Em mensagem de natal, Alexandre Kalil, ex-prefeito de Belo Horizonte, publicou – contrariando todos os fatos históricos – que Jesus era “palestino, refugiado, pobre, perseguido, torturado e assassinado por pregar a igualdade, justiça social e o amor“. Bem, segundo a própria história, “perseguido, torturado e assassinado” Ele foi. Pobre seria uma questão de interpretação e de contextualização, mas refugiado, jamais. E palestino?
Vejamos o que diz o brilhante artigo, que me foi enviado agora há pouco, pelo não menos brilhante Bernardo Katina Mascarenhas, estudante, empreendedor e – mesmo muito jovem – profundo conhecedor de judaísmo e História correlata.
Fala, Bê
Não quero nem vou entrar no mérito de quem foi Alexandre Kalil, como prefeito de Belo Horizonte e presidente do Atlético, clube pelo qual sou apaixonado. Entretanto, me peguei estupefato – e bastante irritado! – ao ler as seguintes palavras por ele publicadas: “Só para lembrar: dia 25 vamos celebrar o nascimento de um palestino, refugiado, pobre, perseguido, torturado e assassinado por pregar a igualdade, justiça social e o amor.” A frase, contextualmente falando, já que é natal, até estaria correta se não fossem tantas palavras mal-colocadas. Explico.
Em meio a um ambiente de guerra entre Israel e grupos terroristas que controlavam as regiões de soberania palestina, é ingênuo e perigoso não reconhecer que, ao associar palestinos à condição de perseguidos, especialmente em um contexto religioso (judaico e cristão), isso implicaria em retratar os judeus como opressores.
Tal visão remonta aos primórdios do antissemitismo clássico, quando judeus eram acusados de deicidas, responsáveis pela morte de Jesus. Dessa equivocada premissa derivam todas as formas de antissemitismo que ainda hoje conhecemos e experimentamos mundo afora, seja o mais cruel de todos, imposto por Hitler e o holocausto nazista, ou mesmo os observados recentemente nas universidades americanas.
Em segundo lugar, a publicação é historicamente mentirosa: o nome “Síria Palestina” foi dado à região pelos romanos, mais de 100 anos após a morte de Jesus. Eles destruíram o templo de Jerusalém, em 73 a.C., mas até a revolta de Bar Kochba, meio século depois, ainda a chamaram de Judaea.
Registros
Foi tão somente na tentativa de suprimir e apagar qualquer traço ou vínculo dos judeus com aquela terra, que passou-se a chamá-la de Síria Palestina. O nome, inclusive, refere-se ao que o historiador grego Herodotus chamava de “A região onde viviam os filisteus“, um pedacinho na costa mediterrânea onde hoje localiza-se a Faixa de Gaza, quinhentos anos depois.
Portanto, como se comprova, à época do nascimento de Jesus, a região era conhecida como Judaea (ou Judá), uma província do antigo Israel. O evangelho de Mateus, por sua vez, especifica que “Jesus nasceu em Belém, na Judeia” (Mateus 2:1) e “Pregou na Galileia e na Judeia” (Mateus 19:1). Um detalhe importante: Belém está nas mãos da autoridade palestina desde meados da década de 1990.
Ainda, segundo fontes cristãs, Jesus nasceu judeu e viveu em um reino judeu, localizado em parte do território em que hoje se compreende Israel, onde tal povo vive de forma contínua há mais de três mil anos.
Já o evangelho de Lucas relata que, como qualquer outro menino judeu, Jesus foi circuncisado no oitavo dia (Lucas 2:21) e mais tarde frequentou a sinagoga (Lucas 4:16).
De acordo com o evangelho de Marcos, Jesus era chamado de rabino (Marcos 10:51) e segundo Mateus, sua última refeição foi um Seder de Páscoa (Mateus 26:17).
Never again
A afirmação de que Jesus era palestino, em dezembro de 2024, é, portanto, seguir a mesma lógica dos romanos que buscavam apagar a conexão histórica dos judeus com a terra, e negar a legitimidade do direito do povo judeu a ter seu próprio estado, em sua morada histórica, reconhecido, inclusive, pela Organização das Nações Unidas (ONU) em sua Assembleia-Geral de 29 de novembro de 1947.
Atrelar a causa palestina ao cristianismo, além de desrespeitar cerca de um bilhão de cristãos por todo o mundo, politizando sua figura mais sagrada, é também uma forma de ignorar a perseguição que enfrentam nos territórios palestinos, especialmente na Faixa de Gaza, onde praticamente não vivem mais, e também em Belém – sim, em Belém! -, onde o percentual cristão da população caiu de 85% para 16% nos últimos 80 anos.
Em 7 de outubro de 2023, mais de 1.2 mil judeus foram espancados, estuprados, torturados, queimados vivos, decapitados, assassinados – e outras formas de barbárie – por terroristas do Hamas, que invadiram Israel em uma corriqueira manhã de sábado. Desde então, mais de 100 israelenses permanecem em cativeiro, incluindo Kfir Bibas, de apenas um ano, e seu irmão Ariel, de cinco anos.
Como afirmou Paula Fredriksen, professora emérita da Universidade de Boston: “Já houve vítimas demais desde 7 de outubro. Não permitamos que a história seja uma delas”.
Bernardo Katina Mascarenhas
Retorno
Há pessoas que insistem em más escolhas. Por mais que os anos passem e a vida ensine, não aprendem jamais. Outras, como Bernardo, optam pela luz do saber e pela generosidade em compartilhá-lo.
Obrigado, Bê!
Feliz Natal a todos os queridos leitores de O Fator.