Nos últimos 12 anos, o rendimento médio das pessoas mais escolarizadas em Minas Gerais apresentou uma queda de 9,5%, ao passo que a média salarial dos menos escolarizados cresceu 39,2% em alguns casos. É o que aponta um levantamento feito pela Seção de Disseminação de Informações da Superintendência Estadual do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) em Minas Gerais, a pedido de O Fator. A análise toma por base os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), realizada trimestralmente.
Pessoas com ensino superior completo, no ano de 2012, tinham uma média salarial de R$ 6.039. Doze anos depois, a média retraiu para R$ 5.767— uma variação percentual negativa de 9,5% — ou seja, exatos R$ 572.
Já os profissionais que tinham ensino superior incompleto tiveram uma perda de 3,8% em seu salário médio, que era de R$ 2.883 e caiu para R$ 2.274. Os trabalhadores com ensino médio completo experimentaram uma retração de 2,4%, com vencimentos que eram de R$ 2.340 e agora estão em R$ 2.285.
Em 12 anos, algumas categorias funcionais tiveram desempenho positivo na média salarial. Em uma delas, composta por trabalhadores com ensino médio incompleto, o valor cresceu de R$ 1.693 para R$ 1.878 — R$ 185 em números brutos e 10,9% em números percentuais.
Os trabalhadores com ensino fundamental completo, por seu turno, elevaram a média salarial de R$ 1.834 para R$ 2.079 (13,4%). Já aqueles com ensino fundamental incompleto saltaram de R$ 1.611 para R$ 1.890 (17,3%). Os empregados sem instrução ou com apenas um ano de estudo cresceram a média salarial de R$ 1.172 para R$ 1.632, o que representou a maior evolução percentual (39,2%).
Esses resultados, porém, estão abaixo da média nacional. Comparativamente, a perda da média salarial nacional de trabalhadores com ensino superior foi de 11,2%, enquanto os profissionais com apenas um ano de escolaridade tiveram ganhos de 42%.
“Retorno econômico da Educação”
Apesar da perda do rendimento médio apresentado neste período, a diferença salarial dos trabalhadores mineiros com ensino superior completo — o que os especialistas chamam de retorno econômico da educação — ainda é considerável.
No terceiro trimestre de 2024, por exemplo, a média salarial de R$ 5.467 paga para quem tem ensino superior é três vezes maior que a média de R$ 1.632 oferecida aos trabalhadores que não têm escolaridade.
Segundo João Gabriel Pio, economista-chefe da Federação das Indústrias de Minas Gerais, trata-se de um fenômeno nacional, amparado pela retração da diferença salarial de quem tem curso superior em relação aos demais.
“É oferta e demanda”, explica, em entrevista a O Fator.
Para o economista, esta dinâmica tem duas variáveis: primeiro, um aumento significativo de pessoas com ensino superior no mercado de trabalho.
“Só para se ter uma ideia, em 2012 eram cerca de 12 milhões de pessoas no mercado de trabalho com ensino superior. Cerca de 3,1% da população ocupada. Em 2024, esse valor saltou para 22,4 milhões de pessoas, o que dá 22% da população ocupada”.
Assim, com uma maior oferta de mão de obra qualificada com ensino superior, houve uma redução do prêmio salarial.
O outro fator que explicaria a redução dessa média salarial é o aumento da informalidade das pessoas com maior escolaridade.
João Pio pondera que, no ano de 2015, cerca de 14% da população com ensino superior era informal, mas que, em 2024, isso saltou para 19,4%.
“No mercado informal, e isso vale para todas as categorias de trabalho, paga-se menores salários. Então a média salarial que a PNAD pega, cai. Essas duas variáveis explicam quase 100% dessa perda da média salarial”, diz
Mesmo com perdas relativas, trabalhadores com maior nível de escolaridade continuam recebendo as maiores remunerações.
Ainda conforme o economista-chefe da Fiemg, pode haver, a médio prazo, uma pequena recuperação da média salarial das pessoas com ensino superior, tendo em vista a entrada de novas tecnologias nas cadeias produtivas.
“O que nós observamos nos últimos dois anos é a inteligência artificial entrando com tudo no mercado. Quem não aplicá-la, do ponto de vista da competitividade, ficará para trás. Então, temos uma nova tecnologia que vai exigir uma mão de obra mais qualificada. é possível que o diferencial salarial volte a aumentar, com um reequilíbrio de uma adaptação com a entrada destas novas tecnologias”, analisa.