A Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG) entrou com um pedido para participar como amicus curiae (amigo da corte) na ação, no Supremo Tribunal Federal (STF), que questiona a constitucionalidade da prática de municípios brasileiros de acionarem a Justiça de outros países contra mineradoras. A ação é do Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM). O relator do caso é o ministro Flávio Dino.
O caso em questão envolve diversos municípios, principalmente de Minas Gerais, que buscam indenizações por danos socioambientais decorrentes de rompimentos de barragens, como os ocorridos em Mariana e Brumadinho. Essas ações estão sendo movidas em países como Reino Unido, Estados Unidos, Países Baixos e Alemanha.
A FIEMG argumenta que tem legitimidade para participar do processo devido à sua representatividade do setor industrial mineiro, especialmente da indústria de extração mineral. A federação alega que a decisão do STF terá impacto significativo sobre o setor que representa.
No documento, a FIEMG destaca preocupações sobre a prática dos municípios, incluindo:
- Violação da soberania nacional
- Desrespeito ao pacto federativo
- Fuga do sistema judiciário brasileiro
- Contratação irregular de escritórios de advocacia estrangeiros
- Questões relacionadas ao financiamento de litígios internacionais
A federação apoia a tese do IBRAM de que é inconstitucional a interpretação que permite aos municípios participarem de ações judiciais em jurisdições estrangeiras. A FIEMG argumenta que isso pode gerar insegurança jurídica e conflitos com decisões já tomadas por tribunais brasileiros.
Além de solicitar sua admissão como amicus curiae, a FIEMG pede permissão para apresentar memoriais, realizar sustentação oral e participar de possíveis audiências relacionadas ao caso.
A decisão sobre a admissão da FIEMG como amicus curiae caberá ao ministro relator da ADPF 1.178, Flávio Dino. O caso tem relevância nacional, pois pode estabelecer um precedente importante sobre a atuação de municípios brasileiros em litígios internacionais.
Ação no Supremo
A Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) do Ibram argumenta que a prática de municípios brasileiros acionarem a Justiça de outros países “fere a soberania brasileira e os princípios constitucionais, além de escapar ao controle do Poder Público e do Ministério Público”. Na ação, o instituto aponta que a Constituição “estabelece que compete à União representar e agir em nome da federação em âmbito internacional. Dessa forma, qualquer ação judicial proposta no exterior pelos municípios deveria contar com a anuência da União, garantindo a coerência e a unidade da representação internacional do Brasil”.
A petição do Ibram indica nominalmente 60 municípios que ajuizaram ações na Inglaterra, Holanda, Alemanha e Estados Unidos contra empresas como Vale, BHP e TÜV SÜD, buscando ressarcimento pelos danos causados por desastres ambientais como os rompimentos de barragens em Mariana e Brumadinho.
Prefeituras reagem
Em posicionamento interno, o Consórcio Público de Defesa e Revitalização do Rio Doce (Coridoce) manifestou a seus membros ter, obviamente, posição contrária à ação do Ibram, classificando-a como uma “tentativa desesperada de cercear o direito dos municípios de receberem um ressarcimento justo”. O consórcio acusa o Ibram de defender claramente os interesses das mineradoras e tentar prejudicar não só os municípios, mas todas as vítimas desses desastres.
Em junho, a Associação Mineira dos Municípios (AMM) e a Confederação Nacional dos Municípios (CNM) pediram para ingressar ao processo como amicus curiae. As duas entidades também defendem o direito dos municípios de buscarem indenizações fora do país.
Ingleses vão julgar em outubro
A tragédia de Mariana aconteceu em 2015, matando 19 pessoas, destruindo distritos, e provocando os maiores danos ambientais do país.
O julgamento da ação de municípios mineiros e capixabas contra a BHP Billiton, controladora da Samarco junto da Vale, está marcado para 7 de outubro deste ano e deve durar 14 semanas. Vão participar das audiências os advogados das mineradoras e o escritório de advocacia Pogust Goodhead, que representa os atingidos nos tribunais.
O processo é movido por 700 mil atingidos que pedem indenização de R$ 230 bilhões da BHP Billinton.