Quanto maior a altura maior o tombo, certo? Pois a máxima poderá valer, também, para Minas Gerais e o Brasil, a depender das novas regras mundiais sobre “pegadas de carbono” em negociação nos organismos internacionais como OCDE, G20 e COP, que pretendem premiar ou penalizar negócios e estados de acordo com o, digamos, comportamento ambiental.
A pegada de carbono mede as emissões de gases de efeito estufa causadas pelas atividades humanas. Cada movimento nosso, inclusive respirar e soltar pum, produz alguma quantidade de carbono, que é dispersa na atmosfera. Atividades industriais, agropecuárias e de mineração, além de transportes e serviços, são os maiores emissores destes gases.
Em um mundo ideal, conseguiríamos controlar tais emissões e seus efeitos perversos, porém, com 8 bilhões de habitantes sedentos e famintos, ávidos por lazer, conforto e longevidade, sob intenso comércio mundial de commodities agropecuárias e minerais, além de produtos manufaturados, o controle da emissão se torna cada vez mais difícil e complexo.
NÃO EXISTE DESENVOLVIMENTO GRÁTIS
A batalha contra as mudanças climáticas é fundamental, sem dúvida, e muita gente boa e bem-intencionada tem se dedicado a ela. Cerca de 700 das maiores corporações do mundo, por exemplo, pretendem zerar suas emissões líquidas de CO2. Minas Gerais, outro bom exemplo, foi o primeiro estado da América do Sul a aderir ao programa Race to Zero.
A busca pela neutralidade passa por um intricado cálculo de “pegada de carbono”, índice que mede as emissões de CO2. .O lançamento de gases de efeito estufa pode ser minimizado ou reduzido, ou até mesmo compensado, por investimentos em projetos ambientais e/ou por compras de certificados de redução de emissões (créditos de carbono).
Fato é que tais processos – redução ou neutralidade de emissões, e compra de créditos – são extremamente caros e de implantação de longo prazo. O mundo ainda não se recuperou da grande inflação causada pela pandemia do novo coronavírus e pela guerra na Ucrânia, por isso, as despesas adicionais de custos decorrentes têm sido evitadas.
O QUE ESTÁ EM CURSO
Há diversos métodos disponíveis para se calcular a “pegada de carbono”. O mais comum leva em conta a massa de CO2, multiplicando os dados de consumo da atividade por sua fonte de emissão em relação ao gás ou combustível utilizado. Neste sentido, alguns países já contam com bons resultados, frutos de boas legislações ambientais em curso.
Um destes países é o Brasil, sobretudo Minas Gerais. O setor de mineração, por exemplo, conta com uma das mais rígidas e melhores legislações ambientais do mundo. Por conta disso, ao invés de recompensas, corremos o sério risco de ser punidos daqui em diante, caso avancem as regras que estão sendo propostas e negociadas mundo afora.
A ideia é compensar financeiramente, sob a forma de redução de impostos e outros benefícios, empresas e países menos emissores. Até aí, tudo bem. O problema é que pretendem estabelecer uma espécie de “marco zero”. Ou seja, valerá daqui para frente, sobre ganhos à partir do que já existe. E aí, queridos e queridas, está o perigo! Eu explico melhor.
NOSSA RÉGUA É ELEVADA
Empresas, estados e países que já possuem bons indicadores ambientais terão enorme dificuldade, para não dizer impossibilidade, de galgar degraus e evoluir, e apresentar melhores resultados. Assim, não logrando êxito, serão punidos com sobretaxas e limitações comerciais, enquanto seus concorrentes poluidores, não. Entenderam?
Imagine o leitor amigo, a leitora amiga, uma empresa, ou país, altamente poluente (emissor). Pois bem. Digamos que consiga reduzir em 30% suas emissões de CO2.. Por isso, será premiada proporcional e justamente. Deixou de ser muito ruim para se tornar apenas ruim. É um progresso até se tornar, um dia, quem sabe?, ótima. Agora, imagine o contrário.
Uma empresa, ou país, já ambientalmente eficiente, que conseguirá, no máximo, melhorar seus índices em, sei lá, 5%, e por isso não apenas não será recompensada como – o que é muito pior! – penalizada. Sim. É disso que se trata este alerta. Ao não considerar as diferenças já existentes, grandes emissores terão vantagem sobre pequenos emissores.
GRITO DE ALERTA
Durante um evento da FIEMG (Federação das Indústrias de Minas Gerais), o presidente Flávio Roscoe proferiu um duro desabafo neste sentido e perguntou: “quem está falando sobre isso? Onde estão a imprensa, os políticos e os órgãos responsáveis do Brasil? Vamos esperar acontecer, para depois reclamar”? Está corretíssimo o empresário mineiro.
O setor de mineração brasileiro, bem como outros setores ambientalmente eficientes, como o agronegócio e boa parte da indústria de transformação, precisam se mobilizar através de suas entidades de classes e cobrar das autoridades diplomáticas do País, atuação atenta e firme nas negociações em curso nos organismos internacionais.
Europa, China, Oriente Médio e EUA (em menor grau) encontram-se em níveis inferiores aos nossos, em determinados segmentos, no controle de emissões de CO2.. Essa turma, até hoje, não fez o dever de casa e, agora, pretende ser recompensada por isso enquanto espeta a conta no lombo de quem, ao contrário, tem se esforçado e se comportado bem.