Quinta colocada na disputa pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), a deputada federal Duda Salabert (PDT) discorda da avaliação de lideranças da esquerda de Minas Gerais, que defendem a formação de uma frente ampla com partidos ao centro para a disputa pelo governo do estado em 2026. Segundo Duda, há, em curso, uma tentativa de “antecipar o processo eleitoral”, movimento que colocaria o senador Rodrigo Pacheco, do PSD, como eventual candidato apoiado pelas forças progressistas.
“É um erro a esquerda pensar agora em nome — e um erro maior pensar em um nome de centro. Deveríamos fazer o que deixamos de fazer nos últimos anos: construir um programa em diálogo com a população”, diz, em entrevista a O Fator.
Duda reconhece que sua campanha a prefeita sofreu um processo de “desidratação” ao longo das semanas de caça aos votos. Ela admite, inclusive, um erro tático ao priorizar a propaganda nas redes sociais em detrimento às peças veiculadas na televisão.
“Queríamos estar no segundo turno, mas o voto útil em Fuad Noman acabou prevalecendo. Eu imaginava que, nesta eleição, as redes sociais teriam mais peso do que a televisão. Por isso, não me preocupava muito. Este era o nosso diagnóstico, que se revelou errado, porque a televisão continua tendo o maior peso”, avalia.
Abaixo, os principais trechos da entrevista:
A esquerda em BH disputou a eleição com cinco candidaturas. Entretanto, após a disputa, houve certa verbalização de mágoas. Como está o diálogo na esquerda da cidade? A eleição deixou arestas insuperáveis ou se trata de ressaca eleitoral?
Da minha parte, não há ressentimento em relação às outras candidaturas de esquerda. Dialogamos muito durante a pré-campanha — e também durante a campanha — sobretudo com a UP (Unidade Popular), com o PT e com o Psol. Fizemos um acordo de não agressão. Marcaríamos apenas diferenças para mostrar que não existe ‘a esquerda’, mas ‘as esquerdas’. Mas a gente sabe que, no período eleitoral, os ânimos muitas vezes se aquecem e, se houvesse algum discurso que incomodasse, teríamos um canal aberto para dialogar. Mais importante que avançar enquanto partido, era avançar enquanto campo. Então, saímos com saldo positivo de que o acordo que foi feito, de preocupação com o campo e de não nos autodestruirmos, foi cumprido.
As trocas de farpas entre as chapas de esquerda, então, ficaram mais restritas à militância?
Havia na cidade um anseio pela unificação dos partidos de esquerda em torno de uma só candidatura. Um dos motivos de nós não termos ganho a eleição foi não termos encantado a cidade. Nenhuma candidatura do campo progressista agitou a cidade. Na verdade, nenhuma candidatura em Belo Horizonte — diferentemente do que aconteceu em Fortaleza (CE), São Paulo (SP) e outros locais. Se um turista viesse aqui, não iria perceber que estávamos no período eleitoral, exceto pela poluição da campanha. Não havia a agitação das eleições anteriores. Acho que, se tivesse ocorrido essa unificação (da esquerda), seria o estopim para ‘explodir’ a militância, com a agitação que é marca do campo progressista. A primeira preocupação das nossas candidaturas, no nosso campo, não é avançar em outro eleitorado, mas encantar o nosso militante, porque ele vai buscar voto com o vizinho, com a família e tudo mais. Mas nós não conseguimos encantar a militância e nem a cidade. Então, se há ressentimentos ou arestas, eles têm origem nessa unificação que não ocorreu.
A senhora já esteve com os outros candidatos após a eleição?
Conversei por telefone com a Ana Paula (Siqueira, que foi pré-candidata da Rede), muito rapidamente com o Rogério (Correia, candidato do PT), mas com Bella (Gonçalves,candidata a vice de Rogério, pelo Psol), ainda não. Durante a campanha, também conversamos em alguns momentos. Acredito que a gente está um pouco na ressaca do período eleitoral. Mas essas conversas vão se intensificar a partir do início do ano que vem, porque há uma preocupação com a eleição para o governo de Minas Gerais. O resultado da eleição em BH mostrou que vamos precisar andar juntos.
E por que o campo progressista não se uniu no 1° turno em BH?
