O presidente da Câmara Municipal de Belo Horizonte (CMBH), Juliano Lopes (Podemos), diz que o embate público travado em janeiro com o prefeito em exercício da cidade, Álvaro Damião (União Brasil), por causa da disputa pela Mesa Diretora da Casa, está superado. O parlamentar, que afirma estar disposto a estabelecer parcerias com o Executivo em prol de “interesses comuns da população”, chegou a pedir, no mês passado, que a prefeitura estabelecesse uma estimativa para o retorno do prefeito Fuad Noman (PSD) da licença médica. Agora, entretanto, tem outra visão.
“Hoje eu vejo que o melhor caminho não é definir um prazo. Todos nós torcemos pela pronta recuperação do prefeito Fuad Noman, mas enquanto isso não acontece, cabe ao prefeito em exercício, Álvaro Damião, tomar as decisões e definir o que é melhor para Belo Horizonte”, aponta, em entrevista exclusiva a O Fator.
A conversa entre Juliano Lopes e a reportagem aconteceu na sexta-feira (7), no gabinete dele na Câmara Municipal. Durante a entrevista, o vereador revelou ter pretensões para a eleição de 2026, listou as prioridades de sua gestão na Câmara Municipal e abordou temas como a redação de um novo contrato com as empresas de ônibus da cidade.
Leia, a seguir, os principais pontos da entrevista com Juliano Lopes:
No início do ano, após a disputa pela presidência da Câmara, o senhor chegou a chamar o vice-prefeito Álvaro Damião de ‘pateta’. Se arrepende da declaração? Como está a relação com o Executivo neste momento?
Esse episódio está superado. Depois daquele momento no dia da posse, o prefeito em exercício me ligou e, desde então, estabelecemos um diálogo construtivo pelo bem da cidade. O Legislativo é um poder independente da prefeitura, mas isso não impede que possamos trabalhar em defesa dos interesses comuns da população de Belo Horizonte.
Sua candidatura a presidente da Câmara era de oposição à gestão Fuad?
Nunca tive nenhum atrito com o vereador Bruno Miranda (filiado ao PDT e candidato apoiado por Damião). Pelo contrário: sempre tivemos uma relação de respeito e seriedade. A minha eleição para presidente da Câmara não foi resultado de uma disputa entre vereadores da base e da oposição ao prefeito Fuad Noman. Foi uma vitória da Câmara. Quem acompanhou os últimos anos do Poder Legislativo municipal sabe que a minha eleição já deveria ter acontecido anteriormente, fruto de um entendimento da maioria dos parlamentares.
No mês passado, o senhor chegou a dizer que a prefeitura precisava definir rapidamente sobre um possível afastamento definitivo de Fuad ou acelerar os debates sobre o retorno dele. Que avaliação faz desse assunto no momento?
Hoje eu vejo que o melhor caminho não é definir um prazo. Todos nós torcemos pela pronta recuperação do prefeito Fuad Noman, mas enquanto isso não acontece, cabe ao prefeito em exercício, Álvaro Damião, tomar as decisões e definir o que é melhor para Belo Horizonte. Não é atribuição da Câmara determinar ritos e arbitrar sobre decisões constitucionais do Poder Executivo.
O senhor almeja disputar um outro cargo na eleição do ano que vem?
Tenho, sim, o desejo de disputar as eleições de 2026. Pertenço a um grupo político, liderado pelo secretário estadual de Governo, Marcelo Aro (PP), e por isso ainda não tenho uma decisão definitiva. Minha ideia inicial é ser candidato a deputado estadual pelo Podemos, partido ao qual estou filiado, mas isso dependerá de articulações que serão concluídas em 2026. A legislação não exige que me licencie da presidência para ser candidato. Por isso, não há impedimento legal para eu dispute as eleições na condição de presidente da Câmara Municipal.
Os vereadores de Belo Horizonte têm tido voz ativa no processo de regulamentação dos serviços de mototáxi na cidade. Qual será o papel da Câmara nesse debate?
Não vejo forma de proibir este tipo de serviço na nossa cidade. O que eu defendo é que seja construída uma regulamentação. Idade mínima, tempo de habilitação, regras básicas para os passageiros, tudo isso precisa passar por um debate junto ao Poder Público. Minha visão é de que, juridicamente, o projeto de regulação deverá partir da Prefeitura de Belo Horizonte, obviamente ouvidas e respeitadas as contribuições do Poder Legislativo.
Que balanço o senhor faz do Carnaval de BH?
Acredito que este é um caminho sem volta em nossa cidade. Tive a oportunidade de acompanhar vários blocos, e os organizadores da festa estão de parabéns. Tivemos, por exemplo, o privilégio de entregar o título de Cidadã Honorária de Belo Horizonte à cantora Vannick Belchior, filha do célebre compositor cearense. A homenagem foi prestada pela Câmara Municipal, mas fiz questão de convidar o prefeito em exercício, Álvaro Damião, que também estava acompanhando o bloco “Volta, Belchior”, para subir no trio e estar ao nosso lado.
Recentemente, a Câmara instalou uma comissão para debater o contrato com as empresas de ônibus. A ideia é fornecer sugestões ao novo acordo, já que o atual vence em 2028. Essa é uma oportunidade histórica para a cidade?
Acredito que a comissão criada para analisar o contrato da prefeitura com as empresas de ônibus irá desempenhar um papel central na cidade. Todos os vereadores do colegiado (Fernanda Altoé, Novo; Pedro Rousseff, PT; Pablo Almeida, PL; Helton Júnior, PSD; Rudson Paixão, Solidariedade) são engajados nesse tema e, principalmente, preparados para garantir à população de Belo Horizonte a transparência e a seriedade que esse assunto merece.
Que legado como presidente da Câmara o senhor pretende deixar?
Não é segredo para ninguém a minha avaliação de que a Câmara Municipal vivia uma ditadura até o fim de 2024. O que eu quero deixar como marca é que é possível ter um Poder Legislativo independente, soberano, pautado sobretudo pela transparência e pela harmonia. Ainda que existam projetos em tramitação que envolvam questões ideológicas e visões divergentes, nossa postura será sempre em busca do diálogo e do respeito aos parlamentares.