Novo presidente da Câmara defende reconstrução de diálogo com PBH, mas mantém possibilidade de CPIs

Juliano Lopes (Podemos) foi eleito chefe do Legislativo de BH na semana passada
"Da minha parte não tem qualquer tipo de restrição ou mágoa em relação ao executivo, mesmo caso o Álvaro assuma a prefeitura". Foto: Rafaella Ribeiro/CMBH
"Da minha parte não tem qualquer tipo de restrição ou mágoa em relação ao executivo, mesmo caso o Álvaro assuma a prefeitura". Foto: Rafaella Ribeiro/CMBH

O novo presidente da Câmara Municipal de Belo Horizonte, vereador Juliano Lopes (Podemos), demonstrou disposição para reconstruir o relacionamento com a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), embora mantenha a independência do Legislativo, incluindo a possibilidade de instauração de CPIs.

“A Câmara Municipal é, de fato, um poder independente e nós temos que trabalhar de forma harmônica com a prefeitura de Belo Horizonte. Caso a prefeitura queira restabelecer o diálogo, nós estamos com as portas abertas”, declarou Lopes, ressaltando que representa 41 vereadores eleitos pela população.

Em relação ao prefeito Fuad Noman, com quem já integrou a base governista, Lopes mostrou-se aberto à reconciliação. “Não vejo qualquer tipo de problema em relação à reconstrução do relacionamento com o prefeito Fuad. Sempre fui muito bem tratado e respeitado pela prefeitura em todos os aspectos”, afirmou, condicionando apenas que a Câmara mantenha sua independência.

A disposição para o diálogo se estende também a um eventual governo do vice-prefeito Álvaro Damião, caso Fuad necessite se licenciar por questões de saúde por mais tempo – neste sábado (4), o prefeito se licenciou por 15 dias. “Da minha parte não tem qualquer tipo de restrição ou mágoa em relação ao executivo, mesmo caso o Álvaro assuma a prefeitura”, destacou.

No entanto, Lopes fez questão de ressaltar que as Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) permanecem como instrumento democrático à disposição do Legislativo. “Eu não posso dizer que acabaram as CPIs na Câmara Municipal, é uma ferramenta democrática que os vereadores têm, caso queiram investigar qualquer assunto na cidade de Belo Horizonte”, explicou o presidente.

O novo presidente se colocou à disposição para reuniões com o executivo municipal nas próximas semanas, sinalizando uma postura mais conciliatória em comparação com a gestão anterior.

Veja a entrevista completa:

  • Você está na Câmara há mais de uma década e, na última legislatura, foi vice-presidente. Agora como chefe do Legislativo, quais prioridades enxerga para esse primeiro ano como presidente?

“Realmente tenho muita experiência, são quase 12 anos. Passei pelas principais comissões da Câmara Municipal, seja como presidente ou como membro, e também pelos principais cargos da mesa diretora. Temos vários desafios, mas o principal neste ano é tornar a Câmara Municipal realmente uma casa democrática, pois o último presidente, nos seus últimos dois anos, sempre agiu de forma arbitrária e por interesse próprio.”

  • Há algum tema específico que você pretende focar nesse primeiro ano?

“Há vários temas que precisam ser debatidos na Câmara Municipal, mas vejo um tema específico muito importante: a mobilidade urbana de Belo Horizonte. Todos sabemos que a situação está caótica, e a Câmara Municipal, através das suas comissões, especialmente a Comissão de Transporte, pode promover esse debate e trazer soluções para que, junto com a prefeitura, possamos amenizar o problema caótico do trânsito na cidade. Portanto, mobilidade urbana é, na minha opinião, uma grande prioridade para Belo Horizonte.”

  • A eleição da Câmara foi disputada e se encerrou com algumas trocas de acusação e até envolvimento do MPMG. Como fica a relação com os parlamentares que apoiaram Bruno Miranda?

“Em relação ao meu relacionamento com os parlamentares que apoiaram o vereador Bruno Miranda, a disputa já passou. Temos quatro anos pela frente e, da minha parte, não haverá qualquer tipo de vingança ou perseguição, pois são vereadores e precisamos manter o respeito, não só com eles, mas com todos os vereadores da Câmara Municipal.”

  • E a relação com a PBH? As falas foram fortes, recheadas de críticas ao vice-prefeito Álvaro Damião e outros interlocutores do grupo político dele. Será um início de relação estremecida?

“Da minha parte, não vejo qualquer tipo de relação estremecida. A Câmara Municipal é, de fato, um poder independente e precisamos trabalhar de forma harmônica com a Prefeitura de Belo Horizonte. Caso a prefeitura queira restabelecer o diálogo, estamos com as portas abertas, pois represento hoje 41 vereadores que foram eleitos pela população de Belo Horizonte para trazer o melhor para essa população.”