Nós, do PDT, desde o início, fomos favoráveis à unificação do campo, porque entendíamos que era o que a cidade pedia. Isso nos daria mais ‘musculatura’ eleitoral e mais chance de ir ao segundo turno. Todos os partidos fizeram movimentos para que a unificação acontecesse, mas não houve consenso, porque o que o PDT colocou como critério para a unificação do campo não foi aceito pelas outras candidaturas. O critério do meu partido era o da viabilidade eleitoral e das chances de segundo turno. Eu não iria participar dessa eleição só para demarcar posição ou para aumentar a minha popularidade. A gente só participaria dessa eleição, se, de fato, tivéssemos fôlego e chance de estar no segundo turno. Propusemos a realização de pesquisas testando cenários. Por exemplo: Bella de cabeça de chapa e eu de vice. Inverte. Testa o nome da Indira Xavier, e por aí vai.
Houve conversas nacionais sobre essa união dos partidos de esquerda?
Conversamos isso nas executivas nacionais de PT, PDT e Psol. No entanto, a candidatura de Rogério não concordou com esse critério, porque tinham outros e escolheram pela análise deles. Não teve unificação por isso. Fiz um último esforço, apresentando pesquisas que mostravam que, se eu retirasse a minha candidatura, meus pontos de intenção de votos não iam para o Rogério. Àquela data, eles migravam para Gabriel (Azevedo, MDB) para Fuad (Noman, PSD) para Mauro (Tramonte, Republicanos) e para Indira (Xavier, UP). Rogério herdava um ponto só.
Ao mesmo tempo, tínhamos cenários que mostravam que, se houvesse a unificação em torno da nossa candidatura, estaríamos no segundo turno. Todas as pesquisas divulgadas até o início da campanha na televisão me colocavam em segundo lugar. Em terceiro, no máximo. Consequentemente, como a candidatura com mais chance no campo progressista. Iniciei a campanha e permaneci em segundo lugar nos 10 primeiros dias. A partir daí, o tempo de televisão fez a diferença. Caímos para terceiro, quarto e quinto lugar. Ficávamos oscilando, o que nos mostrou que não bastava a união da esquerda para irmos para o segundo turno. Precisava de uma costura maior para estar no segundo turno.
A senhora disse que a propaganda na TV ainda influencia os rumos de uma eleição. Na reta final, houve uma arrancada de Gabriel Azevedo, que terminou em quarto. Ficou decepcionada?
Queríamos estar no segundo turno, mas o voto útil em Fuad acabou prevalecendo. Eu imaginava que, nesta eleição, as redes sociais teriam mais peso do que a televisão. Por isso, não me preocupava muito. Este era o nosso diagnóstico, que se revelou errado, porque a televisão continua tendo o maior peso. A minha candidatura foi a que mais engajou nas redes sociais, com o dobro de engajamento das outras, segundo levantamento divulgado pela ‘Folha de S. Paulo’. Mas, mesmo sendo a campanha que mais engajou, não traduzimos em votos. Ficamos os 10 primeiros dias da campanha em segundo lugar, mas quando começa a campanha na TV, o Fuad sobe 10 pontos. Nós, entretanto, ficamos estagnadas, paradas nos 10%, e não conseguimos avançar até a última semana, quando veio o voto útil e nos tirou dois ou três pontos.
Como avalia seu desempenho na campanha?
Em termos de capital político houve um avanço muito grande, por dois motivos. Quando fui candidata ao Senado, tive cerca de 100 mil votos em BH. Quando fui candidata a deputada federal, tive os mesmos 100 mil votos na capital. Agora, candidata a prefeita, também tive 100 mil votos. Olhando o número superficialmente, parece que não aumentamos em nada e que só dialogamos com quem já nos apoiava. Mas essa é uma análise equivocada, porque parte da nossa bolha migrou para o Fuad, com medo de ter dois candidatos da direita no segundo turno. Os 100 mil votos vieram da ampliação que tivemos em regiões em que não tínhamos tanta expressão.
