Em ofício a Lula, câmaras de atingidos ‘rejeitam’ acordo de R$ 170 bi da repactuação de Mariana

Grupo diz que acordo, prestes a ser assinado, ‘não será referendado’ por comunidades afetadas pelo desastre
Bento Rodrigues, distrito de Mariana, destruído pelo mar de lama que desceu da barragem do Fundão
Tragédia destruiu distritos de Mariana e atingiu o Rio Doce. Foto: Antonio Cruz/ Agência Brasil

Em ofício enviado nesta quinta-feira (24) ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e outras autoridades, a Articulação das Câmaras Regionais, que representa comunidades impactadas pelo rompimento da barragem de Fundão em Minas Gerais e Espírito Santo, manifestou oposição aos termos do acordo de repactuação apresentado pelo governo federal. O trato gira em torno de R$ 167 bilhões.

“A assinatura do termo de repactuação nas condições apresentadas não será referendada pela população atingida”, afirma o documento, que lista 15 pontos considerados problemáticos na proposta discutida em reunião realizada em 18 de outubro em Belo Horizonte.

Entre as principais contestações está o valor de R$ 30 mil inicialmente oferecido como indenização individual definitiva para pessoas que ainda não receberam compensações. Segundo o ofício, o montante “corresponde a menos que um salário mensal recebido pela maioria das pessoas que hoje ocupam os cargos nas empresas causadoras dos danos”.

Como O Fator mostrou, o valor foi alterado para R$ 35 mil na última reunião da mesa de negociações, que terminou já na madrugada desta quinta-feira (24).

O Programa de Transferência de Renda (PTR) também é questionado. O documento aponta a disparidade entre o prazo de 20 anos concedido às empresas para pagar os danos e os 4 anos estabelecidos para que os atingidos se reestabeleçam.

Os representantes criticam ainda:

  • A obrigatoriedade de representação por advogados para recebimento de indenizações
  • A ausência de um plano para remoção dos rejeitos do Rio Doce
  • O valor de R$ 1 bilhão destinado ao Fundo de Mulheres
  • A falta de reparação específica para menores de idade à época do desastre
  • O prazo limitado de 30 meses para Assessoria Técnica Independente

O valor total do acordo também é contestado. O documento cita que uma Ação Civil Pública de 2018 já previa R$ 155 bilhões em reparações, quando muitos danos ainda eram desconhecidos. Com a correção monetária, argumentam que o valor deveria ser superior aos R$ 170 bilhões propostos.

O ofício é assinado por representantes de diversos territórios afetados, incluindo municípios de Minas Gerais como Barra Longa, Rio Doce, Santa Cruz do Escalvado, região do Vale do Aço e Governador Valadares, além de áreas do Espírito Santo.

Os atingidos solicitam que suas demandas sejam analisadas e incluídas no acordo antes de sua assinatura. “O Estado Brasileiro não deve nem pode abandonar o seu povo para ceder aos interesses de empresas que matam e poluem”, conclui o documento.

O rompimento da barragem de Fundão, em novembro de 2015, impactou toda a bacia do Rio Doce até o litoral do Espírito Santo, sendo considerado o maior desastre ambiental do Brasil.

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