Disputa por mansão em ilha paradisíaca entre deputado mineiro, jogador e advogados vai parar na Polícia Federal

Caso se arrasta há quase quatro anos e agora passou a ser alvo de uma investigação da PF e do Ministério Público
O embate judicial, que discute a propriedade do imóvel, ainda corre no Judiciário do Rio.. Foto: Reprodução

Uma investigação da Polícia Federal (PF) apura possíveis irregularidades na disputa milionária por uma mansão avaliada em R$ 10 milhões e situada na cinematográfica Ilha Comprida, em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro.

O imóvel, equipado com 11 suítes, praia privativa, cachoeira, piscina, quadra de tênis e heliponto, tornou-se o centro de uma briga judicial envolvendo figuras públicas como o deputado estadual mineiro Alencar da Silveira Júnior (PDT), o jogador Richarlison, que tem contrato com o clube inglês Tottenham Hotspur e já atuou pela Seleção Brasileira, advogados influentes e empresários. O impasse ainda conta com o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) como testemunha.

O inquérito foi instaurado pela Polícia Federal para investigar possíveis irregularidades relacionadas à ocupação e às negociações da área do casarão, classificado como terreno de marinha e pertencente à União. O principal objetivo da investigação é determinar se houve fraude na transferência de posse, subavaliação fiscal ou desrespeito às regras de ocupação desse tipo de propriedade.

A movimentação em torno do imóvel desencadeou suspeitas de ilegalidades, incluindo discrepâncias no valor da transação. A escritura pública de compra e venda indica que a mansão foi negociada por R$ 600 mil — a menor fração da avaliação fiscal de R$ 2,6 milhões feita pela Prefeitura de Angra dos Reis.

Alencar da Silveira afirma possuir 25% do imóvel. Além dele, a investigação envolve o advogado Willer Tomaz, figura influente em Brasília (DF) e próximo a Flávio Bolsonaro. Segundo as denúncias, empresas ligadas a Tomaz e ao deputado pedetista teriam “ocupado e negociado ilegalmente” o terreno por meio de manobras judiciais e contratuais.

A mansão na Ilha Comprida foi adquirida em 2020 pela empresa Sport 70, que tem Richarlison e seu empresário, Renato Velasco, como sócios, e também Alencar da Silveira. Entretanto, em maio de 2022, uma decisão liminar transferiu a posse do imóvel a Willer Tomaz, que alegou ter firmado um contrato de sub-rogação com a antiga detentora da posse, a firma M Locadora de Veículos e Transportes Turísticos.

Foto: Reprodução

O litígio tem sido marcado por episódios polêmicos, incluindo relatos de intimidação envolvendo seguranças armados com fuzis instalados no local para impedir o retorno de Richarlison e seus sócios ao imóvel. Segundo depoimentos, a esposa de Renato Velasco teria sido retirada da casa em uma operação policial durante a noite, enquanto estava grávida.

Há três anos, Flávio Bolsonaro foi arrolado como testemunha no caso. O nome do parlamentar aparece ligado à história por ter visitado a mansão em 2020, quando a propriedade ainda estava sob o controle do empresário Antônio Marcos, em momento anterior à compra pela empresa Sport 70. A defesa dos empresários de Richarlison busca utilizar o relato de Flávio para reforçar a justeza da posse inicial do imóvel, argumentando que não houve invasão ou irregularidade por parte dos atuais proprietários.

O caso tramita no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ) e está sob a análise do desembargador Adriano Celso Guimarães. Desde 2022, diversas decisões foram tomadas em caráter liminar, ora favorecendo Willer Tomaz, ora devolvendo a posse à empresa Sport 70. O mérito do processo ainda aguarda julgamento pela 8ª Câmara Cível.

A origem

A origem do conflito envolve uma sequência de negociações. Alencar e o empresário Renato Pinto teriam comprado a ilha diretamente dos antigos proprietários pelo valor solicitado, em 2022. Contudo, um dos vendedores discordou do valor e recusou-se a receber o pagamento, levando Alencar e Renato a assumirem a posse do imóvel.

No entanto, no ano seguinte, o vendedor insatisfeito ingressou com uma ação de reintegração de posse. Após disputas judiciais, as partes chegaram a um acordo homologado pelo juiz da 1ª Vara de Angra dos Reis, conferindo posse legítima a Alencar e Renato. Mas, para surpresa de ambos, o cenário mudou repentinamente quando Willer Tomaz obteve decisão favorável em ação de reintegração de posse, alegando direitos sobre o imóvel com base no contrato com a M Locadora.

Alencar, que afirma possuir provas documentais robustas da compra, como contrato, cheques e transferências bancárias, também diz ter acionado a Polícia Federal e o Ministério Público Federal, solicitando investigações sobre o caso. Segundo ele, a situação carece de explicação lógica e aponta para uma possível fraude envolvendo a posse do imóvel.

“Eu mesmo levei os cheques para pagar o vendedor. É preciso apurar isso a fundo. Estou disposto a ir até o final”, declarou o deputado.

Apuração da PF avança

A Polícia Federal também investiga a existência de um possível golpe relatado por Maria Alice Menna, viúva de um dos antigos donos da M Locadora, que alega ter sido enganada ao assinar documentos que autorizaram, sem seu consentimento, a transferência da posse para Willer Tomaz.

Outra linha investigativa foca na velocidade com que o cadastro do imóvel foi regularizado junto à Secretaria de Patrimônio da União (SPU). O processo, que geralmente é lento e burocrático, foi realizado em apenas dois dias, levantando suspeitas de favorecimento ou manipulação.

Posicionamento

Em contato com a reportagem, o advogado Willer Tomaz afirmou que a investigação da PF “para apurar as denúncias de ocupação irregular de terreno da Marinha na Ilha Comprida” envolve especificamente Alencar da Silveira Jr e Renato da Rocha Velasco, “através de suas empresas YTA Consultoria e Sport 70 Intermediação de Negócios Ltda”.

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