Crescemos sem tempo de televisão e nenhum padrinho ou madrinha política. Também tivemos menos recursos do que outras candidaturas e fizemos uma campanha sem santinhos ou panfletos — e sendo uma candidatura trans. Nos mantivemos com 10% das intenções até a véspera da eleição e, lógico, não foi suficiente para ir ao segundo turno, porque o que nos faltou foi os outros nos apoiarem.
O deputado federal Nikolas Ferreira (PL) conseguiu eleger um ex-assessor, Pablo Almeida, como vereador. Bruno Engler (PL), com Vile dos Santos, também. O PT fez quatro vereadores; o Psol, três. O PDT, seu partido, reelegeu Bruno Miranda. A senhora e seu grupo empenharam esforços em prol de algum candidato a vereador?
Se você olhar minha rede social, ela comprovará o que estou dizendo. Não tivemos uma candidatura à Câmara Municipal que possa ter dito: ‘essa é a nossa’. Fortalecemos candidaturas do PDT, a de Mallu Almeida, que é uma trans que recebeu nosso apoio para que conseguisse apresentar sua liderança à cidade. Mallu é um quadro que estamos construindo pensando em eleições futuras. A opção de não fazer dela a nossa candidata passa pela estratégia majoritária. Se você abraça muito uma candidatura, tende a enciumar os demais.
Antes do período eleitoral, se não saísse candidata a prefeita, a gente iria apoiar Mallu Almeida e colocar toda nossa estrutura e nosso capital político a serviço da sua candidatura (à Câmara). Conversamos isso com Mallu. Não tem como a gente colocar força sobre sua candidatura, uma vez que temos de manter o apoio a todos os candidatos da chapa. A chapa do PDT elegeria no máximo duas pessoas.
Durante a campanha, a senhora fez duras críticas a Fuad Noman. Como está a relação com o prefeito? Isso contaminou a relação do PDT com o Executivo? Bruno Miranda, líder do governo na Câmara, é seu colega de partido.
Se eu achasse que estava tudo bem em BH, não fazia sentido me candidatar. Me candidatei justamente por entender que a capital tem problemas estruturais e que Fuad fez uma péssima gestão pelo fato de, primeiro, ter loteado a máquina pública em troca do apoio de alguns partidos do chamado ‘Centrão’. Ele mostrou pouca habilidade política neste período, empreendendo inclusive uma política antiambiental. Belo Horizonte ficou estagnada do ponto de vista econômico. E minha relação com o Bruno Miranda é ótima. Ele sabia que minha posição seria de enfrentamento, de crítica.
Mas Bruno permaneceu como líder de governo.
Mas avançamos com alguns entendimentos. Por exemplo: mesmo eu lançando minha candidatura, o PDT tinha de manter seu compromisso com Belo Horizonte. Àquela data, o cenário que estávamos vivendo era de que o prefeito passava por um tratamento oncológico e o PDT não iria se retirar da liderança do governo na Câmara em um cenário tão sensível, não só do ponto de vista político, mas também do ponto de vista pessoal para o prefeito.
Segundo: tínhamos a percepção de que se Bruno saísse daquele espaço, abriria chances para que políticos da ultradireita o ocupassem. Então, vimos que não haveria problema com Bruno continuando na liderança do Fuad. Após o primeiro turno, no próprio domingo, liguei para o prefeito, parabenizando-o pela vitória. Que briguem as ideias e não as pessoas. Entendi perfeitamente que tínhamos de votar escolhendo entre “o mal menor” e o “mal maior”. Então, declarei voto crítico em Fuad. Naquela mesma semana, me sentei com ele e levei quatro propostas que acho importantes para acrescentar ao seu plano de governo. Ele assumiu que as adotaria, inclusive divulgou isso.
Não houve nenhum pedido de espaço, de cargo. Coloquei meu ativismo, minha militância e meu capital político para vencer Bruno Engler. Depois disso, fiz aquele vídeo sobre o livro do Fuad, criticando a visão do Engler sobre a obra. O próprio prefeito me mandou mensagem, agradecendo. Acho que temos uma boa relação, mas não me imagino compondo seu governo ou integrando sua base.
A senhora tem uma atuação naturalmente marcada pelo debate identitário. Também encampa um debate sobre políticas de educação e temas ambientais. Como sente a recepção de suas bandeiras? O eleitor médio assimila bem sua atividade parlamentar?
