Quando se fala em política, muita gente ainda tem uma visão romântica: aquela ideia de que o bom governante é alguém movido apenas pelos mais nobres ideais, guiado por um senso inabalável de justiça e virtude. É muito fofo pensar assim. Porém, política não é romance, é estratégia.
Para Maquiavel, um governante não pode ser avaliado apenas pela pureza de suas intenções, mas pela eficiência com que mantém o poder e cuida de seus interesses. E antes que alguém corra para chamar Maquiavel de cínico ou oportunista, é bom entender uma coisa: ele não estava defendendo a maldade por esporte, nem sugerindo que todo político deva ser um vilão maquiavélico de novela. Ele estava apenas observando a realidade como ela é. No mundo político, o que importa é saber jogar.
Imagine o seguinte: um líder que só toma decisões baseadas em princípios morais elevados, sem se preocupar com as consequências estratégicas, vai acabar como? Perde o apoio de aliados, se desgasta com inimigos, toma decisões impopulares que podem ser vistas como virtuosas, mas minam sua capacidade de governar. Na visão de Maquiavel, o líder ideal não é aquele que tenta ser um santo, mas aquele que consegue equilibrar virtude e astúcia.
Ame-o ou odeie-o
A política, dizia ele, é um campo de batalhas onde as boas intenções muitas vezes são derrotadas pela esperteza. E é aqui que entra o choque com nossa visão romântica. A gente gosta de acreditar que basta ter bons princípios para ser um bom líder, mas Maquiavel sabia que governar é um jogo cheio de nuances. Às vezes, o mais justo não é o mais eficiente, e o mais honesto não é o mais estratégico. Não é à toa que ele escreveu: “Os homens são ingratos, volúveis, dissimulados, covardes diante do perigo e ávidos de lucro.” Em outras palavras, para governar seres humanos imperfeitos, o líder também precisa entender e, quando necessário, jogar com essas imperfeições.
Por isso, as ideologias puras – que parecem tão lindas nos discursos – tendem a falhar na prática. Elas são como romances idealizados, cheios de promessas de um final feliz. Mas no tabuleiro da política, o que conta não é o final perfeito, mas a capacidade de sobreviver à próxima jogada. O governante que segue rigidamente uma ideologia, sem flexibilidade para manobrar de acordo com as circunstâncias, está fadado a se perder. O que o que importa não é ser amado ou odiado, mas eficaz.
E, olha, isso não significa que a política tem que ser sempre suja ou sem ética. Pelo contrário, a virtude tem seu valor – mas apenas se acompanhada de pragmatismo. Um líder virtuoso que perde o controle do poder não ajuda ninguém. Por isso, o bom político deve, antes de tudo, entender as regras do jogo, usar a moralidade quando ela lhe é útil, e a astúcia quando necessário.
Choque de realidade
Discursos grandiosos sobre “mudança”, “justiça” e “moralidade” podem nos emocionar, mas a política real não é feita de emoção. Ela é feita de estratégia, de concessões, de alianças esquisitas e de decisões impopulares que, às vezes, são as únicas opções viáveis.
Sejamos realistas. Nem todo governante precisa ser um príncipe encantado, basta que ele seja um bom jogador.