O número de candidatos que se identificam como transgêneros em Minas Gerais neste ano cresceu 590% em relação às eleições municipais de 2020. Um levantamento feito por O Fator a partir do cruzamento de dados disponibilizados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostra que 138 cidadãos apontaram ser transexuais ao registrar candidaturas. Quatro anos atrás, esse número foi de vinte.
Em que pese o crescimento, as 138 candidaturas de pessoas transgêneros não representam sequer 1% do total dos 72.182 postulantes que vão disputar o pleito municipal nas 853 cidades mineiras.
Esta é a primeira eleição em que o sistema de registro de candidaturas do TSE determina o apontamento de gênero. Ao oficializar a participação na disputa, os concorrentes precisaram se declarar cisgênero (que se identifica com o sexo biológico do nascimento) ou transgênero (pessoas que não se identificam com o sexo biológico). Foi possível, ainda, se abster do questionamento.
Belo Horizonte é a cidade com o maior número de candidaturas transgênero: seis. Uma delas, a deputada federal Duda Salabert (PDT), vai concorrer a prefeita.
Em todo o estado, o PDT é o partido com mais concorrentes trans: 17. Em seguida, aparecem PT e Avante, empatados com 12. Depois, vêm PP e PSD, que têm 11 cada. Solidariedade, Mobiliza, PSDB, PSB, Rede, PL, Republicanos, Psol, PMB, MDB, Novo, Cidadania, PCdoB, PV, PRD, União Brasil, Agir, Podemos e Democracia Cristã (DC) também lançaram candidatos transgênero.
Avanço progressivo
A primeira transexual a tomar posse em um cargo eletivo no Brasil foi Kátia Tapety, em 1992. À época, ela venceu a eleição para vereadora na cidade piauiense de Colônia do Piauí. Na Câmara dos Deputados, além de Duda, há Erika Hilton (Psol-SP). Primeira transexual a liderar uma bancada no Parlamento Nacional, Erika foi escolhida neste ano para encabeçar o grupo de deputados da federação Psol-Rede.
Para Walkiria La Roche, diretora de Políticas de Diversidade da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social de Minas Gerais (Sedese), a atuação da pessolista ajudou a ampliar o número de candidatos transgêneros.
“Muitas pessoas transexuais sentiram-se representadas por essa mulher tão competente e articulada”, diz, a O Fator.
Segundo Walkiria, a entrada de pessoas transgêneras na política gera uma espécie de efeito-cascata, encorajando outros integrantes da comunidade a disputar cargos eletivos.
“Antes, preferiam não ter tanta visibilidade por medo da violência”, indica. “Muitas ativistas não arriscaram maior exposição por receio dos partidos cederem aos apelos ideológicos e muitas vezes preconceituosos”, completa.
Ativista LGBTQIA+ e atriz, ela aponta o uso dos nomes sociais como elemento capaz de reduzir preconceitos já no ato de registro de candidatura.
“Por preconceito, discutem os nomes de pessoas trans, mas acatam o ‘Fulano do Açougue’ e o nome do papa emérito. No rito, sobe a fumaça branca e o mundo incorpora o novo nome daquela autoridade”, analisa.