Uma sequência de atritos políticos e de perda gradual de influência na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) culminou na saída de Gustavo Valadares (PMN) da Secretaria de Estado de Governo nesta quarta-feira (12). Interlocutores revelaram a O Fator que a relação de Valadares com o presidente da ALMG, Tadeu Leite (MDB), estremeceu de vez em dezembro, durante as articulações para a formação da nova Mesa Diretora da Casa.
O primeiro sinal de desgaste surgiu após um desentendimento entre Valadares e Tadeu na negociação para a formação da chapa única que concorreu ao comando do Legislativo. Pelo que apurou O Fator, o presidente da Casa não teria aprovado a condução das tratativas por parte do então secretário, criando um mal-estar que se refletiu nas decisões subsequentes da Assembleia.
Como consequência direta desse episódio, aliados do governo de Romeu Zema (Novo) perderam espaço significativo na composição das comissões temáticas da ALMG, estruturas fundamentais para a tramitação de projetos de interesse do Executivo. A situação se agravou com a recente saída do PL do bloco de apoio ao Executivo, enfraquecendo a base governista.
O ponto de ruptura veio na semana passada, com a indicação do deputado Noraldino Júnior (PSB) para liderar o bloco “Avança Minas”, uma das coalizões de apoio a Zema na Assembleia. Valadares, que chegou a articular junto a outros parlamentares para impedir a escolha de Noraldino, feita com aval do presidente da ALMG, Tadeu Leite (MDB), demonstrou forte insatisfação com a nomeação.
Fontes próximas ao ex-secretário indicam que Valadares temia ser “boicotado” por novas lideranças da Casa, especialmente por Noraldino Jr. Além disso, havia preocupação de que o cenário adverso pudesse comprometer não apenas o trabalho do Palácio Tiradentes junto à Assembleia, mas também sua possível candidatura ao Tribunal de Contas do Estado (TCE-MG).
A saída de Valadares pegou a maioria dos deputados de surpresa, com muitos tomando conhecimento apenas após a publicação de O Fator nesta manhã.
Para seu lugar, foi designado Marcelo Aro (PP), Secretário de Estado da Casa Civil. Aro, assim como Valadares antes da saída, integra o núcleo de articulação política do governo Zema.
Em nota oficial, Valadares buscou minimizar as tensões, agradecendo a Zema e ao vice Mateus Simões (Novo). “Foi um período de grande aprendizado, conhecendo melhor as complexidades e oportunidades de Minas e me aproximando ainda mais de cada região do estado”, afirmou. O comunicado também destacou o relacionamento com deputados e servidores durante sua gestão.
Olho em 2026
Valadares chefiava a Secretaria de Governo desde julho de 2023, após ter atuado como líder do governo na Assembleia. Com sua saída, João Júnior, do PMN, volta a ser suplente na ALMG.
Nos bastidores, a escolha de Aro para substituí-lo é vista como sinal do caminho que o Novo mineiro pretende trilhar rumo às eleições de 2026. Para a sucessão de Zema, o partido já trabalha para lançar Mateus Simões — e, inclusive, reestruturou a composição da Executiva estadual com dirigentes considerados estratégicos para a formação das alianças em torno de Simões. Aro, por sua vez, entraria na equação como possível candidato ao Senado Federal, como aconteceu em 2022.