Pancadaria e intolerância na CMBH

Os vereadores representam a população, e seus projetos e votos devem ser coerentes com seus eleitores
Foto: Karoline Barreto/CMBH

O bom de não ter medo de opinar e fazê-lo publicamente em rádios, Tvs e portais de internet, cujos textos e imagens ficam registrados infinitamente, é eu ser obrigado a manter a coerência e jamais poder ser acusado daquilo que não sou, caso alguém descontextualize ou recorte maldosamente algum artigo ou fala minha.

Sei que poderei ser acusado de transfobia ou algo parecido, mas minha história e meu histórico de combate a qualquer forma de preconceito são públicos e notórios. Uma coisa é intolerância de gênero. Outra, bem diferente, é aceitar a condição física, emocional e psicológica de uma pessoa trans, sabendo separar as coisas. 

Sou completamente a favor da impossibilidade de uma atleta trans disputar competições contra atletas biologicamente femininas. A desvantagem esportiva das mulheres é patente, e a competitividade entre “iguais” (idade, gênero, peso, força etc.) é desconsiderada, levando ao esporte injustiça incompatível com seu ideal.

Espírito esportivo

Neste sentido, apoio a ideia – não apoio o projeto de lei, pois não o li, e também duvido de sua constitucionalidade – da vereadora Flávia Borja (DC), com quem já divergi publicamente quando era comentarista na Rádio Itatiaia e colunista no Estado de Minas. À época, a parlamentar disse que pessoas LGBTQIA+ não eram bem-vindas a Belo Horizonte. Depois ela se retratou.

Aliás, talvez Flávia venha a assinar uma coluna no O Fator. Isso mostra que minhas brigas não são com pessoas, mas com ideias. Acredito na pluralidade e no debate civilizado. Neste site, as portas estarão sempre abertas a quaisquer espectros políticos e ideológicos, desde que, é claro, compatíveis com a linha editorial e o devido respeito à civilidade.

As cenas de pugilato ocorridas na Câmara Municipal de Belo Horizonte (CMBH) durante a sessão que aprovou, em primeiro turno, por 25 votos a 11, o PL de Flávia, além de lamentáveis mostram a intolerância de quem jura defender a… tolerância! Não foi a primeira vez nem será a última, já que democracia, para essa gente, costuma ser relativa.

Não importa a ideologia

Estou cansado de assistir a extremistas, de esquerda e de direita, pregarem liberdade de expressão, direitos humanos e blá blá blá, mas na hora de aceitarem a divergência, quebrarem o pau. Reivindicar e protestar é e será sempre legítimo em um Estado Democrático de Direito, mas há que se respeitar ritos, leis e locais. Do contrário, estaremos falando em ditadura.

Quando os extremistas bolsonaristas invadiram as sedes dos três Poderes em 8 de janeiro de 2023 porque não aceitaram a eleição de Lula, ultrapassaram todos limites e, hoje, estão sendo justamente punidos. Boa parte dos políticos de direita, como Flávia, não só não concorda com as punições como defende anistia para os criminosos.

Os vereadores representam a população, e seus projetos e votos devem ser coerentes com seus eleitores. Como a cidade é grande, diversa e dinâmica, obviamente haverá sempre discordância entre eles. Aos cidadãos não cabe, portanto, o desrespeito às escolhas diferentes de outros igualmente cidadãos, do contrário, não estaríamos em uma democracia – palavra cada vez mais banalizada e relativizada no pais.

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