Redes sociais representam quase 18% do gasto médio dos vereadores eleitos em BH

A partir de estudo da USP sobre a disputa em São Paulo, O Fator levantou dados sobre papel dos meios digitais na eleição em BH
Foto mostra uso de celular
Redes sociais se tornaram trunfo importante para candidatos. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Os 41 vereadores eleitos pela população de Belo Horizonte para a próxima legislatura gastaram, com as redes sociais, média de 17,88% do total de recursos arrecadados por suas campanhas. O percentual foi obtido a partir de levantamento feito por O Fator com base nas prestações de contas enviadas pelos candidatos à Justiça Eleitoral. 

A média belo-horizontina de 17,88% está em consonância com o resultado de um estudo conduzido pelo Monitor do Debate Político no Meio Digital (MDPMD), da Universidade de São Paulo (USP). O levantamento avaliou dados dos 100 candidatos mais votados para a Câmara Municipal da capital paulista e mostrou que cerca de 15% dos votos de um concorrente a vereador podem ser diretamente atribuídos à sua popularidade nas redes sociais. Em comparação, o dinheiro aportado nas campanhas teve um impacto bem menor, representando apenas 5% do sucesso eleitoral.

Campeão de votos em BH e dono do apoio de 39,9 mil eleitores, Pablo Almeida, também do PL, destinou R$ 102 mil a peças publicitárias nas redes sociais. O valor corresponde a 72% de todo o montante arrecadado por sua campanha — cerca de R$ 302 mil. Apenas no Instagram, o parlamentar eleito tem 58,3 mil seguidores.

Segunda mais votada na capital mineira, com cerca de 23,7 mil adesões, Professora Marli, do PP, teve uma campanha com R$ 702 mil em recursos. Do total, 5,3% foram destinados a ações no meio digital. Em que pese a diferença para Pablo nesse aspecto, os dois contaram com padrinhos políticos importantes: ele, do deputado federal Nikolas Ferreira (PL); ela, do secretário de Estado da Casa Civil, Marcelo Aro (PP). 

Já Iza Lourença (Psol), terceira mais votada entre os 41 eleitos e líder de votos do bloco de esquerda, investiu R$ 50 mil nas redes sociais ao longo das semanas de campanha. As cifras representam 9,9% do total gasto por ela, que possui 42 mil seguidores no Instagram.

Quinze dos 18 novos vereadores eleitos possuem mais de 10 mil seguidores nas redes sociais. No topo da lista, está Pedro Rousseff (PT), que teve 17,5 mil votos e acumula 126 mil followers no Instagram.

Popularidade digital é a nova moeda eleitoral?

Nos últimos anos, as redes sociais se tornaram campo de batalha essencial para campanhas eleitorais, especialmente nos grandes centros urbanos. Segundo o professor Márcio Moretto, um dos coordenadores do estudo da USP sobre o impacto das redes sociais na disputa paulistana, plataformas como o Instagram desempenham um papel fundamental nas estratégias dos aspirantes a cargos eletivos.

“Candidatos de todos os partidos estão usando suas redes para divulgar propostas, interagir com concorrentes e aumentar sua visibilidade. O número de seguidores tem sido visto como um possível indicativo de popularidade e apoio eleitoral”, afirma Moretto, a O Fator

Para Malco Camargos, doutor em Ciência Política, especialista em comportamento eleitoral e CEO do Instituto Ver, Pesquisa e Comunicação Estratégica, o fato de os seguidores superarem a importância do volume recursos de campanha não chega a ser uma surpresa. 

“A construção de um relacionamento contínuo com os participantes nas redes sociais é um excelente preditor de votos. Isso cria um vínculo que muitas vezes não pode ser comprado com dinheiro”, explica.

Entretanto, Camargos ressalta que nem todo tipo de popularidade online se traduz em votos.

“Se uma pessoa é famosa por razões cosméticas ou por dar dicas de nutrição, por exemplo, isso pode não influenciar tanto no voto. Mas, se o engajamento for em torno de temas relevantes para a cidade, como questões políticas ou sociais, aí faz todo o sentido”, analisa.

O peso dos ‘padrinhos’

Embora o trabalho da equipe de Márcio Moretto tenha foco no poder das redes sociais e dos recursos financeiros, o sucesso de um candidato a vereador passa também por outros fatores igualmente importantes. Dois deles se destacam: ter um “padrinho político” influente — que emprestará sua influência e rede de contatos aos candidatos — e o chamado “enraizamento local”, ou seja, o nível de influência que o candidato exerce sobre sua própria comunidade. Esses dois elementos juntos representam 80% das chances de vitória, segundo o levantamento.

“O que vemos é que, além da popularidade digital e dos recursos financeiros, o peso de uma liderança política apoiando o candidato e sua ligação com a comunidade são fundamentais para garantir votos”, acrescenta Malco Camargos.

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