Os bastidores da eleição para a presidência da Câmara Municipal de Belo Horizonte (CMBH) expuseram divergências entre aliados do prefeito reeleito, Fuad Noman (PSD), e integrantes do grupo do secretário de Estado da Casa Civil, Marcelo Aro (PP). Ex-deputado federal, Aro foi o principal fiador da candidatura de Juliano Lopes (Podemos), eleito chefe do Legislativo municipal nesta quarta-feira (1°).
Após o resultado do pleito, que terminou com vitória de Juliano contra Bruno Miranda (PDT), líder do governo Fuad no mandato passado, Aro afirmou que a postura de interlocutores do Executivo “deixa sequelas” à cidade. O novo presidente da Câmara, por sua vez, subiu o tom contra o vice-prefeito Álvaro Damião (União Brasil), chamando-o de “pateta maior”. Damião, vale lembrar, defendeu publicamente a candidatura de Bruno Miranda.
“Atendi o prefeito Fuad (ao telefone) assim que saiu o resultado (da eleição na CMBH). Desejo a ele pronta recuperação (dos problemas de saúde que enfrenta). Primeiro tenho que ter respeito, porque é um senhor de 77 anos. Tem a idade do meu pai. Minha mãe me ensinou muito a respeitar os mais velhos. Temos respeito por ele. Espero que se recupere o mais rápido possível, volte a assumir a prefeitura e que o deixem trabalhar — e (que) tire a prefeitura do pateta maior, que é o vice-prefeito Álvaro Damião”, disse Juliano, após a vitória.
Já Marcelo Aro acusou emissários da prefeitura de tentativas de uso da estrutura do Executivo municipal para convencer vereadores eleitos a declarar voto em Bruno Miranda.
“O que aconteceu nos últimos 10 dias é fruto de uma lambança política. Inabilidade política. Não precisava disso. Infelizmente, fizeram algo que deixa sequelas na cidade de Belo Horizonte e nessa relação. Mas nosso trabalho, agora, junto com o vereador Juliano Lopes, vai ser pela cidade de Belo Horizonte. Vamos trabalhar noite e dia e fazer de Belo Horizonte a melhor cidade para se viver e a melhor capital do Brasil”, assinalou.
“Usar a máquina a gente sabe que acontece. Mas, como fizeram dessa vez, eu nunca vi – e olha que tenho experiência em eleições da Câmara Municipal”, completou.
Até abril do ano passado, o grupo de Marcelo Aro compunha a gestão de Fuad. Indicados do secretário da Casa Civil mineira chefiavam quatro secretarias municipais. À ocasião, o desembarque aconteceu porque Aro não sabia os rumos que tomaria na disputa pela prefeitura. Nesta quarta, ao ser perguntado sobre o futuro da relação com o Executivo belo-horizontino, ele tergiversou.
“Tem que perguntar para eles (da prefeitura)”, falou.
Juliano Lopes, embora tenha tecido críticas a Damião, negou a existência de mágoas com a prefeitura. O político do Podemos prometeu conduzir o Legislativo de forma “independente”.
O Fator procurou Álvaro Damião e a assessoria de comunicação da Prefeitura de Belo Horizonte para obter uma resposta a respeito das falas de Juliano Lopes e Marcelo Aro, mas a equipe da administração municipal informou que não irá comentar as declarações.
Ironias no plenário
Damião mergulhou nas questões políticas da administração Fuad e assumiu, recentemente, a secretaria municipal de Governo em substituição a Anselmo José Domingos, que era tido como simpático à eleição de Juliano Lopes para o comando da Câmara de BH.
Coube ao vice-prefeito eleito, inclusive, mover articulações para dar sustentação à candidatura de Bruno Miranda. No plenário do Parlamento, aliados de Juliano exibiram um banner com uma fala de Damião em entrevista à “Rádio Itatiaia” na semana passada. À ocasião, o político do União Brasil projetou uma vitória do candidato governista ao comando da Câmara.
Em que pese a derrota de Bruno Miranda, interlocutores ligados à prefeitura ouvidos sob reservas por O Fator acreditam que o resultado não trará, de imediato, impactos negativos à administração municipal. A avaliação é que Fuad Noman conseguiu vitórias importantes na Câmara no fim de 2024, como a aprovação do orçamento para este ano, o aval a uma reforma administrativa e a autorização para a obtenção de empréstimos. Assim, seria possível iniciar o segundo governo com menos “dependência” de votações no Legislativo.
Reviravoltas políticas
O placar de 23 a 18 a favor de Juliano Lopes ganhou forma por articulações que chegaram a surpreender os afeitos ao mundo político belo-horizontino. Janaína Cardoso, correligionária de Álvaro Damião no União Brasil, por exemplo, votou na chapa vitoriosa, enquanto Lucas Ganem não apoiou o colega de Podemos, optando pelo endosso ao candidato do PDT.
Na reta final das conversas, aliados de Juliano tentaram convencer o PT, que terá uma bancada de quatro representantes, a mudar de lado. Os petistas, entretanto, ratificaram a posição de apoio a Bruno, ainda que Wagner Ferreira, do PV, partido com quem o PT forma uma federação, tenha votado na chapa liderada pelo vereador do grupo de Aro.