Como projeto de privatização da Cemig pode servir de ‘trampolim’ para venda da Copasa

Interlocutores acreditam que debates sobre privatização da energética podem servir para quebrar resistências à venda da Copasa
Foto mostra fachada da Cemig
Deputados acreditam que privatização da Cemig sofrerá resistência na Assembleia. Foto: Guilherme Dardanhan/ALMG

Interlocutores a par das conversas ligadas aos projetos de privatização de estatais enviados pelo governo Zema à Assembleia Legislativa na semana passada acreditam que a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) entrou na leva de propostas encaminhadas aos deputados estaduais como uma espécie de “balão de ensaio”. A avaliação é que a presença da Cemig no pacote facilitaria a aprovação da venda de ações da Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa)..

Os textos sobre Cemig e Copasa foram protocolados no Legislativo na quinta-feira (14). O Fator conversou sob reservas com parlamentares, que acreditam na possibilidade de, a priori, apenas a privatização da Copasa avançar. O entendimento é que há menos resistência à venda da estatal de saneamento do que a uma mudança no modelo de gestão da energética.

Um outro deputado, entretanto, exatamente por avaliar a conjuntura para a privatização da Copasa como mais favorável, não crê que o projeto a respeito da Cemig tenha sido enviado para facilitar a privatização da empresa de abastecimento hídrico.

Nas contas do governo mineiro, Cemig e Copasa, juntas, valem cerca de R$ 15 bilhões.

A ‘barreira’ do referendo

Neste momento, negociações de estatais estaduais precisam ser aprovadas pela população em um referendo nas urnas. A consulta está prevista em artigo inserido na Constituição Estadual durante o governo de Itamar Franco (1999-2002). No ano passado, Zema enviou à Assembleia uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para retirar o referendo da lista de obrigatoriedades.

A PEC, contudo, ainda não é consenso na Assembleia e sofre resistência, sobretudo, da oposição. Na quinta-feira, ao protocolar os textos sobre Cemig e Copasa, o vice-governador, Mateus Simões (Novo), pregou a extinção da necessidade de votação.

“Para nós, continua fazendo mais sentido para o povo de Minas Gerais que a exigência do referendo seja retirada da constituição antes da votação das leis. Mas se a Assembleia concluir ao longo dos próximos meses, que é melhor aprovar a privatização e resubmeter a referendo, nós estamos prontos para isso, já consultamos o TRE no passado, é um custo relevante, mas é um custo que a gente está pronto para enfrentar se for necessário”, afirmou.

“Importante para a gente é que os serviços melhorem, porque infelizmente pouca gente é satisfeita com a qualidade do serviço prestado pela Copasa e pela Cemig, apesar de serem empresas que hoje são muito bem gerida”, completou.

Lideranças do PT, como o deputado federal Reginaldo Lopes, já sinalizaram que o partido deverá advogar em prol da manutenção do referendo.

O que dizem os projetos?

Para a Cemig, a ideia do Palácio Tiradentes é apostar na transformação da empresa em uma corporação. Nesse modelo, as ações seriam pulverizadas no mercado. Caso o Executivo fique com uma fatia que corresponda a pelo menos 10% de toda a energética, teria direito a uma ação preferencial, a “golden share”, que permitiria, por exemplo, o exercício do direito ao veto.

O projeto enviado à Assembleia também prevê que nenhum acionista poderá ter mais do que 20% do capital votante. Acordos de acionistas para votos em bloco estão liberados, mas não poderão ultrapassar o já citado limite de 20%.

Hoje, o governo mineiro tem cerca de 17% das ações da Cemig. Paralelamente, possui 51% das chamadas ações ordinárias, que dão direito a voto.

No que tange à Copasa, o projeto autoriza o Executivo Executivo a promover a desestatização da empresa por meio de duas possibilidades principais: “a alienação total ou parcial de participação societária” ou “a capitalização, mediante o aumento de capital, com renúncia ou cessão, total ou parcial, dos direitos de subscrição”

Leia também:

Prefeito acusa Samarco de descumprir prazos para obras corretivas no entorno de Candonga

Os dados alarmantes do relatório final de fiscalização do TCE em unidades de saúde de MG

Disputa pelo comando do MPMG tem ‘marcação cerrada’ de Aro e Simões em reunião com Zema

Veja os Stories em @OFatorOficial. Acesse