Kalil, Tramonte e uma certa “mesada” de R$ 60 mil

Será que o Republicanos, de Mauro Tramonte, será ainda mais bonzinho que o PSD
Kalil recebia R$ 60 mil por mês do PSD
Kalil recebia R$ 60 mil por mês para despesas no PSD (Foto: Reprodução)

A rumorosa saída do ex-prefeito Alexandre Kalil do PSD rumo ao Republicanos, de Mauro Tramonte, para coordenar a campanha do deputado à Prefeitura de Belo Horizonte, continua dando o que falar. Mais uma vez, ao que parece, Kalil sai pela porta dos fundos, deixando um rastro de prejuízo e inimizades.

Foi assim frente ao Atlético. Foi assim na campanha eleitoral de 2022 – derrotado de forma acachapante, em primeiro turno, pelo governador Romeu Zema (Novo). Foi assim após deixar a Prefeitura de BH e caminha para ser assim, mais uma vez, na saída do partido de Rodrigo Pacheco, Alexandre Silveira e Gilberto Kassab.

No Galo

Campeão da Libertadores em 2013 e da Copa do Brasil em 2014, deixou o Atlético em situação financeira calamitosa. Dívidas de toda sorte continuam sendo pagas até hoje pela SAF, mais de dez anos depois. Graças aos calotes sucessivos em atletas e empresários, durante anos o Clube figurou na lista negra do futebol nacional e mundial. Sem falar nas goleadas históricas para o rival.

Pior. Auditoria interna, contratada pelo presidente Sérgio Sette Câmara, apontou inúmeros problemas de gestão e inconsistências administrativas. Recentemente, Rubens Menin, sócio majoritário do Atlético, denunciou, em entrevista ao ge, da Globo, algumas das mordomias de Kalil e seus amigos, bancadas com o dinheiro do Galo.

Em assembleia do Conselho Deliberativo que anulou um ato irregular promovido por seus aliados – dar o nome de seu pai à Arena MRV -, deixou a reunião mais cedo, sendo vaiado por mais de 200 conselheiros. Dias atrás, um ex-funcionário do Atlético ligado a Kalil, à época, responsável pela bilhetagem dos jogos, foi preso, suspeito de estelionato.

Na Prefeitura

Sua gestão frente à PBH foi um desastre monumental para diversos segmentos da economia de Belo Horizonte. O setor imobiliário praticamente parou após o famigerado plano diretor de Alexandre Kalil e sua secretária, Maria Caldas. O prejuízo causado – perda de empregos, de arrecadação de impostos etc. – ainda levará décadas para ser pago.

Enquanto municípios vizinhos assistiram a uma explosão de lançamentos imobiliários, atraindo investimentos e trazendo prosperidade ao comércio local, Belo Horizonte foi sendo largada, se tornando suja, feia e desabitada – sobretudo a região central. Sem contar o setor de bares e restaurantes, que praticamente faliu sob a administração Kalil.

Investigado em uma CPI na Câmara Municipal por possível abuso de Poder, notadamente os prejuízos incalculáveis causados ao Atlético pela construção da Arena MRV, foi citado por uma depoente, que pagava com o próprio cartão de crédito despesas pessoais dele (Kalil) e depois era reembolsada, em dinheiro vivo, através de emissários.

Nas eleições de 2022

Derrotado de forma avassaladora, em primeiro turno, por Romeu Zema, Alexandre foi praticamente expulso da campanha do então candidato, hoje presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, com quem fez “dobradinha” eleitoral. Kalil brigou com Deus e o mundo, até “trombar de frente” com quem não devia, e se lascou.

Derrotado em Minas, tentou, pediu, “suplicou” um cargo no governo federal e só ouviu “não”. Magoado, enclausurou-se e brigou com mais de meio mundo, isolando-se ainda mais politicamente. Cortejado por pré-candidatos à PBH neste ano, viu seu capital político ruir, como mostrou a pesquisa O Fator/Ver, e tornou-se irrelevante eleitoralmente.

No PSD

Em mais um capítulo triste para si, o ex-prefeito de BH e ex-presidente do Atlético deixa o partido que o abrigou, por anos, pela porta dos fundos. Na noite de quinta-feira (25), sem falar com seus correligionários, negociou sua ida para o Republicanos em troca de vantagens pessoais e promessa de muito dinheiro para a campanha de 2026 ao estado.

Durante meses, Alexandre negociou com quase todos os demais pré-candidatos, mostrando que os interesses da cidade nunca foram prioritários. Aliado de Lula e ligado à esquerda, segue sem vergonha alguma para um partido conservador, de base evangélica e de direita. E sai, outra vez, acusado de ter recebido benefícios pessoais.

Segundo a Rádio Itatiaia, interlocutores do PSD disseram que Kalil custava cerca de 60 mil reais por mês ao partido. Dentre os “mimos”, motorista, secretária e carro de luxo à disposição, além de escritório. A retribuição por tanto dinheiro foi a mais escancarada infidelidade partidária, que lhe rendeu mais inimizades e desafetos.

Encerro

Alexandre Kalil não possui atividade comercial conhecida e não exerce cargo profissional algum desde que deixou o Atlético – exceto o período na PBH, em que recebia o maior salário entre os prefeitos do Brasil. Contra si, pesam inúmeras ações trabalhistas e execuções judiciais. Trabalhadores lesados não encontram dinheiro em sua conta.

Mas, ainda assim, mora em prédio de luxo, passeia de motos e carros importados, faz viagens internacionais, hospeda-se em hotéis estrelados e frequenta restaurantes caros. Uma vida experimentada por muito pouca gente com trabalho formal e remuneração alta no País. É para se pensar no milagre da multiplicação dos pães.

“Ah, Ricardo, você não gosta do Kalil, você sempre o criticou”. “Ah, Ricardo, você é conselheiro do Galo, da turma contrária a ele”. Sim, é verdade. E a recíproca, ainda bem, é verdadeira. Mas eu desafio qualquer um a rebater ou desmentir uma mísera vírgula do que escrevi acima. Aliás, não à toa, jamais fui interpelado judicialmente por ele ou por qualquer um a respeito. 

Não conheço pessoalmente Mauro Tramonte, por isso não posso lhe dar conselho algum. Que seja feliz com seu novo coordenador de campanha. Vamos ver se os eleitores de Belo Horizonte entenderão o “troca-troca” de Kalil como algo benéfico à cidade, ou somente a ele mesmo. Se eu fosse o prefeito Fuad Noman, ajoelharia no milho e agradeceria a Deus o presente que ganhou.

Leia também:

A opinião de Mateus Simões sobre o escolhido por Zema para chefiar o MPMG

Novo procurador-geral de Justiça de Minas é o primeiro promotor escolhido para o cargo

Zema vai indicar Paulo de Tarso como novo Procurador-Geral de Justiça de MG

Veja os Stories em @OFatorOficial. Acesse