Com o prefeito de Belo Horizonte, Fuad Noman (PSD), de licença médica desde 3 de janeiro, a chefia do Executivo municipal foi entregue ao vice-prefeito Álvaro Damião (União Brasil). A interinidade de Damião completa dois meses nesta segunda-feira (3). De lá para cá, enquanto Fuad se recupera das sequelas do tratamento de um câncer linfático, o vice se equilibra em uma equação política que tem, como fatores, uma relação em banho-maria com a Câmara Municipal, compasso de espera a respeito de nomeações no primeiro escalão e disputas por espaço na administração municipal.
A seguir, O Fator detalha alguns dos principais acontecimentos dos primeiros 60 dias do segundo mandato de Fuad:
Tomada de decisões e disputa por espaços
Segundo afirmou o secretário Municipal de Relações Institucionais, Paulo Lamac, em entrevista à reportagem em 19 de fevereiro, todas as decisões vêm sendo tomadas no gabinete de Álvaro Damião por uma espécie de colegiado. Além de Damião e Lamac, compõem o grupo Daniel Messias, chefe de gabinete de Fuad, Jorge Luiz Schmitt Prym, chefe da Secretaria-Geral do Executivo municipal, Gustavo Magalhães, subsecretário-geral, e Hércules Guerra, líder da Procuradoria-Geral do Município (PGM).
Ainda que integrantes do núcleo político da gestão municipal busquem minimizar os efeitos, há uma disputa declarada por espaço entre os grupos de Fuad e Damião.
Em fevereiro, Lamac negou a existência de um racha na gestão e atribuiu às disputas por espaço ao que chamou de “interesses menores” de pessoas que, segundo ele, miram “ganhar algum espaço” na administração municipal em caso de uma licença definitiva de Fuad — o que ele negou que possa acontecer.
Visitas e vistorias
Enquanto espera o retorno de Fuad aos trabalhos, Damião vem cumprindo as agendas oficiais do Executivo dentro e fora de BH. O prefeito em exercício foi a Brasília (DF) para assistir, do Congresso Nacional, às eleições que consagraram Hugo Motta (Republicanos-PB) e Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) como presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, respectivamente
Ainda na capital federal, Damião se encontrou com o diretor-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), Fabrício Galvão, para tratar da municipalização do Anel Rodoviário.
Em BH, o prefeito em exercício vem participando da inauguração de obras desejadas por Fuad. Na quinta-feira (27), por exemplo, testemunhou o “corte da fita” da Praça da Independência, entre os tradicionais edifícios Sulacap e Sulamérica, no Centro.
As agendas de Damião também têm contornos políticos. No início do mês, acompanhado pelo deputado estadual João Vítor Xavier (Cidadania), um de seus aliados mais próximos, o vice-prefeito esteve com o presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, Tadeu Leite (MDB). À ocasião, a agenda foi interpretada como parte da estratégia de Damião na busca pela ampliação de seu leque de alianças.
A ideia era mostrar que, apesar da derrota para o grupo do secretário de Estado de Governo, Marcelo Aro (PP), na disputa pela presidência da Câmara Municipal, agora comandada por Juliano Lopes (Podemos), há bom relacionamento do prefeito em exercício com o Legislativo Estadual.
Nomeações na fila de espera
Após dois meses de gestão, a prefeitura segue com alguns cargos desocupados em postos importantes, como a secretaria Municipal de Esportes e Lazer e a Coordenadoria Especial de Vilas e Favelas, criada a reboque da reforma administrativa encaminhada no fim do ano passado aos vereadores. A pasta de Esportes, aliás, é alvo do PSDB e do Solidariedade, legendas que apoiaram desde o primeiro turno a chapa Fuad-Damião.
Dirigentes partidários, vereadores e ex-vereadores vêm se revezando na secretaria municipal de Governo em busca de emplacar indicações. Damião, contudo, tem evitado promover mudanças no secretariado. A intenção é anunciar a escalação completa do primeiro escalão a partir de março;
Relação com a Câmara em banho-maria
O compasso de espera se repetiu na relação entre Executivo e Legislativo no primeiro bimestre de 2025. Ainda sem projetos importantes para a prefeitura na pauta de votações da Câmara, Damião e Juliano Lopes têm mantido relações meramente institucionais.
A prefeitura tem aproveitado o tempo para tentar reaglutinar a base aliada no plenário, mas vereadores de diferentes grupos políticos defendem que o processo precisa ser agilizado a fim de evitar, por exemplo, a instalação de Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) para tratar de possíveis irregularidades em órgãos da administração municipal.
Carnaval
O período de licença do prefeito Fuad não impediu que fosse assinado um termo de cooperação entre o governo de Minas Gerais e a Prefeitura de Belo Horizonte para a realização do Carnaval 2025. Juntos, os Executivos estadual e municipal investiram mais de R$ 50 milhões para a folia na capital.