Costumo repelir com veemência o “argumento de autoridade”. Contudo, permitam-me um momento de franqueza: às vezes, me pego questionando se não seria sensato, em momentos de dúvida, partir do princípio de que o sujeito mais “entitulado” tem mais chances de estar certo do que o menos “entitulado”.
Vejamos, por exemplo: sem saber como pensa o Professor Titular de Física Nuclear do Massachusetts Institute of Technology (MIT) e o Encarregado de Fotocopiadora da empresa, considero mais prudente optar pela opinião do primeiro, caso algum dia eu precise desarmar uma bomba atômica.
Da mesma forma, quando doente, mesmo sem saber como é que funcionam os remédios, sempre prefiro tomar aqueles que me foram receitados por meu médico do que os que foram indicados pelo meu mecânico.
Obviamente, nem sempre o argumento do indivíduo com mais autoridade sobre o assunto é melhor do que o argumento do indivíduo com menos autoridade. Mas eu me recuso acreditar que décadas de estudo, reconhecimento mundial e intensa trajetória profissional não signifiquem absolutamente nada.
Ora: é evidente que a opinião de um especialista deve ser análisada com mais atenção do que o palpite de um leigo!
No recente e nada edificante embate diplomático entre Eduardo Bolsonaro e Celso Amorim, parece-me também oportuno comparar suas trajetórias. Limitando-nos às partes dos currículos pertinentes a Direito Internacional e Diplomacia, temos, mais ou menos, o seguinte quadro:
Celso Amorim | Eduardo Bolsonaro |
– Professor de Relações Internacionais. – Diplomata de Carreira. – Ministro das Relações Exteriores. – Indicado pela revista americana Foreign Policy como “melhor chanceler do mundo. – Doutor Honoris Causa por duas universidades. – Formado no Instituto Rio Branco. – Pos Graduado em Relações Internacionais pela Universidade de Viena. – Aluno da Londo School of Economics. – Professor de Ciência Política e Relações Internacionais da Universidade de Brasília – Representante do Brasil no Acordo Geral de Tarifas e Comércio. – Negociador Chefe da América Latina na Criação da Organização Mundial do Comércio – Ministro das Relações Exteriores – Secretário Geral do Itamaraty – Embaixador Brasileiro no exterior. – Membro Efetivo da Comissão Canberra sobre a Eliminação de Armas Nucleares – Membro do Conselho de Segurança das Nações Unidas – Prêmio de “Estadista global” no Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça – Prêmio “Bravo Business” da revista Latin Trade, na categoria “Innovative Leader of the Year” – Ministro da Defesa – Assessoria especial da Presidência da República para Política Internacional. | – Fritou hambúrguer em Intercâmbio nos Estados Unidos. |
Não sei vocês, mas se eu não soubesse exatamente o que cada um pensa, sei quem escolheria para desarmar uma bomba diplomática.
Afinal, quando a questão é complexa e a experiência conta, há algo confortante em confiar na diplimacia do sujeito que não só estudou para saber o que faz um “chanceler”, mas que também já foi eleito o melhor do mundo nessa função, ao invés de alguém cuja maior realização internacional envolveu um avental e uma chapa quente (experiência essa que, até hoje, permanece incomprovada).