Se tem uma coisa que me tira do sério, dentre todas as demais oito milhões, seiscentos e vinte duas, é brasileiro – sim, estou generalizando! – elogiar a arte e cultura europeias, e o cuidado com a conservação de equipamentos e prédios antigos, ao mesmo tempo em que:
- Emporcalha a cidade, atirando lixo nas ruas;
- Faz xixi no primeiro rodapé de muro que vê pela frente;
- Reclama quando o Estado investe em restauração e conservação do patrimônio histórico.
Por que isso agora?
Bem, porque, meses atrás, quando o Procurador-geral Jarbas Soares Júnior anunciou um convênio entre o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) e o governo do Estado, por meio do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG), para obras de revitalização e restauração do Palácio da Liberdade, em Belo Horizonte, o mundo caiu-lhe à cabeça:
“Absurdo! Desperdício de dinheiro! Isso não é assunto do MP! Há outras necessidades mais urgentes!”
Para piorar, no caso, sob minha ótica, melhorar, o MPMG irá cuidar, também, da restauração de outro prédio histórico, o maravilhoso Palacete Dantas, que, se em Paris ou Roma, iria assistir a filas quilométricas de brasucas endinheirados, maravilhados com a beleza do local: “Por que não temos isso no Brasil? Tudo lá está jogado às moscas, caindo aos pedaços”.
O processo de restauração do conjunto da Praça da Liberdade contou com a participação direta do promotor de Justiça Carlos Eduardo Ferreira Pinto, coordenador do Centro de Apoio Operacional de Meio Ambiente (Caoma) do Ministério Público de Minas Gerais – outro craque do nosso MP.
Além dele e de Jarbas Soares, Leônidas Oliveira, Secretário de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais, um gigante à frente deste maravilhoso projeto.
Toma, distraído!
Há uma frase famosa, meio clichezão, acho que de Edmund Burke (1729-1797), filósofo irlandês, guru do liberalismo tupiniquim, que diz o seguinte: “Um povo que não conhece sua história está fadado a repeti-la”, ou algo assim. Tô meio sem saco para pesquisar.
Essa frase foi ganhando variações – sabem como é, né? Quem conta um conto, aumenta um ponto – e por aí, hoje, se fala: “um país que não preserva seu passado está condenado a não ter futuro”.
Pois é. Da próxima vez que visitar o Panteão, antes de elogiar a beleza do local, ainda que em silêncio e envergonhado, peça para si mesmo desculpas por ser açodado e injusto com quem ao menos tenta preservar um pouco da cultura e história de BH. Aproveite e agradeça Raulzito: “Eu quero dizer, agora, o oposto do que eu disse antes”.