Passei os últimos três meses vivendo em Nova York, estudando. Já havia morado por lá em 2021, no início do pós-pandemia, e visitado a cidade por períodos mais curtos muitas vezes antes.
Tenho uma ligação especial com os Estados Unidos que não sei explicar. Talvez por uma infância sedenta por Mickey e Pato Donald, frustrada por condições financeiras adversas. Ou, quem sabe?, pela primeira viagem internacional – justamente à Big Apple -, ao lado de um grande amor da vida (minha mãe).
Fato é que fui totalmente influenciado pela cultura americana desde cedo. Consumia desenhos animados, filmes, séries, livros, quadrinhos. Todos os meus heróis ostentavam o azul, vermelho e branco estrelados. Carros, aviões, marcas, língua… USA, USA, USA!
Insanidade
Os dias em Nova York, após a posse de Donald Trump, foram estonteantes. Uma enxurrada de falas, decretos, noticias, atos. Por mais absurdas – e algumas corretas, sejamos justos – que suas ordens executivas parecessem, as reações permaneciam tímidas. Os democratas, merecidamente, estão na lona. A imprensa, merecidamente, acuada. Os Estados Unidos, imerecidamente, divididos, perdidos.
Mas após o evento cataclísmico de sexta-feira, 28 de fevereiro, na Casa Branca, em Washington, DC, em que Donald Trump e seu vice, J.D. Vence, covardemente acuaram o presidente Volodomyr Zelensky, da Ucrânia, rasgando o disfarce de defensores da liberdade e assumindo de vez a parceria imperialista com o tirano invasor russo, Vladimir Putin, confesso estar triste, com o coração apertado e os olhos lacrimejantes.
Quando Trump falava em anexar o Canadá, parecia piada. Em tomar o Canal do Panamá, pressão comercial. Em comprar – ou invadir – a Groenlândia, devaneio. Quando, por conta própria, rebatizou o Golfo do México, para ele, hoje, o Golfo da América, soou ridículo. Mas “deem um Google”. É pra valer! Aliás, a Associated Press (AP) está sendo boicotada pela Casa Branca, porque se recusa a adotar a nova nomenclatura. Imprensa livre e liberdade de expressão, para essa gente, são seletivas. Como seletiva é a democracia.
Pandemia
Uma moça violentada jamais será a culpada, pouco importam as circunstâncias. Os democratas, a esquerda, a maldita doutrinação woke e o politicamente correto jamais serão os culpados pelos atos de Donald Trump. Mas é inegável que foi a partir do enfaro causado por eles, que esta besta-fera reacionária escapou da jaula e retomou o poder.
Hoje, o farol do mundo livre está apagado. O berço da liberdade foi capturado pela opressão do coquetel “bilhões + armas + poder”, sorvido compulsivamente por homens cujos transtornos mentais figuram entre as cinco ou seis mais comuns doenças psíquicas conhecidas.
As três maiores superpotências militares do mundo estão nas mãos de doentes mentais, cujos povos ou vivem sob rígidas autocracias ou sob o império da divisão ideológica, tornando seus líderes intocáveis e capazes de ou liderar o planeta à terceira guerra mundial (provavelmente a definitiva) ou a uma nova ordem global em que, como os chefões das máfias de outrora, dividirão a Terra em nacos que a eles se subjugarão.
Após a pandemia do coronavírus, em 2020, houve quem acreditasse que o mundo mudaria radicalmente para melhor. Eu acreditei. Quebrei a cara.
P.S.: Este texto foi publicado originariamente no O Antagonista