Kertzman, opinião: Zema faz o que todos pedem, e todos o criticam; entenda

Não fosse a chatice inerente ao jornalismo e, em alguns casos, o viés ideológico, governador e contratada seriam elogiados
Governador de Minas, Romeu Zema, e Flavio Roscoe, presidente da Fiemg, são parceiros e aliados
Governador de Minas, Romeu Zema, e Flavio Roscoe, presidente da Fiemg, trabalham em conjunto (Foto: Jacinto Júnior/Fiemg)

Se tem um bicho chato nesse mundo é advogado. Mas tanto – ou mais – quanto, é o tal do jornalista. Para minha inenarrável alegria, meus melhores e mais longevos amigos são advogados, e há 8 anos trabalho com jornalismo. Fala sério! 

A imprensa (responsável e independente) é das mais importantes instituições de qualquer país que se pretenda desenvolvido e democrático. Não inventaram, até hoje, uma nação próspera e livre sem o chamado “quarto poder”.

Uma das missões fundamentais da imprensa é a fiscalização do Poder Público. O jornalismo investigativo, analítico e opinativo é pilar fundamental do Estado Democrático de Direito e guia imprescindível à opinião pública.    

ENTRE TAPAS E BEIJOS

Com efeito, poucas relações são tão incestuosas e/ou conflitantes como da imprensa com os governos – quaisquer governos. Via de regra, ou chafurdam em conluios de poder e dinheiro, ou vivem em lados opostos – inclusive nos tribunais.

Porta-voz (em muitos casos) da sociedade, a imprensa vigia e cobra dos governantes os cinco princípios básicos da administração pública, quais sejam: legalidade, impessoalidade, publicidade, moralidade e eficiência. 

VAMOS AO QUE IMPORTA

Um certo governador de estado, acaba de nomear para um importante cargo na sua secretaria de Fazenda, a seguinte profissional: 

Fulana de Tal, reconhecida nacionalmente pela atuação em prol da desburocratização e da simplificação tributária, formada em Direito pela UFMG, diretora da Associação Brasileira de Direito Tributário (ABRADT), primeira mulher a presidir o Conselho de Contribuintes do Estado de Minas Gerais (CCMG), ex-integrante da Comissão Permanente de Revisão e Simplificação da Legislação Tributária de Minas Gerais, relatora da Comissão da Simplificação de Obrigações Acessórias do Estado. 

Ao longo de toda a carreira, publicou inúmeros artigos em livros técnicos sobre direito tributário e foi homenageada nas obras ‘’O Contencioso Administrativo Fiscal no Estado de Minas Gerais’’ e ”A Defesa Administrativa do Contribuinte Mineiro” pelos trabalhos desenvolvidos durante sua trajetória profissional. Fulana de Tal deixou a entidade em que trabalhou durante os últimos 34 anos, exercendo a função de advogada, atuando incessantemente pela defesa dos interesses dos contribuintes. Posteriormente, fundou e assumiu a Gerência de Assuntos Tributários da instituição.

OS CINCO PRINCÍPIOS

Bem, com um currículo desses, não há como negar que o governador contratou muito bem. Principalmente, levando-se em conta a diferença salarial entre o setor público e o privado, convencer alguém deste nível a ingressar no Estado não deve ser tarefa fácil. Assim, seja pelo lado do contratante como da contratada, o que não faltou, no caso, foi EFICIÊNCIA.

A contratação também obedeceu todos os parâmetros formais e legais, portanto, presentes a MORALIDADE e a LEGALIDADE. 

Ao que consta, o governador não conhecia intimamente ou mesmo mantinha relação de amizade com a contratada. Observada, pois, a IMPESSOALIDADE.

Por último, mas não menos importante, temos o quinto princípio básico da administração pública: PUBLICIDADE. A nomeação foi anunciada e devidamente publicada no Diário Oficial.

NOMES AOS BOIS

Não fosse a chatice inerente ao jornalismo e, em alguns casos, o viés ideológico, governador e contratada seriam elogiados. Mas…

A profissional chama-se Luciana Mundim e seu pecado, vejam só, foi ser uma excepcional gerente da FIEMG (Federação das Indústrias de Minas Gerais), uma das mais importantes e respeitadas entidades de classe do Brasil e do mundo, o que a habilitou ser contratada pelo governador Romeu Zema (Novo) como Secretária-Adjunta de Fazenda do Estado.

Parte da imprensa mineira noticiou o seguinte: “Zema põe a Fiemg no alto comando da Fazenda estadual”. Ou: “Zema nomeia gerente da Fiemg como número 2 da Secretaria de Fazenda”. Ou ainda: “Profundas e isentas mudanças”. Na boa, tem de ser muito desonesto intelectualmente (no mínimo), para seguir neste tipo de abordagem editorial.

Ex-Fiemg, Luciana Mundim de Mattos Paixão foi nomeada Secretária Adjunta de Fazenda de Minas Gerais
Ex-Fiemg, Luciana Mundim foi nomeada Secretária Adjunta de Fazenda de Minas Gerais (Foto: Fiemg/Divulgação)

“Ah, Ricardo, deixe de ser inocente! Ou você acha que a indicação não partiu do Flávio Roscoe (presidente da Fiemg) e Zema (um aliado) aceitou correndo?”

Bem, sinceramente, eu espero que a indicação tenha, senão partido, ao menos sido avalizada pela presidência da FIEMG, ora. E ainda bem que, em Minas, o governador e uma das mais importantes entidades de classe do Estado, ao lado de outras como FAEMG, FECOMÉRCIO etc. caminham juntos. Estranho e danoso seria o oposto.

TEORIAS DA CONSPIRAÇÃO

Fico tentando entender as críticas e ironias no caso. Aparelhamento da máquina ou apadrinhamento político não fazem sentido. A Fiemg não ganharia nada, a profissional, muito menos, e o governador, este sim, ganharia, ou melhor, ganhou uma baita profissional a “baixo custo”. Que bom, né? O contribuinte, aqui, agradece.

Luciana não terá a função – nem como – promover benefícios à indústria mineira em detrimento do Estado e dos mineiros. Tudo o que fizer, dentro de suas prerrogativas funcionais, restará circunscrito e sob as leis, inclusive, a depender do caso, à mercê do Legislativo.

Também não terá a seu dispor orçamento secreto, verbas parlamentares, cargos de livre nomeação, fundo eleitoral… Ou seja, que diabo essa moça poderá fazer para beneficiar a Fiemg, Zema ou o raio que o parta, que justifique a reação maldosa em seu desfavor?

ENCERRO

Alguns cobram tanto eficiência estatal, e quando isso se torna realidade, ao invés de aplaudirem, por puro receio (de serem chamados de “chapa branca”), interesses (políticos e/ou financeiros) ou mesmo apego cego à crítica (como se o contrário fosse proibido no jornalismo), agem de forma retrógrada e contraproducente.

Houve um tempo em que eu mesmo era assim: rabugento, enxergando maldade em tudo, criticando o tempo todo, até que comecei a perceber que nem tudo é 100% ruim – como jamais será 100% bom. E querem saber? Tornei-me um observador e comentarista melhor. Hoje, crítico com mais fundamento e menos superficialidade, além de me permitir enxergar o que há de bom. Porque – acreditem! – sempre há.

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