O Big Brother e as eleições

Hebert Marcuse é um autor fantástico. Filósofo e sociólogo alemão, naturalizado norte-americano, Marcuse tem como uma de suas principais obras o livro ‘O Homem Unidimensional’. Um dos capítulos do livro fala sobre a conquista da consciência infeliz. Mas o que tem isso que ver com as eleições ou o Big Brother? Marcuse sustenta que a sociedade mergulhada em um padrão de dominação tecnológica se perde em seu teor crítico, é sufocada por novos padrões, cada vez mais novos, de controle. Se no passado os seres humanos tinham uma sujeição direta a uma pessoa, desde o senhor de escravos aos senhores do coronelismo, passando pelos senhores feudais, hoje a dominação advém de mecanismos tecnológicos de limitação e quebra do potencial crítico.

O humano unidimensional é justamente aquele que perde seu teor crítico e passa a acreditar, pura e tão somente, no que lhe afigura como mais conveniente. Abandona a análise histórica para mergulhar no espetáculo. Mecanismos tecnológicos o controlam, mas simultaneamente o alimentam com algum prazer no entretenimento. Estamos em um novo padrão de dominação que sujeita o senso crítico e naturaliza situações de abuso. A consciência infeliz é marcada por uma união pregada no entretenimento tecnológico de oposições naturalizadoras. Há uma racionalidade da negação e da desesperança. A consciência é conquistada para naturalizar a infelicidade. Marcuse sustenta que o princípio do prazer suplanta a realidade e o potencial crítico.

O ser humano se rende ao negativismo, o prazer não é mais encontrado no idealismo para se alterar uma realidade negativa, mas sim no espetáculo. O prazer é encontrado na reafirmação da negatividade. Um conformismo se implanta, em uma aceitação impotente diante do quadro que expressa uma dominação da vida e a desesperança. Solidão? Todos são sozinhos, em maior ou menor medida. Queimadas e mudança climática? Não há mais esperança no caminho da humanidade. Guerra? Fazer o quê… Doença e fome? O mundo sempre foi assim, cada um que tome conta de si. O ser humano passa a se render à desesperança, o entretenimento (o alívio) passa a ser o próprio espetáculo do absurdo.

E na sociedade do espetáculo, unidimensional, na selva tecnológica, a batalha e a confrontação passam a alimentar um sadismo social que encontra no confronto o conforto. É tudo um jogo, é tudo um espetáculo. Na unidimensionalidade, a democracia, forjada para escolher o que seria o bem-comum, passa a ser instrumento de eliminações, a Política é desnaturada para assumir o jogo das paixões destrutivas. A frustração e dor das consciências infelizes encontra na ferocidade seu próprio desafogar da desesperança. Se o Big Brother é o jogo da eliminação do outro, por que não seriam as eleições? Propostas, construção, idealismo crítico? Para quê? Melhor investir no jogo da discórdia. Os próprios debates e campanha eleitoral se transformaram no jogo da discórdia, no espetáculo da eliminação. No confronto que conforta.

O modelo social de desagregação vai para além de partidos políticos, vai para além da economia, vai para além da cultura. Envolve todos os setores sociais estabelecendo uma indistinção de seres e consciências. O sistema de dominação e controle tecnológico se estabelece em uma retroalimentação, na qual o isolamento e teor unidimensional eliminam a crítica transcendente. A naturalização do espetáculo destrutivo assume um círculo vicioso, cada vez mais potente.

O primeiro passo para o rompimento é assimilar e romper com a unidimensionalidade. Somente com a retomada da teoria crítica se pode romper com o ciclo de desesperança e consciências infelizes que é incorporado pela dominação tecnológica na sociedade do espetáculo.

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