Lula, o hipócrita da violência seletiva

Será que toda essa crítica (aos atleticanos) também não deveria valer para os cidadãos reprimidos sob regimes autoritários
Nicolás Maduro e Lula no Palácio do Planalto
Com apoio de Lula, Maduro se aproveitou da turma do deixa-disso. Foto: Ricardo Stuckert/PR

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva encontrou um novo alvo para suas críticas: a torcida do Atlético Mineiro. É isso mesmo! Diante da infelicidade de parte da torcida do Galo contra o Flamengo, parece que a indignação de Lula estava ali, afiada, pronta para repreender os vândalos que não souberam perder. É preciso que fique claro: em nenhuma situação a violência é a saída para resolver os conflitos, muito menos no futebol. Porém, é interessante como o presidente, como todo populista de esquerda, com sua essência de fariseu e hipócrita, utiliza desse discurso para fins eleitoreiros.

A questão é: onde está essa mesma revolta seletiva quando falamos das autocracias vizinhas que Lula chama de “amizades estratégicas”? A mesma indignação pública que se manifestou para criticar parte da torcida (que ele se nega a declarar como “parte”) não aparece quando Maduro fecha jornais na Venezuela ou quando Ortega dissolve universidades na Nicarágua.

Ali, Lula muda de tom e adota o famoso “não é bem assim”. No fundo, a mensagem é clara: ditaduras podem silenciar, oprimir e amordaçar — desde que sejam nações irmãs da América Latina, alinhadas ao seu ideário.

Desonestidade intelectual

Essa ironia, por si só, diz muito sobre as prioridades do governo. Quando se trata de torcidas ou da liberdade de imprensa que diverge de seus interesses, Lula toma o microfone e se coloca como defensor da ordem. Mas quando o assunto é a repressão a opositores, a censura a dissidentes e a perpetuação de poder no quintal dos nossos vizinhos, é silêncio. Ou melhor, é apoio disfarçado de “não-intervenção”.

Talvez, no fundo, a “seletividade” não seja a palavra. Seria um cálculo? Afinal, com amigos como esses, quem precisa de críticos?

No entanto, essa dualidade nos obriga a refletir sobre os valores que estamos defendendo. Será que toda essa crítica também não deveria valer para os cidadãos reprimidos sob regimes autoritários? Talvez a coerência esteja em falta para o presidente quando o assunto é futebol, mas, pelo visto, ela parece também escassa no campo da diplomacia.

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