Se o “coroné” Kalil manda, o “mamulengo” Tramonte obedece

Certa vez, contrariado com a pergunta de um repórter, Kalil ameaçou atirá-lo pela janela
Tramonte manterá Kalil na campanha?
Manda quem pode, obedece quem tem juízo (Foto: Divulgação)

Quem me conhece sabe como gosto do povo nordestino, e o quanto lhes devo por tanto carinho durante mais de 20 anos de trabalho naquela região. Praias, comidas, bebidas, frutas, cheiros… Música, não! Amizades, festas, sorrisos, abraços… Coentro, não! De zero a dez, dou 9.5 ao segundo povo mais hospitaleiro do Brasil – o primeiro, claro, somos nós, os mineirin

O folclore nordestino é espetacular. A cultura, as artes, os músicos – não confundir com as músicas – como Alceu Valença, Zé Ramalho, Fagner, Gonzagão e tantos outros. À quais músicas me refiro? Bem, àquelas que não são músicas, mas um emaranhado de metais, bumbos e refrões idiotas. Mas uma arte, em especial, me chama a atenção: os bonecos de mamulengo.

Para quem não conhece, são aqueles bonequinhos coloridos de pano, calçados como luvas sobre as mãos dos artistas contadores de histórias. Na boa, são hipnóticos. Eu adoro! E costumeiramente me lembro deles quando me deparo com pessoas submissas, ou quando comandantes e comandados não constrangem-se em seus papeis diante do público.

Vergonha alheia

Outro folclore nordestino são os coronéis da política, ou “coronés”. Mandachuvas locais que subjugam a população pobre e comandam, por décadas, as administrações municipais – e às vezes, estaduais. Sempre que me deparo com políticos autoritários e agressivos, que não respeitam o decoro, me lembro dos coronés do nordeste. Ontem, terça-feira (24), foi assim.

Lendo a matéria da Itatiaia e ouvindo o áudio do acontecido, imediatamente juntei lé com lé (Kalil e Tramonte) e cré com cré (coronés e mamulengos). Explico. Durante uma entrevista coletiva, perguntado sobre a ausência de Zema (o Chico Bento) na campanha, Tramonte, ao começar a responder, foi abruptamente interrompido por Kalil, que encerrou a entrevista sem lhe perguntar.

A questão era mesmo constrangedora, já que Zema e Kalil são desafetos confessos que, por interesses eleitoreiros, rasgaram compromissos, esqueceram as ofensas e hoje – supostamente, ao menos – apoiam a candidatura de Tramonte à Prefeitura de BH. Sem ter o que dizer, para não assumir a hipocrisia e o oportunismo, o coroné Kalil mandou, e Tramonte, o mamulengo, obedeceu.

É impressionante o que se faz para tentar ganhar uma eleição. Credo!

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