Não tenho um diagnóstico preciso. O que posso dizer é que, quando fui eleita vereadora com votação recorde (superada em 2024 por Pablo Almeida), mais de 37 mil votos, fui votada em todas as urnas de BH. Ou seja: a candidatura acessou a cidade inteira. Isso, em 2020. Em 2022 — e isso pouco se discute, mas tem peso muito grande — colocamos uma candidatura com dinâmica de lixo zero, sem santinhos, panfletos, adesivos ou carreatas. Ainda assim, saio como uma das deputadas federais mais votadas de Minas, tendo nas costas o peso de Ciro Gomes, que é um repelente e votos. Sem o peso de Ciro, teríamos uma votação muito maior. Mesmo assim, foi uma votação considerável.
Para avançar mais sobre o eleitor médio, precisamos ter mais visibilidade a respeito do que estamos construindo em Brasília. E não é uma questão identitária. Fui eleita pelo ‘Congresso de Foco’, em votação com jornalistas, como uma das cinco melhores deputadas do Brasil. Também fui eleita pelo voto popular como uma das sete melhores deputadas do país. Fui, talvez, a parlamentar de Minas mais bem premiada pelo ‘Congresso em Foco’. Então, quem olha de perto nosso mandato reconhece que não somos um mandato identitário. Reconhece, também, a relevância de nossa atuação política. Agora, se esse discurso se infiltra ou não no cidadão médio, não é pela construção que estamos fazendo, mas por dois motivos. Primeiro: a falta de uma comunicação que chegue à população em geral. Segundo: o preconceito acaba evitando que algumas construções nossas cheguem, porque a primeira coisa que olham é a a gente ser trans.
A prefeita de Contagem, Marília Campos (PT), manifestou a uma eventual candidatura do senador Rodrigo Pacheco (PSD) ao governo mineiro. Gleide Andrade, tesoureira do diretório nacional petista, também falou da possibilidade de caminhar com Pacheco. O campo progressista de Minas vai, assim como com Alexandre Kalil em 2022, apoiar um candidato do PSD ao governo, seja ele qual for?
Não podemos deslocar as eleições e o cenário político de BH e de Minas do que está acontecendo no mundo. Vivemos, desde 2008, grande crise no capitalismo — a maior da história, até então. E essa crise joga a política para os extremos.
Jogou a política à direita, não? Não é razoável dizer que a esquerda foi mais em direção ao centro?
Tivemos alguns movimentos mais extremos da esquerda nos Estados Unidos, como o ‘Occupy Wall Street’, e na Europa, como o ‘Podemos’ (na Espanha). Isso, do ponto de vista internacional. Mas esses movimentos não conseguiram dar respostas estruturantes para o problema econômico que vivíamos. Isso acabou pavimentando forças para a ultradireita, que agora é a força política mobilizada e organizada internacionalmente — e que vai ficar tendo esse peso nos próximos anos. Isso coloca a esquerda em uma situação delicada.
A polarização que está se construindo no mundo — e também no Brasil — é entre a ultra-direita e uma direita mais tradicional. Foi o que houve em BH. Fuad não era candidato da esquerda. O que vimos no segundo turno em BH é o retrato do que vemos no Brasil e no mundo. Isso exige da esquerda, primeiro, um processo de reorganização e autocrítica. Não temos conseguido encantar nem o campo da esquerda, quanto mais ampliar no processo eleitoral.
O que se tem desenhado é essa construção em torno da candidatura do Rodrigo Pacheco, mas é um debate muito precoce. Começa a rodar no bastidor a possibilidade de que ele nem seja o candidato do PSD ao governo do estado. Mas fica, ainda nos bastidores, essa coligação do PSD e do PT. O primeiro ponto que a gente tem que fazer, em Minas e no Brasil, é entender o que é e quem é a esquerda — e qual é o seu papel no processo eleitoral. A gente percebe setores da esquerda alinhados à direita nas políticas econômica e ambiental. Ou seja: estão se passando por esquerda. Segundo: não podemos abrir mão dos nossos valores e das nossas pautas históricas.
Quais são essas ‘pautas históricas’?
