Com direito a camisa do partido no lixo, Republicanos enfrenta nova crise em Minas; entenda

Suplente de Cleitinho abriu mão da vice-presidência estadual da legenda semanas após acordo por filiação de Kalil gerar mal-estar
Euclydes Pettersen e Alex Diniz
Euclydes Pettersen (esq.) comentou gesto de Alex Diniz (dir.) de atirar camisa do Republicanos no lixo. Foto: Instagram/Reprodução

A direção do Republicanos em Minas Gerais enfrenta uma nova dissonância desde a noite dessa segunda-feira (5), quando o empresário Alex Sandro Coelho Diniz, suplente do senador Cleitinho Azevedo, do mesmo partido, anunciou a decisão de abrir mão da vice-presidência estadual da legenda. Insatisfeito com os rumos do partido, Alex chegou a atirar uma camisa com o emblema do Republicanos em uma lata de lixo. A O Fator, o empresário afirmou que não pode concordar com “imposições”, com “alianças com a esquerda” ou “passar por cima dos princípios”.

Apesar do imbróglio, o deputado federal Euclydes Pettersen, que preside o Republicanos em Minas, está disposto a conversar com Alex Diniz para resolver a situação caso o empresário o procure. Segundo o parlamentar, a legenda busca, na verdade, alianças com legendas à centro-direita e à direita.

No cerne do embate está a eleição em Governador Valadares, no Vale do Rio Doce. Alex é apoiador da candidatura do deputado estadual Coronel Sandro, do PL, mas o Republicanos lançou chapa própria, encabeçada por Renato Fraga. Em julho, o acordo pela filiação do ex-prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, também já havia gerado mal-estar na sigla.

“Vínhamos construindo um caminho juntos, mas optaram por mudar os rumos, com imposições com as quais jamais poderia concordar. Não entrei na política para benefício próprio, mas para ajudar a mudar a vida das pessoas. Jamais passaria por cima dos princípios que carrego comigo”, disse o suplente de Cleitinho, à reportagem. 

Também a O Fator, Euclydes, principal aliado de Cleitinho na política estadual e artífice da transferência do senador para o Republicanos, afirmou ter tido influência na projeção que Alex Diniz ganhou nas instâncias internas da agremiação.

“Se ele está como vice-presidente do partido, é porque eu o indiquei; se ele está como suplente do senador Cleitinho, foi porque eu também o indiquei. Se ele quer renunciar à vice-presidência estadual de um partido tão importante, não tem problema. Então, se ele se sentir à vontade para pedir a renúncia da vice-presidência e da suplência, fica a critério dele”, rebateu.

“O partido é muito maior do que um fato isolado. Temos uma ideologia que vamos continuar defendendo: a defesa da família, da religião e do empreendedorismo”, completou o dirigente. 

Vai o uniforme do partido; vem a camisa do Brasil 

Vídeos da convenção de Coronel Sandro mostram o momento de revolta de Alex Diniz com o Republicanos.

“Comunico a todos vocês, em primeira mão, que estou abrindo mão do meu cargo de vice-presidente do Republicanos em Minas Gerais. O meu partido é o Brasil. Não vou admitir canalhice”, fala o empresário, na gravação.

Quando tirou do corpo o uniforme da legenda, o empresário vestia, também, uma camisa verde e amarela da Seleção Brasileira de Futebol, que ganhou o título de uniforme informal de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

“Não se pode fazer política pensando apenas em poder, principalmente abrindo mão de princípios que para mim são inegociáveis”, apontou, a O Fator

Euclydes, por sua vez, reforçou que cabe a Alex Diniz procurá-lo para aparar as arestas caso o empresário deseje. 

“Não fujo a uma boa conversa. É sempre bom a gente se juntar e ter pessoas boas ao nosso redor. Por isso, o indiquei para a vice-presidência e para a suplência do Cleitinho”, assinalou.

Semanas de turbulência

Ligado à Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd), o Republicanos enfrenta semanas de turbulência em Minas Gerais. No mês passado, o acordo pela filiação de Kalil evidenciou a disputa de espaços entre dois grupos da agremiação. Um, encabeçado por Euclydes Pettersen; outro, liderado por Gilberto Abramo, que também exerce mandato na Câmara dos Deputados e preside a legenda em Belo Horizonte.

Embora tenha mencionado o potencial de Kalil como cabo eleitoral, Euclydes atribuiu a Abramo a negociação com o ex-prefeito.
“A aliança que teve via Kalil eu não participei. Nem eu nem o senador Cleitinho. Fomos informados pelo diretório municipal”, explicou.

O embarque de Kalil o Republicanos, aliás, o levou ao mesmo palanque do governador Romeu Zema (Novo) na eleição em BH. Rivais na disputa pelo governo do estado em 2022, eles apoiam a candidatura do deputado Mauro Tramonte (Republicanos) ao poder Executivo estadual.

A despeito do imbróglio sobre os rumos do Republicanos, aliás, Alex Diniz desaprova a costura que “uniu” Zema e Kalil.

“A política não pode ser feita pensando apenas em poder. A política é espaço de diálogo e trabalho pelos que mais precisam. Tenho princípios que não abro mão, e a aliança feita vai de encontro ao que penso. Percebe-se inclusive um mal-estar entre os dois, em clara demonstração de que estão buscando poder a todo custo, sem levar em conta convicções e crenças pessoais”, criticou. 

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