Lopes (Podemos), parlamentares – dos grupos vencedor e vencido – já projetam mudanças no comportamento do Legislativo para os próximos dois anos.

Do lado dos vencedores, o consenso é que a ascensão de Juliano à presidência representa não apenas a possibilidade de uma atuação mais independente dos vereadores, mas também uma vitória significativa da direita sobre a esquerda. Isso porque partidos à direita dominam a nova Mesa Diretora, que terá, além do Podemos, representantes de Novo, PL, PRD e PP. O único integrante de um partido tido como do campo progressista é o vereador Wagner Ferreira (PV).  

“A nova Mesa é uma garantia de independência diante de uma prefeitura completamente alinhada à esquerda”, diz o vereador Bráulio Lara (Novo). De acordo com o parlamentar, os vereadores que não integram a base de sustentação do governo Fuad Noman (PSD) terão mais autonomia para fiscalizar a administração municipal e, eventualmente, instalar Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs).

“Uma de nossas primeiras ações este ano será fazer um rigoroso questionamento à Prefeitura quanto ao aumento das passagens de ônibus. Vamos exigir transparência absoluta”, projeta.

Entre os apoiadores do candidato derrotado, Bruno Miranda (PDT), a expectativa é que Juliano Lopes encabece uma gestão equilibrada. Segundo o líder do PT na Câmara, Doutor Bruno Pedralva, a composição da nova Mesa Diretora irá impor desafios à atuação não apenas dos parlamentares de esquerda, mas também dos movimentos sociais da cidade.

“É evidente que a Câmara passa a ter em sua mesa uma maioria de vereadores de direita e de extrema direita. Mas o presidente Juliano Lopes é um democrata, um político de bom senso, e a gente espera que os espaços de cada bancada e de cada bloco sejam respeitados em todas as decisões”, aponta.   

Tom da relação é incerteza

Após a vitória, Juliano Lopes garantiu não nutrir mágoas com o Executivo municipal, cujos interlocutores atuaram em prol da candidatura de Bruno Miranda. Apesar disso, chamou o vice-prefeito Álvaro Damião (União Brasil) de “pateta”.

“Atendi o prefeito Fuad (ao telefone) assim que saiu o resultado (da eleição na CMBH). Desejo a ele pronta recuperação (dos problemas de saúde que enfrenta). Primeiro tenho que ter respeito, porque é um senhor de 77 anos. Tem a idade do meu pai. Minha mãe me ensinou muito a respeitar os mais velhos. Temos respeito por ele. Espero que se recupere o mais rápido possível, volte a assumir a prefeitura e que o deixem trabalhar — e (que) tire a prefeitura do pateta maior, que é o vice-prefeito Álvaro Damião”, falou.

Secretário de Estado da Casa Civil de Minas Gerais, o ex-deputado federal Marcelo Aro (PP) foi o principal fiador da candidatura de Juliano Lopes. Líder de um grupo político que reúne vários vereadores belo-horizontinos, Aro chegou a acusar agentes da prefeitura de tentarem utilizar a máquina pública para garantir o triunfo de Bruno.

“O que aconteceu nos últimos 10 dias é fruto de uma lambança política. Inabilidade política. Não precisava disso. Infelizmente, fizeram algo que deixa sequelas na cidade de Belo Horizonte e nessa relação. Mas nosso trabalho, agora, junto com o vereador Juliano Lopes, vai ser pela cidade de Belo Horizonte. Vamos trabalhar noite e dia e fazer de Belo Horizonte a melhor cidade para se viver e a melhor capital do Brasil”, pontuou.

O grupo de Aro fez parte do primeiro governo de Fuad entre abril de 2023 e abril do ano passado, tendo, inclusive, o comando de secretarias. A repetição da parceria, entretanto, ainda é incógnita.

“Tem que perguntar para eles (da prefeitura)”, tergiversou Aro, ao ser perguntado sobre o futuro da relação com o Executivo.

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