Eu não diria que envelhecer é bom, ainda que a alternativa seja bem pior, mas há ganhos que, sim, valem muito a pena. Maturidade e (certa) liberdade são dois bons exemplos, nem sempre ao alcance de todos, é verdade. Especialmente nestes dias em que me encontro estudando fora do país, longe da família, de amigos e da rotina vivida durante décadas, ao curso de “caminhadas filosóficas” – como muito bem as apelidou minha filhotinha querida -, sempre ao som de músicas cheias de significado, tenho pensando bastante a respeito.
Estava ouvindo, pela milionésima vez, My Way, na voz de Frank Sinatra. Se alguém não entende o significado de imortalidade, eis a chance. Vidas que deixam legados nunca terminam. Freddy Mercury, Albert Einstein, Winston Churchill… São tantas as personagens históricas do passado, como tantas serão no futuro: Elon Musk, Steve Jobs, Mark Zuckerberg… Sinatra, que meus pais ouviram, ouço eu. E ouvirá, seguramente, minha filha – eita! Se tô falando nela de novo, é hora de visitar Freud (outro imortal, aliás).
Um trecho em especial me motivou a escrever essa coluna: “For what is a man, what has he got? If not himself, then he has naught. To say the things that he truly feels and not the words of one who kneels”. Em tradução livre, e o que realmente me importa: para o que serve um homem? O que ele tem, senão a si mesmo? Para dizer o que realmente sente, e não o que os que se ajoelham querem que seja dito. Com 57 anos, me orgulho de sempre ter sido assim, ainda que tenha me custado muito, mas muito mesmo ao longo da vida.
Tenho dito
Costumo dizer que caí no jornalismo, há oito anos, sem paraquedas. Meu primeiro ato foi a criação do blog – depois coluna – Opinião Sem Medo, no portal UAI, do jornal Estado de Minas. Dali para frente, não parei mais. Rádios Itatiaia e 98, revista e site Istoé, revista Encontro e agora O Antagonista e este O Fator, site mineiro de política e mercados, que fundei ao lado do Lucas Ragazzi, em 2023. Minha maior, e talvez única qualidade: expor, sem medo e de forma independente, meus sentimentos e minhas opiniões.
Ao ouvir o trecho acima (da música), caminhando de volta para casa, a pessoa que me veio à mente foi Felipe Moura Brasil, um ídolo antigo e hoje meu chefe. Quando conversamos sobre minha ida para O Antagonista, em dois minutos de prosa eu sabia que daria certo. Por quê? Ora, como eu, FMB não fala o que os que se ajoelham querem que ele fale. E é justamente por isso que comanda o jornalismo de O Antagonista, o portal mais vigilante e independente do Brasil. Aliás, parabéns pelos 10 anos, O Antagonista.
Bem, como de costume, me perdi em uma longa digressão antes de abordar o assunto principal, no caso, a Prefeitura de Belo Horizonte. Antes de prosseguir, contudo, me permitam mais um desvio: tenho relação pessoal com o prefeito Fuad Noman. Não somos amigos íntimos, mas gostamos muito um do outro. Tal fato, como sabido por todos, jamais interferiu nas minhas análises e críticas políticas. Até porque, por exemplo, também sou amigo – e próximo! – de Gabriel Azevedo, adversário ferrenho de Fuad e um político que questiono muito .
Dias conturbados
O bom de ser totalmente independente – em todos os aspectos – é poder transitar por grupos opostos, desde que formados por pessoas do bem e de ótimo caráter, sendo querido pelo que sou (e não pelo que poderia fazer), respeitado por jamais trair um dos lados ou mesmo servir como “leva e traz”, e, principalmente, por nunca, em tempo algum, deixar de expressar o que penso, ainda que desagrade aos ouvidos. Talvez, também por isso, tenha dado tão certo no mundo da comunicação, algo de que me orgulho muito.
Há dias, acompanho de perto – mesmo de longe – as sucessivas internações do prefeito. Sinto por cada uma delas e sofro com cada uma delas. E tenho muita fé de que, em breve, seu organismo terá vencido as sequelas do tratamento quimioterápico (100% bem-sucedido, aliás). Afinal, Fuad é Galo, porra! Entretanto, conforme já me manifestei no 98 Talks (assista aqui), há uma situação adjacente, que é a chefia do executivo da cidade e, principalmente, a continuidade dos cuidados com a saúde do nosso querido Noman.
Diferentemente do exercício anterior, quando não havia vice-prefeito, já que Fuad assumira após a saída do prefeito eleito Alexandre Kalil, desta vez, o ex-vereador Álvaro Damião está à disposição para o uso de suas atribuições caso necessário. Até o final da semana passada, porém, não havia motivo concreto que motivasse o afastamento temporário do prefeito e sua substituição provisória. Porém, diante da necessidade de mais tempo de internação, não há outro caminho senão o pedido de licença médica (aqui).
Até breve, prefeito
Fuad encontra-se sedado e sob tratamento intensivo, o que, obviamente, o impede de exercer a chefia do executivo municipal. Em democracias mais maduras ou, talvez, em capitais mais maduras que Belzonte, tratar deste assunto seria, digamos, algo relativamente normal. Há horas em que maturidade, racionalidade, responsabilidade e coragem devem falar mais alto que infantilidade, paixão, poder e medo – de se expor ou de ser mal-compreendido. Falar em licença médica e substituição temporária não deveria ser tabu.
Como não padeço dos males acima – ainda que me custe, repito, caro -, não me furto ao debate. Na minha opinião, como confirmada a permanência indeterminada do prefeito no hospital, sob cuidados intensivos, Álvaro Damião deve assumir imediatamente as funções que o cargo exige. É para isso, também, que serve um vice. Usurpar tal condição caracterizaria negação da eleição, desrespeito ao eleitor e, no limite, desobediência à ordem constitucional. Não há razão alguma para isso acontecer em Belo Horizonte.
Conheço pessoalmente alguns dos principais membros da equipe de Fuad e posso assegurar que são pra lá de competentes e capazes de “segurar as pontas” até a volta do prefeito ao cargo. Porém, como irá demorar um pouco, há o vice-prefeito eleito pronto para assumir. Não há, repito, razão para isso não ocorrer. Aliás, tenho certeza absoluta de que o prefeito também pensa assim. Até porque, mais um pouco e nosso “Fuadão da Massa” estará de volta, “prefeitando” e gritando Galoooo, se Deus quiser. E Ele há de querer.