Por exemplo: (a luta contra) a precarização do trabalho, a redução da jornada de trabalho, uma crítica ao neoliberalismo, a defesa de uma política de moradia de qualidade, de uma reforma urbana e da reforma agrária. Tenho percebido, nas últimas eleições, inclusive municipais, que candidatos tidos como de esquerda começaram a se apropriar da sintaxe, da linguagem e do programa do centro e da direita, deixando de lado pautas históricas de nossa ideologia. Nossos discursos estão sendo apagados e, aí, tendo de escolher entre o original e o pastiche, a população escolhe o original.
Em Minas Gerais há essa tentativa de antecipar o processo eleitoral, dizendo que o candidato é Rodrigo Pacheco ou que é do PSD. Não. Há quadros do campo progressista que podem — e têm fôlego para disputar — as eleições. A gente não pode antecipar as eleições e dizer que só existe uma alternativa. Vejo, no campo progressista, gente querendo hegemonizar essa narrativa. Esse cenário eleitoral vai beneficiar apenas um agente deste setor.
E o que a esquerda de Minas precisa fazer a partir de agora para ser competitiva em 2026?
Temos de aguardar e conversar com os movimentos sociais e sindicatos (sobre) uma candidatura que de fato represente nossas pautas. É um erro a esquerda pensar agora em nome — e um erro maior pensar em um nome de centro. Deveríamos fazer o que deixamos de fazer nos últimos anos: construir um programa em diálogo com a população.
Estamos replicando a lógica da direita, de uma política cada vez mais personalista, em que o programa é desconsiderado. Não contem comigo para esse tipo de construção. Disponho-me a fazer debates, seminários e rodas de conversa. É o caminho que a esquerda deveria fazer— e não apresentar um nome goela abaixo para que em dois anos tenhamos de escolher, de novo, o menos pior.
O filósofo Vladimir Safatle tem empreendido um esforço para coesionar e expandir uma corrente de opinião dentro do campo progressista nacional, de que o caminho para a esquerda é radicalizar suas pautas e o debate, a exemplo do que fez a extrema-direita. Como você avalia esta percepção?
Sou professora de literatura e sei que as palavras, todas elas, são habitadas por trajetórias. A palavra ‘radicalizar’ hoje já está muito gasta. Acho que não é essa a palavra que a gente tem que utilizar, porque a ultradireita se valeu desta palavra nos últimos anos e ela acabou assumindo um contorno odioso, de intolerância. Radicalizar não necessariamente significa ser intolerante, ter uma postura odiosa e violenta. Significa trazer soluções na raiz do problema. Então, não sei qual é a palavra que nós devemos utilizar, mas concordo com o Vladimir Safatle de que a esquerda não pode perder do horizonte as suas pautas históricas.
Na última eleição para deputada federal, pautei o fim dos vestibulares no Brasil. Mostrei que vários países da Europa e da América Latina, como Uruguai, Argentina, México e Cuba, já acabaram com o vestibular. Isso é uma pauta histórica da esquerda: a universalização do ensino. Lembro que foi uma proposta mais criticada. Recebi muitas críticas do próprio campo da esquerda. Eu já era uma pessoa acostumada com o discurso moderado e uma descrença em rupturas ou projeções mais profundas, mais estruturantes. Sempre defendi o ProUni e o Fies. Foram importantes? Sim. Mas a gente tem que discutir algo além disso. As cotas foram importantes, mas não resolvem o problema. O que resolve o problema é acabar com os vestibulares.
Estou trazendo esse exemplo para ilustrar que é obrigação do nosso campo ter coragem para discutir questões estruturais do país e do mundo. É o que a população espera de nós. Eu, em momento algum, no meu processo como vereadora, como deputada ou como candidata a prefeita, abri mão das coisas que penso e do discurso que utilizei. O mesmo discurso que fiz agora foi o que utilizei para o Senado, em 2018, para vereadora e para deputada federal. Talvez aí estejam os motivos das minhas votações serem sempre expressivas. A gente não pode abrir mão de resolver o problema em sua raiz. Concordo com Safatle nesse sentido. Só tenho ponderações com a palavra ‘radical’, porque para o senso comum, o termo está muito desgastada pelo que a ultradireita tem feito.