A operação da Polícia Civil, deflagrada na última terça-feira (25), que veio à tona ontem (quarta-feira, 26) e sacudiu Belo Horizonte, poderá trazer novos desdobramentos a partir dos interrogatórios que serão realizados ainda hoje e também nos próximos dias.
Um dos alvos da Operação Dubai é o empresário Leonardo Bacha, irmão da também empresária Samira Monti Bacha Rodrigues, presa por comandar um esquema que desviou mais de R$ 35 milhões de três empresas, e também, em tese, “lavar dinheiro” através de viagens e compras de artigos de luxo como joias e bolsas de grife.
Diante dos fatos preliminares encontrados durante as investigações, Leonardo é apontado como uma das peças do esquema de fraudes cometidas contra uma empresa do setor de operações financeiras.
Entenda o caso
Os investigadores encontraram indícios de que Bacha era o responsável – ou um dos – por utilizar e “descarregar” os cartões de crédito, criados de forma ilegal no esquema criminoso, supostamente elaborado por sua irmã. A suspeita é de que o empresário recebia os cartões e os utilizava em uma máquina adulterada, e de propriedade de outro investigado no inquérito.
Leonardo foi preso durante a operação e, nesta quinta-feira (27), será interrogado na 1ª Delegacia Especializada de Investigação de Crimes Contra a Ordem Tributária. A investigação ainda corre sob segredo de Justiça.
Segundo o delegado Alex Machado, responsável pela investigação e ouvido pelo O Fator, a irmã de Leonardo Bacha, a socialite Samira Bacha, que cometia fraudes desde 2020, depois que se tornou sócia de uma administradora de cartões de benefícios, cooptava trabalhadores da empresa e os obrigava a adulterar documentos e planilhas. Ela chegou a atuar da mesma maneira em outra empresa, gerida pelo mesmo grupo empresarial, mas voltada para a classe médica. Ao todo, a suspeita da Polícia Civil é de que o esquema tenha desviado valores próximos a R$ 35 milhões.
“Ela começou a fraudar estes cartões médicos, a aumentar os limites, cooptar novas pessoas e descobriu que poderia pegar o valor dos cartões e descarregar, procurar agiotas que passam o cartão, cobram uma taxa e devolvem uma parte. Quando descobriu isso, passou o cartão dela, da empresa, para R$ 500 mil. Daí passa a torrar R$ 500 mil por mês e manda apagar do sistema essa dívida”, detalhou o delegado.
Além de Samira e Leonardo Bacha, outras nove pessoas foram presas durante a operação.
No Galo
No Atlético, durante a gestão do ex-presidente e ex-prefeito Alexandre Kalil, Leonardo Bacha trabalhava no setor de bilhetagem do Clube, que foi alvo de um extenso trabalho de auditoria contratado pelo ex-presidente Sérgio Sette Câmara.
No relatório da empresa ICTS, a que O Fator teve acesso, o nome de Bacha aparece em um capítulo totalmente dedicado à venda e intermediação de ingressos: “Ao longo da análise, identificamos a empresa “BUT Intermediação de Negócios”, vinculada a Leonardo Bacha. Segundo o contrato identificado, a representante da empresa é sua esposa, sócia juntamente com o filho de Leonardo. O contrato prevê remuneração a BUT de R$323.700 a ser pago em 12 parcelas de R$ 26.975,00”.
Em procuração da empresa BUT Intermediação de Negócios Ltda., datada em 26/11/2018, Leonardo é nomeado procurador “com amplos e ilimitados poderes para movimentar as disponibilidades financeiras em conta corrente da empresa”.
Leonardo Bacha foi conselheiro do Clube Atlético Mineiro, indicado por gestões passadas. Desde que o grupo, que atualmente comanda o Clube, assumiu a direção e a indicação de novos conselheiros eleitos, o empresário não foi mais convidado.
Curiosamente, Alexandre Kalil e seus aliados questionaram, pública e judicialmente, a eleição de parte dos atuais conselheiros, alegando irregularidades estatutárias e ilegalidades.