Fernando Haddad, hoje todo-poderoso ministro da Fazenda do País, pode se orgulhar de muita coisa nesta vida, menos do papel de “poste” nas eleições presidenciais de 2018, ainda que tenha recebido, no segundo turno daquele ano, estrondosos mais de 47 milhões de votos por todos os estados da Federação (um feito e tanto, reconheça-se).
Para quem não se lembra, Luiz Inácio Lula da Silva encontrava-se detido na sede da Polícia Federal de Curitiba (PR), condenado por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa, no âmbito da Operação Lava Jato. À época, o Brasil experimentava algum tipo de punibilidade, e criminosos condenados em segunda instância eram presos.
Por conta disso, impedido de concorrer à Presidência e negando a Ciro Gomes o apoio natural contra a candidatura de Jair Bolsonaro, Lula ergueu o polegar e ungiu Haddad como candidato petista, que o visitava semanalmente na prisão a fim de receber instruções. Daí, portanto, o apelido de “poste”, já que mero mamulengo do chefão do PT.
SENHORES E VASSALOS
Padrinhos políticos e cabos eleitorais são personagens intrínsecas à política brasileira. No passado, sobretudo nas regiões norte e nordeste, a presença dos “coronéis” era obrigatória, e nos centros mais desenvolvidos, os clãs políticos ainda são vistos com relativa frequência. Exemplos não faltam: Bolsonaro, Calheiros, Barbalho, Magalhães.
Recentemente, com a massificação da internet e a onipresença das redes sociais, youtubers, tiktokers, influencers e outros idioters da espécie ganharam absurda relevância eleitoral, principalmente quando ancorados em políticos tradicionais famosos. Em Minas, o senador Cleitinho e o deputado federal Nikolas Ferreira estão aí para provar.
Os dois citados encontram-se na prateleira de cima destes novos, digamos, bichos políticos. Porém, degraus abaixo, ainda em MG, temos André Janones e Bruno Engler, respectivamente, deputados federal e estadual. E é sobre o segundo, pré-candidato do PL à Prefeitura de Belo Horizonte, que quero falar. Spoiler: ele não irá gostar.
BOLSO POSTE
Com apenas 26 anos, Bruno Engler é um fenômeno político. Atenção: fenômeno, na concepção da palavra, significa acontecimento passível de observação; manifestação, sinal, sintoma. Ou seja, não necessariamente bom ou ruim. Apenas… fenômeno! Assim, por conta da sua trajetória política, o substantivo lhe cai muito bem.
Longe de ser eleito vereador em 2016, com ínfimos 2 mil votos, surfou na então recente onda bolsonarista e elegeu-se deputado estadual com 144 mil votos em 2018. Guloso, tentou a Prefeitura de BH em 2020 e passou vergonha, recebendo menos votos do que dois anos antes (123 mil). Aliás, à época, vergonha não faltou nas eleições municipais.
Já em 2022, colado aos países baixos de Bolsonaro, reelegeu-se com estupendos 637 mil votos. Agora, ao que tudo indica, será o candidato-poste do patriarca do clã das rachadinhas e das mansões milionárias compradas com dinheiro vivo e panetones de chocolate. Engler deverá ser amparado por duas outras muletas eleitorais: Cleitinho e Nikolas.
ENCERRO
A pré-candidatura de Bruno Engler seria oficializada esta semana, em Belo Horizonte, porém, Jair Bolsonaro foi internado mais uma vez e não poderá comparecer ao lançamento. Assim, para não correr o risco de ter apenas ele, sua família e amigos próximos no evento (brincadeirinha, hehe), o PL decidiu adiar. E fez bem, ao que parece.
Engler tem uma qualidade: é atleticano! O vi na Arena MRV no último jogo contra o Cruzeiro, fora e dentro do estádio, e me impressionou o fato de não ter sido abordado nenhuma vez enquanto estava ao meu lado. Sim. Nenhuma vez. É impressionante como ou não é conhecido ou simplesmente passa despercebido.
Em pesquisas qualitativas a que tive acesso, o desconhecimento é o mesmo. Apenas quando associado a Bolsonaro, Engler pontua – e bem. Em um vídeo seu de propaganda, só abria a boca para dizer quem era. O resto, deixava com o “mito”. O menino é péssimo na oratória (e na minha opinião, pior ainda nas ideias).
Em eleição municipal, historicamente, o eleitor preocupa-se menos com pautas ideológicas e mais com problemas da cidade. Igualmente, o peso de um cabo eleitoral é menor. Ainda assim, se Bolsonaro não puder carregar Engler no colo, a situação do moço se complica. Se eu fosse ele, acenderia velas e repetiria todos os dias: “se espirrar, saúde, mito”.