A Ação de Investigação Judicial Eleitoral (AIJE) que pode resultar na perda dos três assentos do União Brasil na Câmara Municipal de Contagem, na Região de Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), foi abastecida por uma notícia de fato criminal que sugere um esquema de caixa dois ligado à chapa montada pelo partido para disputar a eleição municipal do ano passado.
As revelações sobre a suposta irregularidade constam em áudios cujas transcrições agora figuram na ação. A gravação é de uma conversa entre Hernani Júnior Félix, autor da ação e primeiro suplente da federação Psol-Rede, e Grazielle Scarpelli, uma das candidatas do União Brasil. O diálogo aponta possíveis pagamentos não declarados feitos pelo União Brasil, como o depósito de uma ajuda de custo mensal à concorrente durante o período de campanha.
Nas transcrições de áudio anexadas ao processo, Grazielle relata ter sido procurada pelo vice-presidente do União Brasil, Rodrigo Chiodi, para concorrer à vereança. Segundo ela, houve promessas sobre o fornecimento de estrutura de campanha e de um cargo na Câmara Municipal após o pleito. Rodrigo é irmão do vereador Alex Chiodi, que, à época, era presidente do Legislativo de Contagem.
Na gravação, Grazielle conta que, para se candidatar, pediu exoneração de um cargo que ocupava na Prefeitura de Contagem há sete anos. “Que bom, pelo menos terei um emprego e não ficarei desempregada”, registra ela, em um dos áudios anexados ao processo.
De acordo com os áudios, a candidata afirma ter recebido uma “ajuda de custo” nos três primeiros meses de campanha. “Eles pagaram meu salário de agosto até dezembro”, diz.
Apesar da fala, a prestação de contas da campanha de Grazielle junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) aparece zerada, sem a formalização de nenhum repasse financeiro.
“Esse dinheiro não caiu na minha conta eleitoral. Eu peguei esse dinheiro em espécie, depositei na minha conta, aluguei carro. Uma pessoa que recebe R$ 5 mil e no mês de outubro receber R$ 12 mil? No mês de agosto receber R$ 13 mil? É estranho, né!? E por que a prestação de contas (de campanha) está zerada?”, afirma a candidata, em parte da conversa com Hernani Félix.
Em um dos trechos da conversa, a mulher reconhece claramente sua condição de candidata laranja: “Eu sei que fui laranja. Eles me prometeram emprego, e até hoje, nada. Eu saí do meu emprego”.
Um dos pontos mais graves da denúncia envolve alegações de assédio sexual. Segundo o documento, um dos dirigentes partidários teria solicitado fotos íntimas da candidata.
Em nota, o presidente do diretório municipal do União Brasil, Jorge Periquito, chamou as denúncias de “infundadas” e prometeu acionar a Justiça para contestar as acusações.
“Já temos pleno conhecimento de que se trata de uma articulação política que possui identidade, nomes e endereço definidos, e estamos tomando as providências necessárias para acionar judicialmente, tanto na esfera cível quanto criminal, os responsáveis por essa trama de terceiro escalão, sem escrúpulos, cujo comportamento é compatível com a indignidade de seus autores e patrocinadores”, disse.
A advogada que representa o autor da ação, Isabela Damasceno, disse que só se manifestara nos autos do processo.
A reportagem também procurou Grazielle Scarpelli para obter seu comentário a respeito do caso. Em caso de resposta, este texto será atualizado.