A Esquerda, o Centrão e a Extremíssima Direita

O mundo não é necessariamente maniqueísta; rotular toda oposição como ‘extrema direita’ é simplista e não contribui para o debate
Nicolás Maduro, presidente da Venezuela.
Mundo ficou perplexo com a cara de pau do ditador socialista Nicolás Maduro. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Quantas vezes o leitor já se deparou com a expressão “extrema direita” em reportagens ou notícias? Ao navegar por portais de notícias ou assistir a programas de política e economia, pode-se ter a impressão de que o mundo vive sob um regime totalitário comandado por ditadores radicais de direita ou está constantemente à beira disso.

Atualmente, os espectros políticos parecem se resumir a três categorias:

Esquerda: políticos progressistas, modernos, que defendem a democracia, pautas ambientais e sociais, igualdade social, ciência, artes e cultura. Almejam a harmonia entre os povos, com o Estado regulando todas essas discussões.

Centrão: políticos mais velhos e desgastados, que também defendem a democracia, mas não dão tanta importância às pautas ambientais e sociais. Eles conseguem dialogar com grupos progressistas em nome da governabilidade, porém são movidos por interesses próprios, defendem os mesmos grupos há anos e estão frequentemente envolvidos em escândalos de corrupção. Farão qualquer coisa pelo poder.

Extrema Direita: considerados maus. Supostamente querem destruir o meio ambiente e implementar uma ditadura cristã/judaica. Pretendem desregulamentar a economia em prol das grandes corporações capitalistas, defendem uma ditadura patriarcal e veem a família como um instrumento de opressão às minorias. Além dessas características, ao que parece, existe uma nova corrente de extrema direita —independentemente da corrente ideológica, mesmos comunistas assumidos, quando desagradam certos grupos, logo se tornam extremistas de direita. 

Se eu dependesse apenas da mídia tradicional para me informar, certamente essa seria a minha visão de mundo. Em qualquer eleição, parece que o lado oposto aos candidatos de esquerda é retratado como a própria encarnação do mal. Todo político que se posiciona como oposição à esquerda é rotulado de extrema direita ou velhos cansados, quando não ambos. Exemplos incluem Bolsonaro, Milei, Trump, Boris Johnson (Reino Unido), André Ventura (Portugal), Giorgia Meloni (Itália) e Marine Le Pen (França).

A grande imprensa profissional parece ter perdido qualquer senso crítico. É como se seguissem um manual: rotular, descredibilizar, potencializar críticas, satirizar e provocar. Curiosamente, esses mesmos especialistas alegam que o mundo está mais polarizado e intolerante.

O papel do jornalismo ou do especialista político é buscar compreender e explicar as propostas e motivações de partidos e ideologias políticas, bem como a aceitação da população nesse contexto. O mundo não é necessariamente maniqueísta, ou seja, uma eterna luta entre o bem e o mal. Rotular toda oposição como “extrema direita” é simplista e não contribui para o debate. O jornalismo, especialmente na era das redes sociais, está se tornando cada vez mais torcedor. A imprensa, ao se passar de isenta, dobra a aposta em estratégias de comunicação enviesadas. Quando algum candidato de direita fala ou faz algo indevido, é sumariamente taxado ou condenado como “ofensivo”; já quando é alguém do campo progressista, é considerado apenas um “deslize”.

Nessa linha, nos últimos dias o mundo ficou perplexo com a cara de pau do ditador socialista Nicolás Maduro. Todas as pessoas que acompanham a política venezuelana tinham certeza que o processo eleitoral seria controverso, vergonhoso e claramente manipulado. Para surpresa de zero pessoas foi exatamente o que ocorreu. Intimidação por parte de governistas em colégio eleitorais, sumiço com atas de votação, falhas em sistemas de contagem de votos, prisão de opositores, contagem de votos que ultrapassavam 100% de votantes, um verdadeiro show de horrores.

Mas a cereja do bolo foi a cobertura da imprensa brasileira (nem entraremos aqui na ridícula postura do governo federal, que também surpreendeu zero pessoas). Jornais e veículos de imprensa logo se propuseram a tratar Maduro como um radical conservador de direita, um “bolsonarista”, segundo alguns especialistas. Nicolás Maduro, para parte da mídia, tornou-se um expoente da extrema direita, assim como Vladimir Putin, um ex-agente do serviço secreto soviético, que controla a Rússia há décadas. A cobertura de parte da mídia brasileira não se permite criticar governos de esquerda ou extrema-esquerda, como é o caso da Venezuela e Cuba, por exemplo.

Interessante notar que as pessoas estão cada vez mais atentas a isso. As redes sociais, embora muitas vezes tornem as discussões mais acaloradas, quebraram o monopólio da verdade. Anos atrás a “verdade” era relatada nos jornais de domingo ou na televisão aberta às 20h, sem contraditório.

A busca por informação em outros meios que não a mídia tradicional incomoda muita gente. É mais fácil controlar grandes grupos de comunicação em menor número do que pequenos comunicadores em grande número. A discussão sobre regular a mídia ou redes sociais, sob o pretexto de combater “Fake News”, é, na verdade, um desejo de censurar e retomar o controle da verdade. Inclusive, Maduro logo após as eleições propôs regulamentar e censurar as redes sociais na Venezuela. Recentemente, no episódio dos memes do ministro Fernando Haddad, veículos de imprensa defenderam aberta e ridiculamente a regulamentação das mídias sociais, sem qualquer racionalidade técnica na discussão. O desequilíbrio no tratamento da imprensa tem gerado uma desconfiança cada vez maior por parte das pessoas, de todos os espectros ideológicos. A conduta do jornalismo e dos comunicadores está cada vez mais em evidência.

Resta saber se eles vão trabalhar para melhorar a comunicação honesta com seu público ou preferir a busca pela reconquista do monopólio da verdade.

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