Associação do Belvedere ou Salabert? Posição em comum surpreende

O chavão, “o inimigo do meu inimigo é meu amigo”, neste caso, é contraproducente ao bairro
Vila da Serra, em NL, e Belvedere, em BH, separados por um "muro"
Foto: (Reprodução/Associação dos Moradores do Belvedere)

A Associação dos Amigos do Bairro Belvedere (AABB), entidade com forte influência política e empresarial na região, notadamente por ter no comando moradores antigos do bairro, que de forma visionária perceberam o potencial construtivo e comercial do entorno do BH Shopping, hoje um dos metros quadrados mais caros da cidade, uma vizinhança vibrante onde edifícios residenciais e comerciais de altíssimo padrão dividem espaço com malls, cafés, restaurantes, lojas de grife e… gente. Muita gente!

Certamente uma das regiões de Belo Horizonte mais adensadas e com uma das maiores frotas de veículos, o Belvedere acabou trazendo, infelizmente – além de muito sucesso econômico e bem-estar para seus moradores – toda sorte de transtornos urbanos, principalmente dois, atualmente 100% fora de controle (com tendência a piorar): mobilidade e violência. O Poder Público e a sociedade civil simplesmente não conseguem lidar com o trânsito caótico e com os assaltos diários que infernizam a vida de moradores e visitantes.

Atenção! Os problemas do Belvedere, notadamente o trânsito, não são apenas do Belvedere, como pessoas de outros bairros alegam, querendo dizer: “Eles que se virem com o caos que criaram”. O imobilismo diário desta vizinhança, que obriga milhares de pessoas a passarem horas dentro de ônibus, táxis, carros de aplicativos e veículos particulares, em busca de hospitais, escolas, comércios especializados ou apenas tentando se locomover entre as cidades da região metropolitana, ultrapassa “os ricos” do local.

Amigos para sempre

Neste sentido, chama muito a atenção a “parceria” de dois agentes diametralmente opostos, mas unidos em torno de um mesmo tema: a solução viária do Belvedere. No caso, a não solução, pois tanto a Associação como a deputada federal Duda Salabert (PDT) militam fortemente contra a construção do Parque da Linha Férrea e respectivas alternativas viárias que irão – se não resolver definitivamente – desafogar sobremaneira o trânsito local, minimizando muito o desconforto e a insegurança de quem vive ou transita pela região.

Duda alega a falta de participação (em audiências públicas) de comunidades quilombolas próximas e também questões ambientais. Já a Associação, ao menos alguns de seus membros, não quer ter sua “tranquilidade” perturbada por mais vias e carros cruzando seus quintais, ainda que seja em benefício de tanta gente. Nessa hora, seguindo à risca o ditado popular – infelizmente, um traço cultural brasileiro, que pensa de forma individual e jamais coletiva -, “se a farinha é pouca, o meu pirão primeiro.”

A mim não me surpreende a visão restrita e ideológica da deputada. Recentemente, foi uma das mais ferrenhas opositoras à realização da etapa mineira de Stock Car, ano passado, na Pampulha, sucesso absoluto de público, audiência e organização, que trouxe tremenda visibilidade internacional para BH, fluxo gigantesco de turistas e um movimento hoteleiro e de bares e restaurantes como em poucas datas do ano. Aliás, a mesma turma que reclamava do barulho dos carros, não reclamou do ”barulho” deste carnaval.

Oportunismo político

Duda é uma parlamentar de extrema esquerda, que milita abertamente contra o desenvolvimento imobiliário da cidade – e são legítimas suas escolhas políticas e ideológicas, afinal, pensamento e partidos políticos únicos jamais terminaram em boa coisa. Mas é forçoso advertir que não mora na região, não conhece os problemas da região, não sofre os males da região. Apenas envolve-se em causas eleitoreiras, alinhadas com seu posicionamento político, e depois junta suas trouxas e vai embora, sem olhar para trás.

O curioso – estranho mesmo! – dessa “parceria” entre a Associação e a deputada é que, em tese, deveriam estar em campos opostos. Todas as (falsas) questões ambientais já foram mitigadas e pormenorizadamente detalhadas no plano aprovado, em conjunto, por Belo Horizonte, Nova Lima, Ministério Público e Governo Federal – estariam todos estes entes errados e apenas Duda Salabert e a Associação do Belvedere corretos? Acho difícil. Ou seja, o que mais poderia interessar, mutuamente, a ambos?

O projeto viário, repito, se não é perfeito, é muito bom e fundamental – atenção: FUN-DA-MEN-TAL – para permitir ao menos que cheguemos (eu moro em Nova Lima) 20 ou 30 minutos mais rápido em um hospital, meu Deus do céu! O mesmo vale para a produtividade dos milhares de trabalhadores que enfrentam horas de viagem entre Nova Lima, Honório Bicalho, Rio Acima, apenas para conseguirem atravessar a vizinhança rumo a Belo Horizonte. Sem falar na qualidade de vida, perdida nos congestionamentos diários.

2026 está chegando

A Associação do Belvedere foi a “responsável direta” pelo desenvolvimento do bairro. Se hoje é um dos locais mais valorizados da cidade, foi graças ao seu trabalho por décadas, desde a inauguração do BH Shopping. Questões menores, sejam políticas ou mero conforto de alguns moradores associados, não podem prevalecer, impedindo um projeto que servirá a tanta gente, principalmente se cerrando fileiras ao lado de quem jamais atuou em favor do crescimento e da prosperidade da região. Determinadas posições são inconciliáveis.

O chavão, “o inimigo do meu inimigo é meu amigo”, neste caso, é contraproducente ao bairro e, pior, fortalecerá um campo político que sempre atuou e sempre atuará contra as crenças e os valores da maioria absoluta dos empresários, empreendedores, profissionais liberais e comerciantes que moram e trabalham no Belvedere. A ser assim, amanhã, representantes do PSOL, PT etc. acabarão sendo eleitos com o apoio do bairro, o que é incompatível com as aspirações legítimas da maioria local.

Costumo dizer que, “Quem está com todos, não está com ninguém”. Eu estou e estarei – sempre! – ao lado do desenvolvimento e do bem-estar social, longe e combatendo toda e qualquer forma de extremismo, ainda que, ocasionalmente, tal extremismo caminhe ao encontro dos meus desejos. Espero que a Associação reveja seu posicionamento e perceba o risco de ombrear com quem, repito, jamais esteve ao lado do progresso econômico e do sucesso empresarial. Ao contrário. Sempre se postou radicalmente contra.

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