No último sábado, dia 13 de julho, as imagens da tentativa de assassinato do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, percorreram os meios de comunicação provocando comoção, repúdio e solidariedade, dentre outras reações manifestadas por autoridades de diversos países e demais pessoas ao redor do mundo.
Durante um ato de campanha para as próximas eleições presidenciais, promovido no estado da Pensilvânia, o candidato do Partido Republicano foi atingindo por projéteis disparados, possivelmente, do telhado de um edifício próximo ao local do evento. Representantes do FBI e das forças policiais locais que atuam nas investigações confirmaram, em uma coletiva de imprensa, que um homem foi abatido pelo serviço secreto após os vários disparos em direção ao palanque e ao público que participava do evento. O ex-presidente Trump foi atingido de raspão na orelha direita e, pelo menos, outras três pessoas também foram alvejadas pelo atirador, sendo uma delas fatalmente ferida.
Embora poucos centímetros tenham poupado o candidato republicado de um destino ainda pior, a tragédia acertou em cheio o âmago da corrida presidencial estadunidense, num momento em que os candidatos elevavam a agressividade em acusações recíprocas. Joe Biden, pelo lado democrata, destacando os riscos à democracia na eventualidade do retorno de Trump à Casa Branca. Donald Trump, por sua vez, acusando o atual presidente de deliberadamente orquestrar a “destruição” do país por meio do influxo descontrolado de imigrantes e, no cenário internacional, pela política externa em face da guerra na Ucrânia e da incursão de Israel contra o Hamas.
Até o momento, foi divulgada a identidade do atirador mas não se sabe sua motivação, nem mesmo se ele agiu como um “lobo solitário” ou se mais pessoas participaram do atendado contra a vida do ex-presidente. Todavia, o que fica claro é que a polarização entre os eleitores, em decorrência da exacerbação das campanhas que concorrem à presidência dos Estados Unidos, ultrapassou o limite do aceitável e deixará uma cicatriz evidente no aspecto que melhor representa o espírito democrático no processo eleitoral: o debate de ideias dos candidatos junto ao eleitorado para a promoção de uma escolha livre e consciente de quem governará o país nos próximos anos.
No Brasil, as notícias do atentado, inevitavelmente, trouxeram à memória o ataque sofrido pelo ex-presidente Jair Bolsonaro durante a campanha presidencial de 2018. Os bolsonaristas, apostando na reprise do que aconteceu naquela eleição, já comemoram em redes sociais a vitória de Trump em novembro após ter sobrevivido à tentativa de assassinato. Nessa linha, a imprensa repercute que o atentado favorecerá a narrativa do republicado de que vem sendo injustamente perseguido com o objetivo de prejudicar sua campanha eleitoral.
Por outro lado, se o retorno de Trump à presidência já preocupava setores da política no Brasil, a maior exacerbação do debate eleitoral nos Estados Unidos tenderá a reproduzir por aqui uma polarização de magnitude ainda mais elevada, tendo como polos antagônicos – embora, de fato, não sejam – a defesa de democracia e a preservação das liberdades constitucionais.
Se o fatídico “08 de janeiro de 2023” deu ao Brasil um “Capitólio” para chamar de seu, os eleitores estadunidenses decidirão o seu destino político, tragicamente, tendo para si algo equivalente à facada em Bolsonaro.
Resta saber como esse episódio irá (ou não) impactar as próximas eleições, por aqui e por lá.
Nota: Aproveito para divulgar que, quinzenalmente, tratarei de temas relacionados ao governo e à gestão pública, com reflexões sobre acontecimentos no país e no exterior. Agradeço ao Lucas Ragazzi pelo espaço e pela parceria.