Os valores da repactuação de Mariana para cada município atingido e o dilema dos prefeitos

Municípios podem receber de R$ 39 milhões a R$ 1,22 bilhão por acordo no Brasil, mas teriam que desistir de ação em Londres
O rompimento da barragem de Fundão, em 2015, matou 19 pessoas e gerou dano ambiental ainda incalculável
O rompimento da barragem de Fundão, em 2015, matou 19 pessoas e gerou dano ambiental ainda incalculável. Foto: Léo Rodrigues/Agência Brasil

Prefeitos de 49 municípios atingidos pelo rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, têm até 6 de março para decidir se aceitam valores que variam de R$ 39 milhões a R$ 1,22 bilhão, pagos ao longo de 20 anos, como parte da repactuação do acordo de Mariana feito no Brasil. A adesão ao acordo, no entanto, implica na desistência da ação judicial que corre em Londres contra a mineradora BHP Billiton, que promete indenizações potencialmente maiores.

Mariana, epicentro do desastre, tem a maior parcela dos recursos previstos pela repactuação brasileira: R$ 1,22 bilhão. O prefeito Juliano Duarte (PSB), no entanto, já anunciou que pretende aguardar os trâmites judiciais do julgamento na Inglaterra – a expectativa é que os juízes londrinos tenham uma decisão até o meio do ano sobre o mérito do processo. Depois, uma nova fase seria aberta na Corte, inclusive sobre os valores a serem indenizados.

Depois de Mariana, aparecem Rio Doce e Santa Cruz do Escalvado com os maiores valores previstos pela repactuação, cada um com R$ 244 milhões. Governador Valadares terá direito a R$ 272,5 milhões, enquanto Linhares (ES) receberia R$ 312,9 milhões.

Entre os municípios mineiros, destacam-se ainda Barra Longa (R$ 366 milhões), Ipatinga (R$ 182,7 milhões), Timóteo (R$ 155,3 milhões) e Ponte Nova (R$ 152,5 milhões). Diversos municípios podem receber R$ 39 milhões cada, como Alpercata, Bugre, Córrego Novo, Dionísio, Fernandes Tourinho, Galiléia, Itueta, Naque, Periquito, Pingo D’Água, São José do Goiabal, São Pedro dos Ferros, Sem Peixe e Sobrália.

A barragem de Fundão era administrada pela mineradora Samarco, uma joint-venture controlada meio a meio pela BHP Billiton e pela Vale. O rompimento deixou 19 mortos e dano ambiental ainda incalculável.

Prazo decisivo

Os gestores municipais têm até 6 de março para decidir entre duas opções: aderir ao acordo brasileiro, que garante os valores estabelecidos na repactuação, ou manter-se como parte da ação coletiva que tramita na Justiça britânica, pleiteando valores potencialmente maiores do que os da repactuação.

Até o momento, doze municípios já aderiram ao acordo: seis em Minas Gerais (Ponte Nova, Córrego Novo, Iapu, Santana do Paraíso, Sobrália e Marliéria) e seis no Espírito Santo (Anchieta, Conceição da Barra, Fundão, Linhares, São Mateus e Serra).

O acordo prevê o pagamento dos valores em 20 parcelas, garantindo recursos para além de um único mandato municipal. Além dos R$ 6,1 bilhões destinados diretamente aos municípios, o pacto inclui investimentos em saneamento, saúde e outras áreas.

Processo em Londres

O julgamento em Londres, que representa 620 mil atingidos, incluindo municípios, pessoas físicas e empresas, realizou 42 sessões e aproximadamente 210 horas de audiências. Durante os interrogatórios, foram ouvidas sete testemunhas da BHP e 10 especialistas.

Entre as argumentações mais significativas do processo, destacam-se que:

  • A Samarco recebeu alertas sobre problemas na barragem seis anos antes do colapso
  • Uma “solução temporária” foi utilizada na estrutura por três anos até seu rompimento
  • A barragem foi classificada como de “mais alto perfil de risco” cinco anos antes da tragédia
  • A empresa não possuía um plano de evacuação adequado para Bento Rodrigues

Os municípios e seus respectivos valores previstos na repactuação:

Minas Gerais:

  • Aimorés: R$ 68 milhões
  • Alpercata: R$ 39 milhões
  • Barra Longa: R$ 366 milhões
  • Belo Oriente: R$ 68 milhões
  • Bom Jesus do Galho: R$ 46 milhões
  • Bugre: R$ 39 milhões
  • Caratinga: R$ 175,8 milhões
  • Conselheiro Pena: R$ 57 milhões
  • Coronel Fabriciano: R$ 136,6 milhões
  • Córrego Novo: R$ 39 milhões
  • Dionísio: R$ 39 milhões
  • Fernandes Tourinho: R$ 39 milhões
  • Galiléia: R$ 39 milhões
  • Governador Valadares: R$ 272,5 milhões
  • Iapu: R$ 39 milhões
  • Ipaba: R$ 57 milhões
  • Ipatinga: R$ 182,7 milhões
  • Itueta: R$ 39 milhões
  • Mariana: R$ 1,22 bilhão
  • Marliéria: R$ 39 milhões
  • Naque: R$ 39 milhões
  • Ouro Preto: R$ 127,7 milhões
  • Periquito: R$ 39 milhões
  • Pingo D’Água: R$ 39 milhões
  • Ponte Nova: R$ 152,5 milhões
  • Raul Soares: R$ 68 milhões
  • Resplendor: R$ 57 milhões
  • Rio Casca: R$ 46 milhões
  • Rio Doce: R$ 244 milhões
  • Santa Cruz do Escalvado: R$ 244 milhões
  • Santana do Paraíso: R$ 205,8 milhões
  • São Domingos do Prata: R$ 57 milhões
  • São José do Goiabal: R$ 39 milhões
  • São Pedro dos Ferros: R$ 39 milhões
  • Sem Peixe: R$ 39 milhões
  • Sobrália: R$ 39 milhões
  • Timóteo: R$ 155,3 milhões
  • Tumiritinga: R$ 39 milhões

Espírito Santo:

  • Aracruz: R$ 144,4 milhões
  • Anchieta: R$ 68 milhões
  • Baixo Guandu: R$ 79 milhões
  • Colatina: R$ 267 milhões
  • Conceição da Barra: R$ 79 milhões
  • Fundão: R$ 57 milhões
  • Linhares: R$ 312,9 milhões
  • Marilândia: R$ 39 milhões
  • São Mateus: R$ 197,8 milhões
  • Serra: R$ 106,4 milhões
  • Sooretama: R$ 79 milhões

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