  • Apesar do desgaste, você já foi membro da base do governo Fuad. Acredita em chance considerável de reconstruir essa relação?

“Não vejo qualquer problema em relação à reconstrução do relacionamento com o prefeito Fuad. Da minha parte, sempre fui muito bem tratado e respeitado pela prefeitura em todos os aspectos. Podemos, sim, reconstruir isso, desde que a Câmara Municipal mantenha sua independência.”

  • O prefeito enfrenta uma situação de saúde mais delicada. No caso de ele optar por se concentrar no tratamento e recuperação, e se licenciar por mais tempo para Damião assumir, como prevê essa relação com o Executivo?

“Caso isso aconteça e o Álvaro assuma a Prefeitura de Belo Horizonte, da minha parte também não vejo qualquer tipo de problema. Conheço o Álvaro há alguns anos – atuamos na área do esporte, eu como árbitro profissional, ele como repórter e comentarista. Não tenho qualquer tipo de restrição ou mágoa em relação ao Executivo, mesmo que o Álvaro assuma a prefeitura.”

  • Há quem aposte que a prefeitura não tenha tantos projetos prioritários para esse ano, já que reforma e empréstimos foram aprovados em dezembro. Você discorda dessa avaliação?

“Quanto aos projetos que a prefeitura enviará para a Câmara este ano, não cabe a mim me manifestar. Não sei quais tipos de projetos virão ou se serão enviados. No entanto, temos durante o ano audiências públicas e temas importantes que precisam ser debatidos na Câmara, e esperamos poder discuti-los junto com os vereadores nas comissões.”

  • Anselmo Domingos foi um aliado seu desde o início de sua trajetória política, e acabou se distanciando da PBH por conta da disputa na Câmara. Você acredita que um retorno de Anselmo possa pacificar as relações?

“A forma como o ex-deputado estadual e ex-secretário de governo Anselmo Domingos foi retirado da prefeitura é um absurdo. Podem consultar os 41 vereadores e perguntar em que momento ele pediu qualquer tipo de voto para a presidência, no caso da minha chapa. Anselmo é um homem do diálogo, uma pessoa equilibrada e correta em suas atitudes. Tenho certeza de que, caso a prefeitura queira trazê-lo de volta, será muito importante, não só pelo relacionamento com a Câmara, mas por ser um quadro muito importante para a Prefeitura de Belo Horizonte.”

  • Há previsão de que a presidência da Câmara se reúna com o prefeito em exercício nas próximas semanas?

“Caso o prefeito queira se reunir com o presidente da Câmara, estou à disposição para essa reunião.”

  • No que a gestão do ex-presidente Gabriel errou e o que a sua gestão irá fazer de diferente?

“O erro do ex-presidente Gabriel Azevedo foi conduzir a Câmara Municipal de forma arbitrária e autoritária. Como ele sempre quis ser prefeito de Belo Horizonte, usou a Câmara Municipal para benefício próprio e para atrapalhar a gestão Fuad. Pretendo conduzir a Câmara Municipal de forma democrática, ouvindo todos os 41 vereadores e mantendo o diálogo sempre aberto com a Prefeitura de Belo Horizonte, sem interesses próprios.”

  • Com a saída do Gabriel, acabou o tempo das “várias” CPIs?

“Não posso dizer que acabaram as CPIs na Câmara Municipal. É uma ferramenta democrática que os vereadores têm caso queiram investigar qualquer assunto na cidade de Belo Horizonte. Cabe aos vereadores manifestarem, caso queiram, qualquer tipo de CPI na Câmara Municipal.”

  • Qual o segredo da chamada “Família Aro”? Você conseguiu votos do PL, do Novo, e um do PV, que forma a federação com o PT. Como se negocia uma aliança dessas?

“A ‘Família Aro’ é realmente muito unida – esse é o segredo. Essa união acontece sob a liderança do secretário da Casa Civil, Marcelo Aro, que é visto no meio político como alguém que cumpre acordos e compromissos. Quanto aos partidos, sejam de esquerda ou de direita, eles confiaram em mim porque a maioria conviveu comigo nas legislaturas passadas e conhece minha forma democrática e neutra de conduzir o trabalho, respeitando o ponto de vista e as ideologias de todos. Vejo de forma natural essa pluralidade de partidos, que conhecem nosso trabalho e com os quais sempre mantive um bom relacionamento.”

  • Todos criticam a polarização política pela forma intolerante que ela se dá. O que você pensa a respeito?

“A esquerda e a direita precisam ser respeitadas, mas sou contra qualquer tipo de radicalismo, tanto de um lado quanto do outro. Sou sempre a favor do equilíbrio das forças.”

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