Boa parte da base do governo Zema na Assembleia mineira jogou a culpa na véspera de feriado por ter tido que recuar no quórum da sessão desta quarta-feira (29) para evitar que a Casa discutisse a inclusão de emendas e mudanças no projeto de reajuste salarial do funcionalismo. Só que, além da folga prolongada nesta quinta e sexta, outros motivos também assombram os governistas: a impopularidade da pauta e o receio de deputados que são pré-candidatos a prefeito.
Desde a manhã desta quarta, as lideranças do governo na Assembleia já articulavam a estratégia de votação. Se as ausências fossem muitas, o plano era esvaziar a sessão para impedir que ela continuasse. E assim foi feito, uma vez que cerca de oito parlamentares classificados como governistas não estavam na Casa. Ao todo, logo após a votação do projeto original em primeiro turno, 21 deputados da base deixaram o plenário para derrubar o quórum.
Além disso, a impopularidade da pauta mostrou-se ainda mais explícita diante da maciça presença de sindicalistas e servidores ao longo de todo o dia. Não apenas as galerias que cercam o plenário, como também a Praça da Assembleia e a Rua Rodrigues Caldas – principal acesso à ALMG – ficaram tomadas por manifestantes, com cartazes, faixas e apitos, deixando um clima de visível tensão entre os parlamentares.
Antes da debandada, alguns deputados da base chegaram a sugerir a votação de emendas autorizativas – ou seja, ficaria a cargo do governo, assim que o texto chegasse à sanção do governador, para decidir o que entraria ou não. A tentativa foi vista por membros do governo como uma forma de parlamentares tentarem jogar a pressão somente para o Executivo.
No texto original, o Executivo prevê um reajuste de 3,6% para o funcionalismo. No caso das forças militares, o projeto é ainda mais polêmico porque também há uma previsão de mudança no regime previdenciário das polícias, o que, na prática, poderia resultar em uma redução real nas remunerações. Na Assembleia, a emenda que mais tem ganhado espaço até aqui prevê reajuste para 10,67%. Com o desfalque dos deputados da base, seria impossível que os governistas vencessem no voto essa proposta.
As ausências de deputados da base são sentidas porque a bancada do PL, que possui o maior número de deputados na Casa, é irredutível quanto ao reajuste “baixo” para, principalmente, as forças policiais. A propósito, a ida da deputada Alê Portela (PL) para a secretaria de Estado de Desenvolvimento Social (Sedese), a ser concretizada na próxima semana, não teve relação com as negociações pelo projeto do funcionalismo, e sim com uma aproximação partidária e programática entre Novo e PL.
A expectativa do governo é que, até a semana que vem, exista um acordo com a oposição para que se vote o projeto em segundo turno e com emendas previamente acordadas. Como O Fator vem relatando, há, em curso, uma tentativa do governo Zema de fazer um novo afago ao PL ajudando deputados do partido a apresentarem um novo texto que consiga conter os ânimos dos servidores.