Dois dias depois de Chiquinho Brazão ser preso, a CCJ da Câmara discutiu se mantinha ou não o ainda deputado na cadeia.
Naquele momento a estratégia bolsonarista era claríssima: “na volta a gente compra”, ou seja, deixar o assunto esfriar.
Gilson Marques (Novo-SC), Fausto Pinato (PP-SP) e Roberto Duarte (Republicanos-AC) pediram vista, adiando a discussão por 15 dias – uma eternidade em tempos de redes sociais.
Pois bem. Com a discussão retomada em 10 de abril, um dos argumentos dos bolsonaristas na CCJ passou a ser deixar o caso para o Conselho de Ética – onde o processo contra Brazão nem tinha relator ainda.
“Com certeza o deputado irá para o Conselho de Ética”, disse o bolsonarista José Medeiros (PL-MT).
A pataquada bolsonarista não convenceu a maioria dos deputados, que confirmaram a prisão de Brazão.
Pois bem! O Conselho de Ética também demorou para achar alguém que assumisse o caso. Os três primeiros sorteados fugiram da relatoria.
A deputada Rosângela Reis (PL-MG), sorteada na segunda lista, também desistiu. A relatoria finalmente foi entregue a Jack Rocha (PT-ES) em 26 de abril – um mês inteiro depois de Chiquinho ser preso, e 16 dias depois de a maioria de seus colegas confirmarem a prisão.
O que fez a defesa de Brazão? Protocolou pedido para afastar Jack Rocha da relatoria. Um dos argumentos foi de que a deputada seria parcial, porque exibiu cartaz com os dizeres “Brazão na prisão!” e ainda pediu velocidade na análise da representação assinada pelo PSOL para cassá-lo.
Mas aí se deram mal.
O presidente do Conselho de Ética, Leur Lomanto Júnior (União-BA), respondeu nesta terça (7) que a manifestação de Jack Rocha “ocorreu quando da votação” sobre a prisão de Brazão, “portanto em momento anterior ao próprio encaminhamento ao Conselho de Ética” da representação para cassar seu mandato.
Jack Rocha, acrescentou Leur, “não tinha sequer conhecimento, ou poderia haver previsto, naquela ocasião, que seria designada Relatora”.
Dito de outra forma: se a bolsonarada não enrolasse tanto no Conselho de Ética, talvez o argumento até poderia colar. Mas certos níveis de malandragem são demais até para o Conselho de Ética da Câmara, que no mandato 2019-2022 cassou uma única deputada. Seu nome era Flordelis.