As sessões plenárias da Câmara Municipal de Belo Horizonte (CMBH) serão retomadas apenas em fevereiro, mas, no dia seguinte à eleição do novo presidente, vereador Juliano Lopes (Podemos), parlamentares – dos grupos vencedor e vencido – já projetam mudanças no comportamento do Legislativo para os próximos dois anos.
Do lado dos vencedores, o consenso é que a ascensão de Juliano à presidência representa não apenas a possibilidade de uma atuação mais independente dos vereadores, mas também uma vitória significativa da direita sobre a esquerda. Isso porque partidos à direita dominam a nova Mesa Diretora, que terá, além do Podemos, representantes de Novo, PL, PRD e PP. O único integrante de um partido tido como do campo progressista é o vereador Wagner Ferreira (PV).
“A nova Mesa é uma garantia de independência diante de uma prefeitura completamente alinhada à esquerda”, diz o vereador Bráulio Lara (Novo). De acordo com o parlamentar, os vereadores que não integram a base de sustentação do governo Fuad Noman (PSD) terão mais autonomia para fiscalizar a administração municipal e, eventualmente, instalar Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs).
“Uma de nossas primeiras ações este ano será fazer um rigoroso questionamento à Prefeitura quanto ao aumento das passagens de ônibus. Vamos exigir transparência absoluta”, projeta.
Entre os apoiadores do candidato derrotado, Bruno Miranda (PDT), a expectativa é que Juliano Lopes encabece uma gestão equilibrada. Segundo o líder do PT na Câmara, Doutor Bruno Pedralva, a composição da nova Mesa Diretora irá impor desafios à atuação não apenas dos parlamentares de esquerda, mas também dos movimentos sociais da cidade.
“É evidente que a Câmara passa a ter em sua mesa uma maioria de vereadores de direita e de extrema direita. Mas o presidente Juliano Lopes é um democrata, um político de bom senso, e a gente espera que os espaços de cada bancada e de cada bloco sejam respeitados em todas as decisões”, aponta.
Tom da relação é incerteza
Após a vitória, Juliano Lopes garantiu não nutrir mágoas com o Executivo municipal, cujos interlocutores atuaram em prol da candidatura de Bruno Miranda. Apesar disso, chamou o vice-prefeito Álvaro Damião (União Brasil) de “pateta”.
“Atendi o prefeito Fuad (ao telefone) assim que saiu o resultado (da eleição na CMBH). Desejo a ele pronta recuperação (dos problemas de saúde que enfrenta). Primeiro tenho que ter respeito, porque é um senhor de 77 anos. Tem a idade do meu pai. Minha mãe me ensinou muito a respeitar os mais velhos. Temos respeito por ele. Espero que se recupere o mais rápido possível, volte a assumir a prefeitura e que o deixem trabalhar — e (que) tire a prefeitura do pateta maior, que é o vice-prefeito Álvaro Damião”, falou.
Secretário de Estado da Casa Civil de Minas Gerais, o ex-deputado federal Marcelo Aro (PP) foi o principal fiador da candidatura de Juliano Lopes. Líder de um grupo político que reúne vários vereadores belo-horizontinos, Aro chegou a acusar agentes da prefeitura de tentarem utilizar a máquina pública para garantir o triunfo de Bruno.
“O que aconteceu nos últimos 10 dias é fruto de uma lambança política. Inabilidade política. Não precisava disso. Infelizmente, fizeram algo que deixa sequelas na cidade de Belo Horizonte e nessa relação. Mas nosso trabalho, agora, junto com o vereador Juliano Lopes, vai ser pela cidade de Belo Horizonte. Vamos trabalhar noite e dia e fazer de Belo Horizonte a melhor cidade para se viver e a melhor capital do Brasil”, pontuou.
O grupo de Aro fez parte do primeiro governo de Fuad entre abril de 2023 e abril do ano passado, tendo, inclusive, o comando de secretarias. A repetição da parceria, entretanto, ainda é incógnita.
“Tem que perguntar para eles (da prefeitura)”, tergiversou Aro, ao ser perguntado sobre o futuro da relação com o Executivo.