O modelo que será usado na renovação da concessão de exploração da Ferrovia Centro-Atlântica (FCA) — a maior do Brasil, que conecta sete estados e o Distrito Federal — pode afetar parte das operações da RHI Magnesita, empresa que fica em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), e é líder internacional de produtos, sistemas e serviços refratários.
Isso porque a VLI Multimodal SA, detentora da concessão, tem manifestado interesse em devolver trechos que considera “economicamente desfavoráveis”. Na lista, está a porção de trilhos entre Minas Gerais e a Bahia, indo de Corinto (MG) ao porto de Aratu (BA). O martelo sobre a devolução ainda não foi batido, mas acendeu um alerta na Magnesita, que, por meio desse trecho, transporta sua matéria-prima da cidade baiana de Brumado.
As conversas sobre o tema têm acontecido “entre dentes”, de forma discreta. O Fator acompanhou, in loco, a audiência pública convocada pela Comissão de Transporte, Comunicação e Obras Públicas da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) na última quarta-feira (18) para debater os investimentos que serão feitos com os recursos de renovações antecipadas das concessões ferroviárias.
Participantes da audiência confirmaram que a devolução do trecho Minas-Bahia está em pauta nas negociações entre o Ministério dos Transportes, responsável por conceder a FCA à iniciativa privada, e a VLI. Paralelamente, representantes da Magnesita acionaram a Secretaria de Estado de Infraestrutura e Mobilidade de Minas Gerais (Seinfra), pedindo uma intervenção junto ao governo federal pela manutenção da operação do trecho ferroviário em jogo.
Fontes ligadas ao caso disseram que a empresa até considerou deslocar parte da sua operação para a Bahia; por meio de nota, a empresa negou essa possibilidade.
Governo de Minas se articula pela manutenção do trecho
Em nota, a Magnesita registrou acompanhar “com preocupação” a não renovação da concessão da FCA no trecho entre Corinto e Aratu.
“A multinacional acredita que essa alteração pode afetar a sua operação, tanto regional quanto globalmente. A RHI Magnesita transporta aproximadamente 250 mil toneladas de material por ano nas rotas Brumado-Aratu e Brumado-Contagem”, informou a companhia.
A empresa explicou que, sem o transporte ferroviário para o escoamento da produção de algumas de suas unidades, a opção seria por vias rodoviárias, o que impactaria a agilidade e a disponibilidade de matéria-prima, elevando os custos operacionais e aumentando os riscos à segurança das pessoas envolvidas.
“O meio ambiente também seria afetado, devido ao maior consumo de combustível e ao aumento das emissões de CO2”, emendou a Magnesita.
A Seinfra, por sua vez, reforçou a ideia de manter as operações do trecho.
“O governo de Minas é contrário à devolução do trecho por ser estratégico para o Estado e tem atuado junto ao Ministério dos Transportes e ANTT na manutenção dos projetos de interesse mineiro, quando das repactuações/renovações antecipadas das concessões federais, assim como para que investimentos e recursos federais sejam realizados e destinados ao Estado de Minas Gerais”, lê-se em nota da pasta.
O que dizem os outros envolvidos?
Também acionado, o Ministério dos Transportes confirmou as tratativas com relação ao trecho Minas-Bahia, mas pontuou que “mais informações serão disponibilizadas assim que o processo seguir para audiência pública”.
A VLI, por sua vez, respondeu que o processo de renovação da concessão está em curso nos órgãos reguladores, para definição do seu modelo final.
“O processo já segue as novas diretrizes do governo federal para renovações de concessões ferroviárias e terá seu formato final debatido com a comunidade e todas as partes interessadas, em audiência pública”, indicou a companhia.